Até hoje a música de Luiz Gonzaga permanece viva, 12 anos após a sua morte. Um exemplo: acaba de ser lançado nacionalmente um CD inédito com registro do show realizado no distante 24 de março de 1972, no Teatro Tereza Rachel, no Rio de Janeiro.
O espetáculo teve roteiro de José Carlos Capinam e Jorge Salomão (que também fez a direção) e foi promovido por Gilberto Gil e Caetano Veloso, recém-chegado do exílio em Londres. Do Show foram aproveitadas 15 faixas. Entre elas, Derramaro o Gai, Óia Eu Aqui de Novo e Lorota Boa.
Além de Volta Pra Curtir e de inúmeros álbuns dedicados a ele que estão sendo lançado neste ciclo junino, Gonzaga também recebeu a reverência do cantor Gilberto Gil no CD São João Vivo! (Warner). Baseado na trilha sonora do filme Eu Tu Eles (de Andrucha Waddington), o disco traz, fora as músicas de autoria do baiano, clássicos do pernambucano: Olho Pro Céu (Gonzaga/José Fernandes), Óia Eu Aqui de Novo (Antônio Barros), Asa Branca (Gonzaga/Humberto Teixeira). Estas composições também estão no songbook apenas com músicas de Gonzaga que a editora Irmãos Vitale está lançando. São cifras (para violão e outros instrumentos) de mais de trinta standards do gênero sertanejo.
Essa movimentação atual vem comprovar a força da permanência do nome de Luiz Gonzaga eleito o Pernambucano do Século, em votação popular promovida pela Rede Globo de Televisão, em dezembro passado. Outro dado importante: os artistas que fazem música nordestina contemporânea, em suas diversas vertentes, invariavelmente citam o músico como sua maior referência.
O cantor Silvério, ex-vocalista do Cascabulho, moderno grupo de forró do Recife, também é um dos influenciados pela obra do Velho Luz. “Minha mãe era professora de acordeom. Ela conheceu Luiz Gonzaga. Vovô a levava para todos os programas de rádio. Minha avó era suplente de cantora. Quando alguma faltava, lá estava ela. Numa dessas idas, minha mãe o viu tocando o instrumento e se interessou por aprender a tocar. Mamãe tinha a coleção de discos inteira”. Um desses LPs, em particular, despertou atenção do filho. “Gostava muito de São João no Araripe. Tanto que quando participei do disco Baião de Viramundo (Candeiro Records) cantei a música É Romeiro Só.
Quando Silvério pretendeu ingressar na carreira artística, pensou em trilhar a sonoridade de Luiz Gonzaga. Mas, segundo confessa, o forrozeiro já tinha muita visibilidade. “Optei, então por Jackson do Pandeiro”, afirma. “Ainda no Cascabulho, tive a intenção de fazer uma espécie de acústica com o repertório de Gonzagão, com arranjos para cordas e percussão, bandolim, cavaquinho. Queria pegar o trabalho mais antigo, as mazurcas, polcas, ganchos europeus”. De acordo com o cantor, essa ideia ainda está engavetada”. Ele apenas está deixando passar o período de divulgação do seu primeiro disco solo, “Bate o Mancá” (Natasha Records/BMG), somente com músicas de Jacinto Silva, continuador de Jackson do Pandeiro, recentemente falecido.
Outro artista que não esconde sua reverência é o compositor Alcymar Monteiro: “Nasci ouvindo Luiz Gonzaga na região do Cariri. Na minha adolescência, ouvia de tudo um pouco, Elvis Presley, Bill Haley, Little Richard e o Rei do Baião, passando por Jackson do Pandeiro”, recorda. Anos depois, o cantor foi conhecer o sanfoneiro no antigo Cavalo Dourado, danceteria do Recife em 1985. ‘Entreguei meu disco Ave de Arribação. Ele prometeu que ia ouvir. Depois marcou um encontro para nós conversarmos sobre música. Ele disse: “você tem uma voz boa. Como está a sua carreira?’- Eu disse que andava difícil. E ele: ‘eu vou ajudar você’, cantei com ele em dois discos meu. Há também uma gravação inédita de 1987, um dueto que não saiu até hoje”, revela Alcymar. Além de profissional, a ligação com o mestre também foi emocional. “Ele virou o padrinho do meu filho, que hoje está com 14 anos. Tivemos uma amizade muito boa. Ele dizia: “Você é um menino que estou gostando muito’. Mais tarde, o exuense disse para Alcymar que tinha outra surpresa para ele: o apresentou à cantora Marinês.
“Foi com ela que gravei, Oi, paixão, diz paixão, fala pra mim que me ama, que eu te dou um coração’ (canta). Com ela vendi 300 mil cópias”.
Já com o cantor Maciel Melo conheceu Luiz Gonzaga numa festa promovida por este em Exu. Fui como integrante de uma banda. “Eu tocava teclado e violão. Nesse meu primeiro contato com ele tinha 19 ou 20 anos de idade. Como eu era fã, não fiquei muito à vontade diante dele”, relembra. “Comecei a ouvi-lo quando tinha 8, 9 anos. Era o que se tocava nas rádios”. O forrozeiro lembra que uma das frases que o Rei do Baião falou foi: “Meu filho, quanto mais cedo você começar, melhor”.
Atualmente, inúmeras bandas tocam os mais diversos tipos de música denominadas forró, mas o seguidor por excelência da música e do jeito de Luiz Gonzaga é o mesmo José Domingos de Morais – Dominguinhos.
Por Débora Nascimento / Revista Continente
Blog do Paixão