Doze nomes, vinculados à instituição, estão na lista obtida através de pesquisas para um livro
Por Betânia Santana / Folha de Pernambuco
Professores, alunos e servidores violados pela ditadura e que serão homenageados pela UPE - Foto: Reprodução do Instagram
Uma reparação histórica. A Universidade de
Pernambuco (UPE) vai diplomar e homenagear nesta segunda-feira
(25) professores, estudantes e servidores perseguidos durante a
ditadura militar no Brasil (1964-1985), quando a instituição ainda se
chamava Fundação de Ensino Superior de Pernambuco (Fesp). A solenidade acontece
a partir das 9h, no Auditório Clélio Lemos da Faculdade de Administração e
Direito da UPE, na Madalena, bairro da Zona Oeste do Recife.
.A iniciativa faz parte da programação que celebra os 59 anos da unidade de ensino e que inclui o lançamento do livro "Universidade de Pernambuco: histórias, espacialidades, memórias e outras narrativas”. A pesquisa, coordenada pelo professor de História Carlos André Moura, do câmpus da UPE na Mata Norte, durou três anos.
A partir de uma pesquisa minuciosa, que levou três meses
para revisão e comprovação dos dados, chegou-se a 12 nomes de
alunos, docentes e funcionários que atuaram ativamente pelo retorno da
democracia no Brasil. No último dia 31, antes de a Polícia Federal anunciar a
tentativa de novo golpe no Brasil, o Conselho Universitário da UPE
aprovou a ideia de relembrar e reverenciar as vítimas de atrocidades durante a
ditadura brasileira.
“As homenagens configuram um marco histórico para a nossa universidade, com a promoção de ações de reparação e justiça em nosso país”, destacou Carlos Moura. “Se hoje podemos debater em um Conselho Universitário democrático, muito devemos àqueles que tombaram em um dos períodos históricos mais difíceis no Brasil republicano”, acrescentou.
A grande dificuldade durante as pesquisas foi encontrar
documentos que confirmassem o envolvimento desses nomes. "Precisamos
entrar em vários arquivos diferentes. Muitos não tinham documentação registrada
ou já tinham perdido. Como muitas vítimas já morreram, as famílias também
não dispunham de dados", relata.
A maioria dos homenageados pela UPE teve seus direitos
violados pelos militares, a partir do Decreto nº 477, de 26 fevereiro de
1969, baixado pelo então presidente Artur da Costa e Silva. O documento
punia professores, alunos e funcionários na educação básica ou no ensino
superior contrários à ditadura militar. Para o professor,
a pesquisa configura-se extremamente importante e necessária para apontar
os perseguidos da ditadura militar.
"Um ponto relevante é que, muitas vezes, peças da universidade, como antigos diretores e reitores, estavam a serviço da ditadura civil-militar. As legislações da ditadura eram aplicadas por suas gestões. Isso era normal, entres aspas. Era uma prática da ditadura", ressalta.
Registra ainda que uma das homenageadas - Rosane Alves
Rodrigues - precisou entrar na ilegalidade senão seria entregue pelos próprios
diretores ou informantes que os ditadores tinham dentro da universidade.
A Comissão da Verdade, criada para tornar públicas as
violações dos direitos humanos durante a ditadura, registrava cinco nomes. O
leque se ampliou a partir de levantamento documental, entrevistas e chamada
pública, com a colaboração de órgãos públicos e movimentos sociais, como o
Tortura Nunca Mais de Pernambuco
“Estamos dando um passo muito importante na reparação histórica em relação à ditadura. Somos netos, filhos, esposas, esposos e avós que buscamos o direito de enterrar os nossos mortos. É muito bom saber que a UPE está ao nosso lado, reforçando a democracia”, enfatizou a coordenadora do Tortura Nunca Mais no Estado, Amparo Araújo.
Na solenidade, durante a qual os diplomas serão
entregues, haverá descerramento de uma placa com o nome de todos os
homenageados. Ela será fixada na reitoria da UPE.
“A UPE é uma instituição comprometida com a democracia e
a liberdade. Agradecemos aos estudantes e servidores que se empenharam nos
movimentos sociais para garantir que hoje possamos viver em um país livre”,
ressaltou a reitora da universidade, professora Socorro Cavalcanti.
Ex-servidor da Faculdade de Odontologia da UPE, Severino
Vitorino de Lima, 72 anos, será um dos homenageados pela Universidade de
Pernambuco. Natural de Aliança, município da Zona da Mata pernambucana, seu
vínculo com a UPE começou em 1º de julho de 1971. Ele ainda está na ativa.
Trabalha há 53 anos.
"Comecei a trabalhar na FOP em plena ditadura
militar. Foi meu primeiro emprego. A homenagem é um reconhecimento da minha
luta contra o regime ditatorial da época", registra, lembrando ter ajudado
a criar a Associação dos Servidores do Hospital Oswaldo Cruz, vinculado à
UPE, e depois o sindicato da categoria.
Lista dos homenageados
- Enildo Galvão Carneiro Pessoa (In memoriam), docente da Escola Politécnica de Pernambuco;
- Francisco de Sales Gadelha de Oliveira (In memoriam), estudante da Faculdade de Ciências Médicas;
- Ilmar Pontual Peres (In memoriam), estudante da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco;
- Javan Seixas de Paiva (In memoriam), docente da Faculdade de Odontologia de Pernambuco;
- José Almino Arraes de Alencar Pinheiro, estudante da Escola Politécnica de Pernambuco;
- José Luiz Oliveira (In memoriam), estudante Faculdade de Ciências Médicas;
- José Romualdo Filho, estudante da Faculdade de Ciências Médicas;
- Maria Zélia de Sousa Levy, estudante da Faculdade de Odontologia de Pernambuco;
- Paulo Santos Carneiro, estudante da Faculdade de Ciências Médicas;
- Rildege de Acioli Cavalcanti (In memoriam), estudante da Faculdade de Odontologia de Pernambuco;
- Rosane Alves Rodrigues (In memoriam), estudante da Faculdade de Medicina de Pernambuco;
- Severino Vitorino de Lima, servidor técnico-administrativo da Faculdade de Odontologia de Pernambuco.
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