Por Antonio
Rodrigues
O trâmite deve ser concluído até novembro de 2022
As ruínas do campo de concentração em Senador Pompeu foram tombadas pelo município em 2019. Agora, reconhecimento deverá vir do Estado
Foto: Camila Lima
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pós seu
tombamento como patrimônio histórico-cultural em nível municipal, o sítio arquitetônico do “campo de
concentração do Patu”, em Senador Pompeu, deve ser reconhecido pela Secretaria
de Cultura do Estado do Ceará (Secult). O trabalho para que isso aconteça se encontra
em fase de instrução processual para ampliação das informações históricas,
arquitetônicas e antropológicas. Todo estudo deve ser concluído até novembro de
2022, segundo a Pasta.
Com 26
mil habitantes, Senador Pompeu é o único município cearense que ainda guarda o
patrimônio arquitetônico da criação de campos de concentração para abrigar os
chamados “retirantes da seca”, pessoas que deixaram suas casas e
cidades para fugir dos efeitos da estiagem.
Estes
campos foram erguidos em dois momentos distintos, em 1915 e 1932, funcionando
como espaços de aprisionamento espalhados estrategicamente nas rotas de
migração, evitando que essa população chegasse a Fortaleza, em busca de
auxílio. Ao todo, foram oito campos, sendo sete na seca de 1932.
Além de
Senador Pompeu, que chegou a abrigar cerca de 16 mil pessoas, a experiência se
repetiria em cidades como Crato, Quixeramobim, Cariús, Ipu e Fortaleza. Todos
eles funcionavam como acampamentos provisórios e que foram desfeitos logo após
a desocupação. “Foi colocado fogo nas barracas, fichas e roupas. Tudo para os
registros desaparecem”, conta o advogado e pesquisador Valdecy
Alves.
A exceção foi Senador Pompeu, onde foram aproveitadas as instalações de alvenaria dos prédios abandonados pelas empresas inglesas responsáveis por construir o Açude do Patu, a partir de 1919, ainda na gestão do presidente Epitácio Pessoa. Sua utilização, na visão de Valciney, foi um erro do governo estadual, pois não conseguiu desaparecer com os vestígios do campo, como aconteceu em outras cidades. “São 12 grandes prédios e alguns bem preservados”, completa.
Legenda: Para o campo de concentração em Senador Pompeu foram aproveitadas as instalações de alvenaria dos prédios abandonados pelas empresas inglesas responsáveis por construir o Açude do Patu
Foto: Camila Lima
Além da estrutura
de 12 casarões, o complexo conta com a Vila Operária e as três casas de
pólvora, utilizadas para receber as pessoas. “O campo é de interesse estadual e
nacional. O espaço tem força do ponto de vista político e educativo”, defende o
advogado.
O tombamento, na sua avaliação, também ajuda a preservar um dos momentos mais delicados da história cearense. Documentos levantados por ele, estimam que cerca de 70 mil pessoas foram abrigadas nos campos, se alimentando de uma ração diária para cada família e ainda empregadas em trabalhos análogos à escravidão. “A mortandade, chegava a 20% das pessoas”, lembra Valdecy.
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