As fotos registram tudo um pouco do passado
Aniversário com fanta e coca de garrafas. O bolo caseiro, a cerveja brahma, o vermute mazzile, a vodca Orloff. A vela em cima de bolo confeccionado pela matriarca e com cobertura de confeitos coloridos...
As paredes repletas de fotos dos clubes de futebol (não importa de qual), coladas com grude caseiro.
O liquidificador envolto em uma capa decorada. Os copos de vidro americano e de plástico decorados que depois eram lavados e reutilizados.
Os vasilhames para guardar açúcar, café, sal, farinha
O suporte para os “panos de pratos”
A geladeira repleta de adesivo com ímã
O tripé de ferro para guardar panelas de alumínios, todas brilhando como espelho
Na segunda foto em cinza, provavelmente dos anos 70 (a segunda foto é um registro já dos anos 80) já podemos perceber que mesmo sendo aniversário de criança, a ingenuidade e a bondade não descartava as bebidas para adultos como a Run Montilla com o velho Pirata com o papagaio no ombro, a garrafa de Pitu (aguardente de cana de açúcar), o conhaque Jurubeba (risos).
A vida simples, pobre, cheia de dificuldades financeiras nos dava ao luxo de ainda comemorar aniversário nem que fosse do filho mais novo ou que todos na família achasse necessário. Sem birra de ninguém.
Os anos 80 nós vivemos tudo isso, porque antes disso, a vida era ainda mais difícil e não dos dava ao luxo de comemorar nada e, ainda se guarda os resquícios de uma infância cheia de carência, mas que nesses momentos de encontro em família, parecia que todos os problemas eram substituídos por aquela singularidade singela.
Poderíamos até comparar com as festas sofisticadas da elite em que a mesa era rodeada só por filhos de pessoas da alta sociedade araripinense, e de vez em quando aparecia aquela gente simples figurando apenas como a ama que cuidava dos filhos dos “nobres”.
Sempre foi assim, e assim sempre será. Porque seguimos o curso da segregação de classes e não podemos de maneira alguma ir de encontro a esse processo, mesmo com mudanças pequenas que conseguiram atrelar novos paradoxos de convivência e já notamos uma evolução nessas relações sociais. Sem nenhum senso ou grau de inferioridade. Longe de nós. Para ficar bem cristalino.
Os registros foram apenas para contextualizar a história e fazer um paralelo principalmente daquela época, em que a sociedade era separada por um fosso social enorme.
Blog do Paixão