Rivaldo Barbosa foi a primeira autoridade a receber as famílias
58 Por Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
Família da vereadora Marielle Franco, assassinada no dia 14 de março de 2018, com o então chefe da Polícia Civil, delegado Rivaldo Barbosa, recebe informações sobre o andamento das investigações. Delegado foi preso neste domingo acusado de ser um dos mandantes do crime - Tânia Rêgo/Arquivo Agência Brasil
A viúva de Marielle Franco, Monica Benício, afirmou que depois de seis anos e dez dias de espera, o surgimento do nome do ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa como um dos responsáveis por atrapalhar as investigações sobre o caso foi uma grande surpresa para a família. “Se por um lado, o nome da família Brazão não surpreende tanto, o nome de Rivaldo Barbosa foi, para nós, uma grande surpresa”, disse na sede da Polícia Federal, no Rio.
Na manhã deste domingo (24), a operação Murder Inc. cumpriu três mandados de prisão preventiva e 12 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), todos na cidade do Rio de Janeiro. De acordo com fontes ligadas à investigação, foram presos Domingos Brazão, atual conselheiro do Tribunal de Contas do Rio, Chiquinho Brazão, deputado federal do Rio, e Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio. Rivaldo Barbosa foi preso em casa, em um condomínio no bairro de Jacarepaguá, Rio de Janeiro.
Veja relatório na ÍNTEGRA DA PF DO CASO MARIELLE FRANCO
Visivelmente comovida, Monica Benício disse que o delegado foi a primeira autoridade a receber a família, no dia seguinte ao assassinato. Barbosa teria dito, na ocasião, que a solução do caso seria uma prioridade da Polícia Civil. “E hoje, saber que o homem que nos abraçou, prestando solidariedade, e sorriu, dizendo que o caso teria prioridade, está envolvido nesse mando”.
Para Monica, a Polícia Civil não foi só negligente, mas foi falha. "Chegamos a seis anos de dor, mas procurando força e seguir de pé procurando justiça”.
Na avaliação da viúva da vereadora Marielle, hoje é um dia importante para a democracia, mas é também o início de uma nova luta “porque a gente quer que todos sejam responsabilizados, todos sejam identificados e que seja feita justiça por Marielle e Anderson”.
A cumplicidade de Barbosa no caso foi definida por Monica Benício como uma traição, que só aumenta a coragem pelo esclarecimento do caso. Ela comemorou também a entrada da Polícia Federal no caso, com a mudança do governo. Segundo ela, com a entrada do governo Lula e a priorização da investigação do caso, a esperança de que estão perto da elucidação do caso reacendeu.
A viúva de Anderson Gomes, Agatha Arnaus, afirmou que a prisão dos mandantes indica que a justiça está a caminho. “Depois de seis anos, foi o mais perto a que se chegou. Espero que avance ainda muito mais, porque ainda é pouco”. Para ela, ainda não há uma resposta clara sobre o que motivou o crime. “Faltam muitas respostas”.
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Quem é Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil preso pela PF no caso Marielle Franco
Legenda da foto,
Rivaldo Barbosa, que chefiou a Polícia Civil, em foto de 2018; ele consolou a família de Marielle Franco e agora é acusado de ter atrapalhado as investigações do caso
Author,Wilson Tosta
Role,Do Rio de Janeiro para a BBC News Brasil
O delegado Rivaldo Barbosa, que havia sido nomeado chefe da Polícia Civil um dia antes do do assassinato de Marielle Franco, em 14 de março de 2018, na época consolou a família da vereadora.
Agora, ele é suspeito de ter usado o cargo para proteger os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão e impedir que as investigações chegassem aos dois - hoje apontados pelo inquérito da Polícia Federal como supostos mandantes do crime.
Tanto os irmãos Brazão quanto Rivaldo Barbosa foram detidos preventivamente neste domingo (24/3), na operação da Polícia Federal que busca chegar a quem ordenou a morte da vereadora. Os Brazão negam qualquer participação no caso. A BBC News Brasil ainda não conseguiu contato com a defesa de Barbosa.
Desde 2008, Barbosa é o quarto ex-chefe da corporação a ir para a cadeia.
Graduado em direito pela UniSuam em 1997, Rivaldo Barbosa de Araújo Júnior cursou MBA em Inteligência e Estratégia na Universidade Salgado de Oliveira e é professor de Direito Penal.
Está no serviço público estadual desde 2003. Projetou-se como delegado nos anos 2010, quando foi diretor da Delegacia de Homicídios, de 2012 a 2015. Sua atuação à frente de uma equipe reforçada, nos governos de Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, resultou em aumento na solução de casos de assassinato no Rio.
Antes, Barbosa fora subsecretário de Inteligência da Secretaria de Segurança (Seseg), de 2008 a 2011, além de vice-diretor da Divisão de Fiscalização de Armas e Explosivos (DFAE) e chefe da Assessoria de Planejamento.
Barbosa foi nomeado chefe da Polícia Civil durante a intervenção federal da segurança pública do Rio de Janeiro, decretada pelo então presidente Michel Temer em 2018 após uma explosão de crimes durante o Carnaval.
Durante a primeira fase das investigações do caso Marielle (o delegado deixou a chefia da Polícia Civil no Rio em dezembro de 2018), ele garantiu que haveria empenho na apuração e que o crime não ficaria impune.
O então chefe de Polícia se opôs à federalização das investigações sobre o duplo homicídio. A medida fora pedida pela então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que argumentou que, na esfera estadual, havia risco de contaminação das apurações e obstrução de Justiça.
"A Polícia Civil está trabalhando muito para dar uma resposta", disse Barbosa durante a inauguração da Delegacia de Combate a Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), na Lapa, em 13 de dezembro de 2018.
"Assim como conseguiu no caso da juíza (Patrícia Acioli), que tentaram federalizar, e a Polícia Civil do Rio de Janeiro deu uma resposta; no caso Amarildo, que tentaram federalizar, e a Polícia Civil também deu resposta. E no caso Anderson e Marielle, a Polícia Civil está trabalhando muito para dar uma resposta."
Em 27 de maio de 2020, o pedido foi rejeitado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
'Isso diz muito sobre o Rio de Janeiro'
Legenda da foto,
Rivaldo desembarca de avião da PF em Brasília após ser preso e transferido
Segundo o inquérito da Polícia Federal tornado público neste domingo pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, caberia a Barbosa garantir que a morte de Marielle permanecesse impune.
"Os indícios de autoria imediata que recaem sobre os irmãos Brazão são eloquentes. (...) (Havia) garantia prévia da impunidade junto a organização criminosa instalada na Divisão de Homicídios da Polícia do Rio de Janeiro, comandada por Rivaldo Barbosa", diz um trecho do inquérito.
Na época deputado estadual pelo PSOL, o mesmo partido de Marielle Franco, o hoje presidente da Embratur, Marcelo Freixo, comentou neste domingo a prisão de Barbosa.
"Foi para Rivaldo Barbosa que liguei quando soube do assassinato da Marielle e do Anderson e me dirigia ao local do crime”, declarou Freixo em postagem no X (ex-Twitter).
“Ele era chefe da Polícia Civil e recebeu as famílias no dia seguinte junto comigo. Agora Rivaldo está preso por ter atuado para proteger os mandantes do crime, impedindo que as investigações avançassem. Isso diz muito sobre o Rio de Janeiro".
Freixo não estava sozinho na reação.
“A gente está aí um pouco surpresa", disse à GloboNews a irmã de Marielle, ministra de Igualdade Racial, Anielle Franco, ao comentar as três prisões deste domingo. “A gente está, enfim... É muita coisa que passa na nossa cabeça enquanto família.”
Mariete Silva, mãe de Marielle, seguiu linha semelhante. “A maior surpresa nisso tudo foi o nome do Rivaldo”, disse. “Minha filha confiava nele, no trabalho dele.”
"Foi um homem que falou que era uma questão de honra para ele elucidar esse caso", declarou ela à GloboNews.
Blog do Paixão