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A Saga de Gonzagão: 50 anos de chão – Parte 16 – Por Ivan Cavalcanti


Um homem, nordestino, vindo ao mundo juntinho à nascente do riacho Brígida, sopé da Serra do Araripe, nas terras de Exu, sertão de Pernambuco, filho de Severino Januário, sanfoneiro e consertador de sanfonas, só podia mesmo – também sanfona às mãos e nos braços e ouvidos – resultar no cabra danado de bom para esquentar qualquer forró, terreiro ao ar livre ou galpão, ao som mais quente ainda, só por exemplo, dos calangos, mazurcas, polcas, xotes, chorões e chorinhos, xaxados, o eterno baião, aquele baião mesmo, inspirado no dedilhar das modas de viola de cantadores e repentistas (o baiano) e ganhando ritmo acelerado, mais ou menos, para canto e muita dança enganchada.

Por isso tudo, e mais, mestre Luiz Gonzaga se veste à maneira do cangaceiro e do vaqueiro, ele que, em menino, tivera uma paixão e uma curiosidade imensas por Lampião e seu bando.

Assim, é só examinar a trajetória de Luiz Gonzaga, sua vida de muito sucesso, e muito amargor – desde os tempos de meninos, a fuga de casa aos 17 anos para ganhar mundo, ao serviço prestado, nove anos, ao Exército (corneteiro n.º 122), andanças em Minas Gerais e Rio de Janeiro nos bares e puteiros do Mangue, cabarés da Lapa, sanfoneiro de rua. Até consagrar-se, em discos, shows e rádio, nas décadas de quarenta e parte da de cinquenta.

Suas ascensões (e quedas) têm muito a ver com parte da história de nossa Música Popular, enquanto manifestação artística do povo em plena tensão com os quadros sócio-políticos (econômicos) do país. Final de década de cinquenta e início dos sessenta, o apogeu do Rock and Roll e da Bossa Nova nas grandes cidades (particularmente no Rio), as jovens-guardas (!?) etc., fazem que seu trabalho caia no esquecimento e o Mestre conheça dias difíceis. Nem os tais festivais, já agora no cinzento período da Ditadura, após 64, conseguiram reabilitar Luiz Gonzaga, que foi até vetado no Festival Internacional da Canção (1966. Rio).

Aos poucos, porém, vai Gonzagão recuperando a chance de atuar e se reconhecido, em seu próprio país, até que, aproximando-se a década de oitenta, grava inúmeras parcerias suas com Humberto Teixeira ou Zé Dantas, e nos anos oitenta consegue vender quase 300 mil cópias dos últimos discos que gravou. Neste ínterim, já acontecera a célebre gravação, coletânea (1978), proporcionada pelo saudoso Marcos Pereira, arranjos (e condução da Orquesta Sinfônica) pelo Maestro Guerra Peixe.

Assim, com a consolidação, reconhecimento e memória da autêntica música popular de nosso país, o que há de acontecer de fato, à medida em que também se consolidem nossas identificações cultural e social, o Rei do Baião há de reinar para sempre.

Por enquanto, já nos basta ter convivido com este Mestre, gênio e gente do nosso povo.

Ivan Cavalcanti Proença

Fragmento do Livro: 50 anos de chão
De João Máximo

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