Quanto vale o show?
Por José Alberto Andrade
Não é fácil recusar 60 milhões de reais. Mas os gremistas desconfiam que manter Ronaldinho pode render mais
Era um jogo aberto de sábado, desses que o torcedor lembra no final do dia. “O time jogou hoje? Quanto será que foi? Terceira rodada do Brasileiro, Vitória x Grêmio, em Salvador. Valia apenas 3 dos 63 pontos em disputa na primeira fase do campeonato. Na manhã do domingo, porém, uma multidão esperava no aeroporto de Porto Alegre o Grêmio que vencera o adversário baiano por 2 x 0. A explicação para esse estranho fenônemo tem nome, sobrenome e apelido. Ronaldo Assis, o Ronaldinho, é o motivo pelo qual a torcida se comportou como se o time tivesse conquistado a sua terceira Libertadores. Tudo, porque, na partida contra o Vitória, o garoto quase marcou um gol de placa, fez um de penâlti, deu passe para o segundo, driblou, encantou até o torcedor adversário.
Fatos como esse levaram o Grêmio a inverter a lógica financeira. Quando se tem um craque em alta no Brasil, é hora de vendê-lo. Ronaldinho pintou e bordou com a camisa da Seleção, o mundo viu as suas estripulias. Empresários oferecem 30 milhões de dólares (60 milhoes de reais) para colocar o jogador em um clube italiano não revelado. Então está na hora de passar o moleque nos cobres, certo? Talvez não.
O Grêmio ainda não conseguiu botar a conta no papel, mas está dsconfiado que é mais negócio manter Ronaldinho e fazer com ele produza uma receita igual ou maior do que o valor de seu passe. Afinal, com um craque na equipe, crescem as rendas e o clube pode retornar à trilha das conquistas internacionais, multiplicando as cotas para amistosos. O projeto ainda dá os primeiros passos e o próprio Grêmio é cauteloso para relacionar o sucesso das recentes promoções com o novo craque.
Não há, no entanto, como negar que inciativas foram influenciada pelo fenônemo Ronaldinho. No dia 23 de agosto, foram leiloados dosi camarotes no Estádio Olímpico. Ronaldinho, como atração do leilão, esteve presente durante toda a venda, enquanto seus companheiros se recolheram à concentração. Por um período de um ano, os dois camarotes foram vendidos por 66 000 reais. E o Grêmio ainda tem mais quatro camarotes para serem oferecidos após algum show de Ronaldinho no Brasileirão.
Após o Campeonato Gaúcho, uma campanha de sócios foi colocada na rua. Até agora 10 000 pessoas já aderiram, pagando uma mensalidade de 20 reais cada. São mais 200 000 por mês. O Grêmio tem um plano de sorteios ao estilo Raspadinha. Recebia líquido por mês aproximadamente 200 000 reais. Lançou então a série Ronaldinho, há um mês. Com a foto do craque nas cartelas (cada uma a um real), a venda cresceu mais de 40% e a arrecadação já está na casa dos 300 000.
A TV já alterou o calendário gremista para transmitir mais jogos no Brasileiro. Cada partida vale para o clube um “plus” de 180 000 reais. Assim foi contra o Vitória e o Juventude. Outros jogos devem ser alterados. As vendas de camisas cresceram, embora não haja um cálculo de faturamento. O que já se tem é a necessidade da fornecedora colocar no mercado mais camisas 10 ou 21. (números de Ronaldinho na Seleção, na Copa América, e no Grêmio, na Mercosul). Por enquanto, a camisa é a única identificação de um produto relacionado ao jogador. Uma linha Ronaldinho ainda está em fase de planejamento.
A imagem dele, exceto em fotos, só pode ser vista através de uma enorme bandeira que não está a venda, da torcida Garra Tricolor. O comparecimento ao estádio cresceu. As comparações com o ano passado são impróprias pois no início do Brasileiro de 1998 o Grêmio passou por uma fase muito difícil, ao contrário de agora, quando a explosão de Ronaldinho coincide com um time campeão regional e que teve bom início nacional.
Blog do Paixão