PUBLICIDADE

Type Here to Get Search Results !

cabeçalho blog 2025

Venda de emendas por deputados do PL: conversas obtidas pela PF mostram como funcionava esquema de desvios; veja prints

Josimar Maranhãozinho (PL-MA), Pastor Gil (PL-MA) e Bosco Costa (PL-SE) foram denunciados pela PGR. Esquema contava com a participação de lobistas e até de um agiota. Prints mostram que deputados evitavam encontros para não serem filmados.

Por Camila BomfimMárcio Falcão


Os deputados federais do PL Josimar Maranhãozinho (MA), Pastor Gil (MA) e Bosco Costa (SE) denunciados pela PGR — Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados e Mário Agra/Câmara dos Deputados

Relatório da Polícia Federal (PF) obtido pelo blog nesta sexta-feira (7) mostra como funcionava o suposto esquema de comercialização de emendas parlamentares indicadas pelos deputados do PL Josimar Maranhãozinho (MA), Pastor Gil (MA) e Bosco Costa (SE) ao município de São José de Ribamar (MA).

A investigação começou em novembro de 2020, quando Eudes Sampaio, então prefeito da cidade maranhense, denunciou o possível esquema de desvio de recursos federais.

De acordo com os investigadores, a organização criminosa – que contava com a participação dos deputados do PL, de lobistas e até de um agiota – exigia a devolução de 25% dos valores de emendas destinadas a ações na área de saúde na cidade de São José de Ribamar.

▶️ Ou seja: os envolvidos, inclusive os parlamentares, cobravam irregularmente uma propina de 25% em cima de emendas destinadas aos municípios. Os pagamentos deveriam ser realizados por gestores públicos, como os prefeitos.

O caminho da propina era: agiotas emprestavam dinheiro para parlamentares. Esses parlamentares indicavam emendas para as prefeituras. Os agiotas cobravam o empréstimo dos prefeitos.

São alvos da apuração três emendas, que, somadas, totalizaram R$ 6,7 milhões. Desse montante, segundo as investigações, R$ 1,6 milhão foi exigido do gestor de São José de Ribamar como contrapartida pelo grupo criminoso.

Depoimento às autoridades

O então prefeito Eudes Sampaio relatou às autoridades que, em fevereiro de 2020, foi procurado por um político da região e pelo agiota Josival Cavalcanti da Silva, conhecido como "Pacovan", que exigiram o pagamento indevido do valor correspondente a 25% das emendas que teriam intermediado para a saúde de São José de Ribamar.

O gestor municipal diz que se negou a fazer os pagamentos e, em razão disso, sofreu ameaças contra a sua integridade física e a de familiares. A extorsão e as ameaças levaram Eudes Sampaio a denunciar o esquema às autoridades.

Como o esquema envolvia deputados federais o caso foi enviado para o Supremo Tribunal Federal (STF), que abriu um inquérito, em junho de 2021, para apurar as denúncias de irregularidades.

Na ocasião, a Corte atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República, que afirmou ter encontrado: "Elementos indicadores da existência de uma verdadeira organização criminosa voltada para a compra de emendas parlamentares destinadas às ações de saúde nos municípios maranhenses".

Com a abertura do inquérito, a Polícia Federal realizou operações de busca e apreensão e colheu depoimentos de investigados e testemunhas, que apontam que os deputados do PL, liderados por Josimar Maranhãozinho, tiveram "papel central" no suposto esquema criminoso.

"Elementos de prova indicam a existência do seguinte estratagema (esquema) criminoso: o agiota PACOVAN empresta dinheiro para os parlamentares investigados, os quais se comprometem a devolvê-lo por meio do desvio de parte dos valores oriundos das emendas parlamentares que tinham como destino municípios do interior do Maranhão", -

 afirmam os investigadores.

Print de mensagem

Segundo os investigadores da PF, Josimar Maranhãozinho "está à frente da estrutura criminosa, capitaneando não somente a destinação dos recursos públicos federais oriundos de emendas (próprias e de outros parlamentares comparsas) para os municípios, mas também orientando a cobrança (utilizando, inclusive, de estrutura operacional armada), ao exigir dos gestores municipais a devolução de parte dessas verbas".

A imagem abaixo é um print de uma conversa de um agiota identificado como Pacovan JR. De acordo com a PF, a conversa mostra o agiota listando políticos e auxiliares que faziam parte do esquema.


Mensagem de agiota mostra lista de deputados que teriam participado de esquema de venda de emendas — Foto: Reprodução

Para os policiais, os envolvidos podem ter cometido diversos crimes, como estelionato e extorsão, além de corrupção e associação criminosa.

O que dizem as defesas

Procurada pelo g1, a defesa do deputado Pastor Gil diz que aguarda o julgamento da denúncia da PGR pela Primeira Turma do STF, "confiante de que os esclarecimentos apresentados conduzirão ao reconhecimento da inocência" do parlamentar.

g1 buscou a assessoria de Josimar Maranhãozinho, mas ainda não obteve resposta. E tenta contato com Bosco Costa, que é suplente e não está em exercício do mandato parlamentar.

Com receio de filmagem, deputado evita encontro

Para elaborar o relatório, a Polícia Federal se baseou em documentos, anotações, áudios, e trocas de mensagens de WhatsApp armazenadas nos celulares de investigados.

Em uma dessas conversas obtidas pela PF, o deputado Pastor Gil sugere ao deputado Josimar Maranhãozinho que ambos se encontrem com Eudes Sampaio na casa do então prefeito de São José de Ribamar, para, supostamente, conversarem sobre o esquema.

Em resposta, Josimar Maranhãozinho diz ao colega para não irem até a residência do gestor municipal, pois o movimento seria "perigoso", uma vez que câmeras de monitoramento poderiam registrar a presença dos parlamentares no local.

Veja abaixo:


Troca de mensagens entre deputados mostra Josimar Maranhãozinho orientando colega a evitar encontros que poderiam ser filmados — Foto: Reprodução

"Demonstrando destreza para evitar a produção de provas, o líder da organização criminosa [Josimar Maranhãozinho] afirma que a ida deles ao escritório seria perigosa, pois poderia ter câmeras para filmá-los",

- anotam os investigadores.

Agiota pede ajuda pra receber verba: 'Pelo amor de Deus'


Troca de mensagens mostra irritação de agiota com prefeito que teria denunciado esquema com emendas — Foto: Reprodução

Outro ponto que chamou a atenção dos investigadores é um áudio enviado por Josival Cavalcanti da Silva, o "Pacovan", em que ele pede a Josimar Maranhãozinho que atue para que o agiota receba o valor combinado no esquema de compra e venda de emendas parlamentares.

Os investigadores encontraram um áudio em que o agiota pede "pelo amor de Deus" para que Maranhãozinho tome medidas para que o pagamento combinado seja realizado.

"E eu não posso perder, entendeu? Que é 6 milhão. Entendeu? Vai dar um milhão e meio. Que Ele tem pra me pagar. E aí, e eu perder esse dinheiro? Se eu perder esse dinheiro? Me diz ai? Qual é minha situação? É seis milhões e pouco. Setecentos e pouco. Vai dar quase um milhão e seiscentos de devolução. Entendeu? Veja minha situação pelo amor de Deus",

- afirma o agiota no áudio.

Em outro momento do relatório, a Polícia Federal cita que, em depoimento o deputado Pastor Gil, afirmou que Josimar Maranhãozinho o orientava na destinação de emendas. E que Josimar transferiu a ele R$ 200 mil. Os recursos, segundo Pastor Gil, correspondiam a um empréstimo, que, segundo o próprio deputado, jamais foi pago de volta a Josimar.

Diante de investigadores da PF, Josimar Maranhãozinho optou por ficar em silêncio e não respondeu a perguntas sobre os fatos descobertos pelos policiais, conforme o relatório.

Deputado de Sergipe enviou emenda para o Maranhão

Também chamou a atenção dos agentes da Polícia Federal o fato de o deputado Bosco Costa (PL-SE), que foi eleito pelo estado de Sergipe, ter indicado uma emenda parlamentar de R$ 4,1 milhões para o estado do Maranhão.

Bosco Costa também é suspeito de integrar a organização criminosa de desvio de recursos federais de emendas.

Para os investigadores, tal atitude indica que o estado do Maranhão pode ter se tornado um "paraíso" para o desvio de emendas parlamentares.

"Essa atuação causa ainda mais estranheza se levarmos em consideração que o referido parlamentar foi eleito pelo Estado de Sergipe, porém encaminha emendas de alto valor para o Maranhão (base da organização criminosa), indicando que este Estado pode ter se tornado um 'paraíso' para o desvio de emendas parlamentares",

- diz o relatório.

O esquema também teria contado com a participação de lobistas, que faziam o contato com gestores municipais para apresentar o negócio ilegal, e com blogueiros, que ameaçavam os gestores com publicações na internet.

STF deve julgar denúncia neste mês


STF vai decidir se torna deputados réus por esquema de venda de emendas parlamentares — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução

A denúncia da Procuradoria-Geral da República contra os deputados do PL deve ser julgada no próximo dia 25 de fevereiro pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal.

Se a Corte aceitar a denúncia, será instaurada uma ação penal e os acusados vão se tornar réus pelos crimes apontados nas investigações. Caso a denúncia seja rejeitada, o caso será arquivado.

  

Postar um comentário

0 Comentários
* Por favor, não faça spam aqui. Todos os comentários são revisados ​​pelo Admin.

Publicidade Topo

Publicidade abaixo do anúncio