Há mil semanas FATOS E FOTOS/GENTE entrou nas bancas. Juscelino se despedia da presidência da República, depois de nos legar Brasília monumental, avançando 50 anos em 5, proclamando a maioridade econômicas brasileira, instalando grandes indústrias de base, abrindo escolas, rasgando estradas, construindo gigantescas hidrelétricas que nos fizeram dar o salto maior no progresso.
Com explosão do consumismo no mercado brasileiro provocada por JK, o Brasil mudou muito ao longo dessas mil semanas. Quais eram, então, nossos hábitos, usos e costumes? O que mudou e como mudou? Qual será nosso comportamento amanhã? O que estávamos comprando há mil semanas, o que temos para comprar hoje e o que teremos para comprar amanhã? O que a indústria está produzindo para um mercado ávido de consumo, mas extremamente exigente em termos de qualidade e opções? Qual o enfoque mercadológico de hoje, comparado com o de há mil semanas?
Em 1961, o Diner’s trabalhava sem concorrentes. Os bancos ainda não exploravam cartões de créditos nem cadernetas de poupanças. Poucos serviços ofereciam, além de empréstimos, depósitos, cobranças e descontos. Depois apareceram com uma variedade de produtos, a partir dos cheques de viagem e dos cheques presentes.
Eram os anos 60, tempos de biquíni que ainda não era tão biquinininho, mas certamente já sonhava com a tanga. O índio queria apito no Baile de Gala do Municipal, Kim Novak também.
Filas extensas aconteciam nas bilheterias dos cinemas para ver Spartacus, com Kirk Douglas, Laurence Olivier, Charles Laughton, Peter Ustinov, Tony Curtis e Jonh Gabin, mais Elizabeth Taylor, que é, hoje – como se dizia de Greta Garbo, por exemplo, na época -, uma coroa das mais enxutas e desejáveis.
Aliás, nove entre 10 estrelas do cinema usavam Lever – entre elas, Piper Laurie. Mas com sabonete Solis heveria “algo de novo em você”. Avon era “para toda a família”. Eau de Toilette era Christian Dior, Arden, for men, Pantene, “para os cabelos, um produto realmente científico”.
Entretanto, só com a Curl Control da Max Factor os cabelos da gente experimentavam “os efeitos de uma permanente”. Concordava-se em que pente Flamengo era “pra cabeça”. Eram tempos em que a gíria que incomodava os puristas da língua era “caramba”. Enquanto os cabelos ganhavam vida nova “com a primeira tintura-creme”, Koleston, da Wella.
Gessy, segundo os dentista do anúncio, protegia “mais o dia inteiro” – e Gessy era toda da Marta Rocha, de celébres duas polegadas a mais no bumbum. Mas, “ah, que refrescante sensação de bem-estar, na espuma protetora de Kolynos!”. Guerra já era guerra. Tanto que a nova pasta Lever S. R, era “refrescante de tinir”.
Sozinha, Dermocaína dava à pele “uma eterna juventude”. Tan-O-Tan, do Instituto Quimioterápico, bronzeava sem sol. A moça do anúncio gostava que “os outros” também usassem Mum. E, certamente, adorava ver chegar Baby Pignatary com seu novo love, a Princesa Ira, para, de pronto, se comprometer com o Kart, que estava em voga e anunciava horrores.
Carrão era o Simca Chambord, mas apreciava-se o Dauphine e a Vemaguete. O candango era “o mais poderoso... e, qualquer terreno”, mesmo com essas reticências do anúncio. Não havia “caminhão mais confortável que o Ford”, cuja nova cabine tinha “quase dois metros de visibilidade”. Pick-up Jeep da Willys Overland era “o único veículo de sua categoria com tração nas quatro rodas”. Mercedes-Benz era “a sua boa estrela em qualquer estrada”. A Rural, “especal para o Brasil, inédita em todo mundo”. Chevrolet , “mais econômico”. E o Volkswagen já estava “correndo nas estradas do Brasil”.
É mais fazia gosto pedalar com “Monark através do Brasil”, com seus pneus Pirelli, conforme dizia o reclame que forçava a Goodyear a contra-atacar para dizer que seus pneus foram “provados 24 horas por dia em todo o tipo de estrada”. Enquanto, na briga pela conquista do mercado, ainda não ameaçado pelos petrodólares, convidava-se a rapaziada a mudar “também para Atlantic”. Mas dizia-se que “você pode confiar na Shell”. E até se pedia para ver o que a Esso tinha: faixa dourada.
Legal. Os homens que dirigiam o mundo usavam relógios Rolex, embora para quem exigisse perfeição, o superautomático Constelation fosse o fino. Assim como Minister, “o seu cigarro”. King size, Filtro de luxo.
Seager’s Gin, gelo, limão eágua tônica, era “o máximo em drink refrescante”. Dubar, “uma delícia para cada paladar”. Gin Gordon’s, “exigido sempre pelos que sabem beber”. Vodka Eritox, “o estímulo certo”, o “drink exato para um prazer reconfortante que mantém a sua alegria”. Brahma Chopp, “a alegria da vida”.
Coca-Cola se apresentava ao mercado de consumo como “símbolo do bom gosto”, pois fazia um bem imenso, “isso é que é”. Era “a ´pausa que refresca”, t]ap “deliciosa com as manhãs banahdas de sol...refrescante como a brisa que vem do mar”. E, “para o bom entendedor, uma palavra” bastava: Precioso, “o vinho”. Embora, só houvesse “mais alegria na festa da família com a Família Mosele”.
Manjaram? Estimulava-se a ressaca, pois se conseguia alívio mais rápido para azia e má digestão com Sonrisal. “O único que contém dois antiácidos”. Embora houvesse quem esperasse “a hora gostosa do bom Leite Ninho”. Ou do Nescafé, que era “o café feito na xícara”. Ou dos quitutes que ficavam “mais gostosos” porque você via quando estavam “no ponto”, por obra e graça de Pyrex, da Vidraria Santa Marina.
Falava-se do Serigy, que dava “inconfundível e diferente toque de paladar”. Do “nutritivo e gostoso amendocrem Saúde” que por sugestão da Anderson Clayton, propiciava “maravilhosas receitas de verão”. Dos salames Serrano, que tinham “um pouco da Itália dentro de si”. Do Millo, que só “os meninos com saúde de ferro bebiam”. Da Vitamina com Aveia Quaker, que promovia “uma união feliz”. Do Nescau, frio ou quente, que era “gostoso e sadio”. Da Gemada em Pó Kibon, qu dava “mais energia”. Da Farinha Láctea Nestlê, que fazia a criança exultar: “Mamãe, raspei o prato!”.
Também se falava – e muito – do Presunto Swift, “o rei da festa”. Do Rigatoni recheado, que só era bom com Piraquê. Do bolo feito com açúcar União, que era “de lamber os beiços”. Do Chiclete, que dava “um sorriso sedutor” a quem “vai ver seu amor”. Mas as moças ficavam “encantadas com as novas receitas Maisena”. E faziam “maravilhas com Leite Moça”. Ou com Fermento Royal, apropriado “para a grande festa do ano”.
Tempos quentes aqui e acolá. O baile de Quitandinha era uma glória. Orson Welles. Até São Paulo jpa brincava sem parar. E esquentava nos salões. Sim, mas o ventilador Super-Arno estava aí mesmo “para você esquecer que o calor existe”, embora a GE já assegurasse que a “vida melhor, só com o novo condicionar de ar Thinline”.
Consul significava “a última palavra em refrigerador”, na “nova linha Dimensional”. A gente podia contar com Philips “para viver melhor”. E com General Eletric, que anunciava “visão nova em televião”, P/B.
E “música com profundidade”? Só com estereolas Siemens. Aí, “seu prazer” seia “completo”. Principalmente se comprasse Westinghouse, “a máquina de lavar mais procurada no mundo”.
A tradiciona qualidade Wolff tinha “formas modernas e arrojadas”. Porcelanas Real era “o prazer de viver e conviver”. Admiral, “a beleza colorida”, Colchões Epeda, “uma vida inteira de bem-estar”. E era “mais econômica a vida com a bateria Walita”. O Conjunto Rochedo Aristocrata era apropriado “para cozinhar limpo e servir bonito”. Era um orgulho possuir Sheaffer’s, a “única caneta com pena cilíndrica”, que permitia assinar cheques ou apólices da Sul-América, já então “firme como o Pão de Açúçar”. Mas Compactor era encontrada “em todas as boas casas do ramo”.
Certo. Há mil semanas passadas, Bendax era “a única linha completa de máquinas de lavar automática fabricadas no Brasil”. A propósito, “a blusa lavada com Lux” parecia mais nova. Minerva em pó prometia “roupa limpa, bem limpa”. E Rinso já lavava ‘mais branco”. E Detefin propiciava “a gostosa sensação de viver em casa limpa”.
Eram tempos dos carnês, dos Desfiles Bangu, dos concurso de miss com pernocas de fora, de Terezinha Morango com os maiôs Catalina. Os supermercados apareciam – e, com eles, novas técnicas de vendas, num marketing brasileiro ainda incipiente. As lanchonetes aconteciam, em substituição ao café-sentado, hoje uma raridade. As butiques substituíam os armarinhos e tudo ficava “azul com Gilette Azul”.
Então, bastava “ser um rapaz direito para ter crédito na Exposição”. A Sears prometia “satisfação garantida ou seu dinheiro de volta”. O Príncipe vestia “hoje o homem de amanhã”. E “o Facilitário da Barbosa Freitas” facilitava tudo. E a Camisaria Progresso advertia que não se deixasse “para amanhã o que se pode fazer hoje’.
Bem verdade que, quando se pensava em roupa feita, procurava-se Tran-Chan na Esplanada. Segadaes a prazo resolvia seu caso, gente. Ducal já era “o primeiro nome de roupas”. E Rener era “ a boa roupa”. Epson “a camisa modelo”. Bromil “o amigo do peito”.Cafiaspirina não atacava o coração, Melhoral, Melhoral, “é melhor e não faz mal”. E as Pílulas Ross? “Pequeninas, mas resolvem”, “fazem bem ao fígado de todos nós”.
Enquanto isso, o Alvorada de iluminava todo para Jânio Quadros, em cuja honra a Vulcan lançava a Toalha Presidente, “composta de motivos ilustrados com sua plataforma de governo”. Jânio estava com tudo, mas, para um homem que tinha tudo, “um Samello nunca é demais”. E os Calçados Terra, sola de couro, costurados com fio de seda pura, rechaçavam a insinuação, oferencendo “imediata sensação de conforto” – e, além disso, eram “absolutament indeformáveis”. E “tão resistentes quanto as meias Lupo, puxa”.
E a Rhodia aproveitava a oportunosa enchança, conforme se dizia então, para oferecer a nova fórmula da moda primavera/verão: vestido em Rhodyanil, linhas românticas, “na saia ampla, na cintura de pilão”, decote nas costas, mangas prolongadas que formavam duas echarpes. Ah, o chapéu era uma criação de Mme. Rose, “evidenciando o grande medalhão de café da Casa Sloper”.
Eram as linhas francesa para a nova temporada. Que não contava com o comportamento da então chamada Geração Mustafá que chegava, levemente transviada, sob inspiração da famosa boate Black Horse. Com sapato salto sete-e-meio. E usando sutiã De Millus, aquele que “ergue, prende, realça”. E ousando aparecer com “linha completa de saídas de praia e estola, felpudas ou aveludadas, cortes modernos, lindas cores e belos padrões. Da Artex.
Mas Nycron era “o único tecido para saias plissadas de vinco permanente”. Os fios Helanca eram “as mais famosas marcas de maiôs no Brasil”.
Os tecidos Domus – popelinita, gabarlene, bobidine, centilene e rivolene – eram fabridos com “legítimos algodão seridó”. O Tropical Maracanã era vitalizado. Braspérola, linho puro, “indeformável durante vários anos de uso”, era saudável e não provocava alergia. Mais: “em qualquer ocasião, o uso do puro linho ideinficava as pessoas de gosto apurado”.
E surgiam as elásticas e macias cuecas Hering, jogando para escanteio as cuecas samba-canção. Contudo, a nova linha Ban-Lon tinha a vantagem de não descorar, não amarrotar, não alargar nem deformar, “não levantar penugens com o uso”, para tranquilidade das moçoilas casadoiras e caprichosas. Eram “malhas facílimas de lavar”, pois “secam num instante”, pois sim.
Já com os Tecidos Votorantim, confeccionados com nylon-rilsan impermeabilizado, a garota passava “protegida pela graça”. E a roupa Santista convidava ao movimento e ao “conforto do batente”. Mas astros da tela, como John Herbert e Celso Faria, preferiram McGregor, vestindo esportivos Devil’s Cave e Fain. Até que aparecessem mensagens preconizando que “todo mundo é gente moça quando calça é Far-West”.
Pouco depous, o jeans tomava conta do mercado. E virou mania. Até hoje estamos conjungando o verbo jeans.
Texto de Genilson Gonzaga
Blog do Paixão