Das seis pessoas que serão indiciadas pelas mortes, três foram executadas - a polícia acredita em queima de arquivo. Essas execuções, no entanto, ainda precisam ser comprovadas pela polícia.
Por Henrique Coelho, g1 Rio
A Polícia Civil do Rio afirmou nesta quinta-feira (9) que chega a seis o número de pessoas que serão indiciadas pela morte dos três meninos com idades entre 9 e 12 anos que desapareceram em dezembro de 2020 em Belford Roxo, na Baixada Fluminense.
Cinco dos principais responsáveis pelas mortes respondem por homicídio, mas as informações de inteligência da polícia apontam que três deles foram executados - a principal hipótese é de queima de arquivo. Como essas mortes ainda precisam ser comprovadas, eles serão indiciados.
Uma operação foi feita nesta quinta para encerrar o inquérito. De acordo com as investigações, os meninos foram "condenados" por um suposto roubo de passarinhos pelo tribunal do tráfico da Favela Castelar. Os três meninos, então, passaram por uma sessão de tortura tão violenta que um deles morreu em decorrência da surra. Os outros dois acabaram executados.
Lucas Matheus, Alexandre da Silva e Fernando Henrique tinham, respectivamente, 9, 11 e 12 anos na época que desapareceram.
Quem são os seis indiciados por participação nas mortes:
1 - Edgar Alves de Andrade, o Doca, um dos chefes do Comando Vermelho (foragido) - Um dos chefes do Comando Vermelho no Complexo da Penha, Doca foi implicado no crime após outro traficante, Stala ter dito que foi autorizado por ele e o traficante Piranha a matar as crianças. "Temos uma testemunha que presencia o Stala dizer que mataram a criança em razão do roubo do passarinho. Stala foi perguntado se foi autorizado, e ele disse que Doca e Piranha autorizaram o crime", explicou o o delegado Uriel Alcantara, titular da DHBF.
2 - Ana Paula da Rosa Costa, a Tia Paula (morta), outra liderança do tráfico local - Segundo testemunhas, teria convocado o motorista do carro que levou os corpos dos meninos para ser jogado em um rio da região. Segundo a polícia, Tia Paula e Stala estavam envolvidos no momento que as crianças foram agredidas e torturadas até uma delas morrer.
3 - Willer Castro da Silva, o Stala, gerente do tráfico do Castelar (morto)- sobrinho do homem que teve os passarinhos roubados, atuava como gerente-geral do tráfico na comunidade do Castelar. Tinha 10 anotações criminais e 3 mandados de prisão pendentes. Ainda segundo a polícia, foi morto a mando de Wilton Carlos Quintanilha, o Abelha. A execução ocorreu provavelmente no dia 25 de agosto ou próximo a esta data. Segundo a polícia, Stala está envolvido com o momento da sessão de tortura das crianças.
4 -José Carlos Prazeres da Silva, o Piranha (morto)- Segundo a polícia, a investigação comprova como Piranha influenciava e determinava os crimes que eram cometidos no Castelar. Foi executado possivelmente no dia 9 de outubro, mais de um mês após perder a liderança do tráfico em algumas comunidades, após decisão da cúpula da facção.
5 - Nome não revelado (preso)
6 - Nome não revelado - Responde em liberdade
Depoimentos
O g1 apurou que dois depoimentos foram fundamentais para esclarecer o caso dos meninos de Belford Roxo.
A primeira testemunha informou que estava em um bar da comunidade quando duas motos se aproximaram. Na garupa de uma delas estaria uma das gerentes do tráfico local, Ana Paula da Rosa Costa, a Tia Paula.
De acordo com um desses relatos, Tia Paula perguntou se alguém sabia dirigir. A testemunha se ofereceu e foi levada na moto até um carro. Nesse veículo estariam os corpos dos meninos.
Ainda segundo o depoimento, o informante guiou até um rio próximo da favela, onde os cadáveres foram jogados.
Mortes e desaparecimentos
A situação mudou com a liberdade do traficante Wilton Carlos Rabelo Quintanilha, vulgo “Abelha”. Segundo as investigações, houve uma ruptura na estrutura do tráfico do Castelar por ordem da cúpula do Comando Vermelho.
O traficante “Stala” foi chamado para uma reunião na Vila Cruzeiro, no complexo da Penha e executado por Edgar Alves de Andrade, o “Doca”. “Piranha” perdeu as comunidades que chefiava, “Tia Paula” também foi executada.
Teriam sido executados, a mando de Abelha, Wagner Costa Teixeira, vulgo “Guil”, irmão de Tia Paula, e Leandro Alves de Oliveira, vulgo “Farol”. No dia 5 de outubro foi encontrado em Belford Roxo, fora da comunidade Castelar, um veículo e um corpo carbonizado, que seria de "Farol". No dia 7 de novembro, foi encontrado outro veículo e um corpo carbonizado, que seria de "Guil”, irmão de “Tia Paula”.
Posteriormente, o próprio “Piranha”, que era o chefe do tráfico no Castelar, foi executado, em uma série de ações consideradas de “queima de arquivo”.
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