Caso aconteceu em Itamaracá, no Litoral Norte, em obra de terceirizada a serviço da Compesa.
Por g1 Pernambuco, TV Globo
Edmilson Cazer do Nascimento, que morreu soterrado num buraco em Itamaracá — Foto: Reprodução/WhatsApp
A filha do encanador que morreu
soterrado num buraco cheio de lama em Itamaracá,
no Litoral Norte de Pernambuco, diz que houve negligência por parte do
Consórcio Global Norte, empresa terceirizada responsável pela obra em que ele
trabalhava. A cratera tinha sido aberta para um reparo a serviço da Companhia
Pernambucana de Saneamento (Compesa).
Em entrevista à TV Globo,
a empreendedora Mayara Regina Santos contou que o pai, Edmilson Cazer do
Nascimento, de 53 anos, não recebeu o suporte necessário durante o trabalho e
que a família não foi informada adequadamente sobre o que ocorreu.
"[Era] uma área de muita
água, mar, tem lençóis freáticos. No horário que estava sendo executado esse
serviço, só estava meu pai, que era o profissional, encanador, e o ajudante
dele, que era também o motorista. Não tinha um técnico de segurança, nem
engenheiro", afirmou.
O acidente aconteceu por volta
das 13h do sábado (24), na Rua José Matias Cordeiro Cruz, no bairro de
Jaguaribe. O corpo só foi retirado do local por
volta das 21h. O caso é investigado pela Polícia Civil.
Na tentativa de resgatar a
vítima, moradores amarraram as mãos do trabalhador, mas não conseguiram
puxá-lo. Assim, amarrado, ele ficou até que o resgate fosse concluído.
"Era um buraco pequeno, de cerca de um metro de diâmetro, e ele começou a ser sugado pela lama. Tinha uma máquina de sucção ligada dentro, que também puxou ele. Mais de dez homens tentaram ajudar, mas não conseguiram. Amarraram uma das mãos dele para não perder o corpo”, relatou.
Segundo a Compesa, a obra era de
rotina, em uma vala de pequeno porte, de 80 centímetros. A companhia abriu uma
sindicância para apurar as causas do acidente. Edmilson era encanador há mais
de 30 anos, com passagem por diversas empresas terceirizadas que prestam
serviços à Compesa. De acordo com Mayara, ele estava há cerca de quatro anos na
atual empresa.
“Ele saía de casa sem saber exatamente para onde iria, porque esperava a ordem de serviço. Muitas vezes, era ele quem avaliava o problema no local e resolvia da forma que dava. [...] Se estivesse com um cinto de segurança, com os equipamentos adequados, meu pai não estaria morto. Não era serviço para duas pessoas, era para uma equipe. E não havia ninguém da empresa me dando suporte”, afirmou.
Buraco onde homem morreu soterrado em Itamaracá — Foto: Reprodução/WhatsApp
Ela também contou que o pai já
havia alertado sobre riscos em serviços anteriores, inclusive um incidente
ocorrido no dia 30 de abril, em Goiana, na Zona da Mata de Pernambuco, quando
um poste caiu após o fim de uma obra.
Segundo ela, Edmilson teria
solicitado apoio técnico na ocasião, mas foi orientado a continuar o serviço
mesmo assim.
“Ele já tinha avisado que
precisava da Neoenergia e de um técnico de segurança. A ordem foi: ‘faça o
serviço’. Ele fez, e o poste caiu logo depois. Não houve tragédia porque os
fios seguraram”, relatou.
No momento do acidente, o Corpo
de Bombeiros e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foram
acionados, mas o homem já estava morto. Uma retroescavadeira foi necessária
para retirar o homem do buraco.
"Eu gritava por uma
resposta, para tirarem meu pai logo daquele lugar, porque foi muito sofrido ver
meu pai da forma que ele estava, com as mãos amarradas. Nem um animal merece
aquilo, imagina um homem tão bom. Meu pai deixa dois filhos de sangue e vários
de coração", contou.
Respostas
Por meio de nota, o Consórcio
Global Norte disse que tem mantido "contato próximo e prestado toda a
assistência necessária" à família. Afirmou que "cumpre rigorosamente
as normas de segurança do trabalho, com fornecimento e fiscalização do uso dos
Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), treinamentos periódicos e
acompanhamento técnico das frentes de obra".
Sobre o acidente, o consórcio
afirmou que "foi uma ocorrência imprevisível durante a execução regular
das atividades, mesmo diante da adoção de todos os protocolos exigidos pelas
normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho e das melhores práticas do
setor".
"Ainda assim, o Global Norte
abriu procedimento interno para apuração dos fatos e está colaborando
integralmente com as autoridades competentes. Reiteramos nosso compromisso com
a segurança dos nossos colaboradores e com a transparência na condução de todas
as apurações, reafirmando o respeito à memória da vítima e à dor de seus
familiares", afirmou.
O g1 também entrou em
contato com a Compesa sobre as denúncias da filha de Edmilson. Em nota, a
companhia afirmou que:
- lamenta o acidente e, ao tomar conhecimento,
"acionou a empresa contratada para tomada de providências e também
enviou técnicos ao local";
- se solidariza com a família da vítima e,
"juntamente com a empresa contratada, prestará toda a assistência
necessária";
- o funcionário era um profissional experiente em
serviços de rua, acostumado com os reparos em redes de água;
- solicitou informações detalhadas sobre o acidente
da empresa contratada;
- os relatos até o momento dão conta de um terreno
que se tornou movediço repentinamente, impedindo qualquer chance de
socorro ao colaborador;
- abriu uma sindicância administrativa interna
"para entender as causas do acidente em um serviço de rotina, em uma
vala de pequeno porte, de 80 centímetros";
- o vazamento era de pequeno calibre, tipo de
intervenção considerado simples, sem complexidade, e que, a princípio, não
demandaria necessidade de escoramento ou medida adicional;
- até o momento, não foi apurado indicativo de que o
trabalhador estivesse sem os equipamentos de proteção individual;
- a empresa contratada possui técnico de segurança do
trabalho para monitoramento dos serviços;
- "aguardará o resultado da perícia e
investigação policial para as providências cabíveis".
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