Dalva: Uma vida feita de música
Os mitos são eternos
Reportagem: Ilvaneri Penteado
Quando o rádio era a grande vitrina dos nossos ídolos, a prova de popularidade era ostentar um título ou cognome que identificasse imediatamente o artista; como por exemplo, Luís Gonzaga, Rei do Baião; ou Carmem Miranda, a Pequena Notável e assim por diante. Mas para alcançar esse grau de sucesso era fundamental ter boa e inconfundível voz. Porque nesta era pré-televisa a imagem era apenas subsídio. A voz era o artista, seu instrumento e arte. Logo entre tantos títulos um era soberano, o Rei da Voz, por merecimento, só uma: Dalva de Oliveira.
Ela não foi apenas a cantora de voz cristalina, mas principalmente a criadora de um estilo particularíssimo, passional, apaixonado e inimitável. Dalva de Oliveira sintetizava nas suas canções e na emoção com que as cantava, todas as lágrimas dos que vivem pelo e para o coração, como ela própria sempre viveu. Porque Dalva sempre cantou a vida.
Dois anos antes da morte de Dalva de Oliveira, Ângela Maria numa entrevista (ao Pasquim) respondeu assim, sobre quem era a melhor cantora do país: “Quando comecei era vidrada pela Dalva. Acho que até hoje o Brasil não teve uma cantora como Dalva de Oliveira. Pegar um microfone e cantar, todo mundo faz, mas é preciso botar a voz para fora. Mas também não é gritar, é botar a voz para fora interpretando, saber dizer aquilo que está cantando. A Dalva faz isso... Cantora mesmo eu acho que depois da Dalva não surge mais nenhuma.”
Uma estrela
Paulo Gracindo durante muitos anos comandou um programa de auditório de enorme audiência. Hoje ele recorda que Dalva de Oliveira era uma espécie de estrela de luz própria, não só pelo estilo, mas também pela posição que ocupava entre os exaltados fãs-clubes. “Dalva era uma cantora ímpar, sempre acima das disputas dos fãs. Os fãs-clubes de todas as outras cantoras eram seus fãs. Ela estava acim das disputas. Seu repertório era sofrido, passional, mas como colega era era uma criatura muito alegre, comunicativa, bem disposta, sem banca de vedete, muito simples, muito povo.”
Carmem Costa foi amiga de Dalva de Oliveira durante mais de 30 anos. Para ela, Dalva é um fenômeno que talvez jamais se repita na música brasileira: “Cantando ou falando ela era inconfundível. Ela nasceu musical da cabeça aos pés. Criou escola, foi um marco. Tinha a voz de flauta doce. Parecia até que ela tinha garganta e ouro, uma garganta postiça de tão perfeita. Foi um dos meus ídolos, jamais a esqueci. Foi a única que gravou em dueto com Chico Alves e a única que ele achou que poderia ser a rainha da voz. Eu a conheci em 1939, quando ela era a cantora de confiança de Francisco Alves; nessa época ela era do Trio de Ouro. Dalva também foi atriz no começo de sua carreira, fazia no rádio tipos famosos, como Zefinha. Fomos muitos amigas, ambas sem experiência da vida, sofremos muito. Eu fui até babá de seus filhos, fiquei com eles, muitas vezes, para ela cantar. Como pessoa, era alegre, adorava cozinhar, gostava de morar em casas e reunir o pessoal”.
Blog do Paixão