sábado, agosto 09, 2025

Por que Hiroshima e Nagasaki foram escolhidas como alvos das bombas atômicas?

No dia 6 de agosto de 1945, o Japão sofreu o primeiro ataque com bomba atômica da história. Três dias depois, uma segunda bomba foi lançada.

Por Isabella Oliveira / CBN


Prédio destruído após o bombardeio de Hiroshima, no Japão — Foto: AFP

No dia 6 de agosto de 1945, a cidade japonesa de Hiroshima foi atingida pela primeira bomba atômica utilizada em combate. Três dias depois, em 9 de agosto, Nagasaki sofreu o mesmo destino. Os ataques, realizados pelos Estados Unidos no final da Segunda Guerra Mundial, deixaram mais de 200 mil mortos, a maioria civis, e transformaram para sempre a percepção sobre destruição em larga escala.

O bombardeio de Hiroshima e Nagasaki

Lançada de um bombardeiro chamado Enola Gay, a bomba "Little Boy", que atingiu Hiroshima, continha urânio-235 e gerou uma explosão equivalente a 20 mil toneladas de TNT. Em Nagasaki, a bomba "Fat Man",  , foi ainda mais poderosa.

Além de marcar o fim da Segunda Guerra Mundial com a rendição do Japão em 14 de agosto de 1945, os ataques inauguraram a chamada Era Nuclear.

Na época, uma lista com uma série de cidades japonesas foi organizada por autoridades militares e científicas norte-americanas. Os locais escolhidos deveriam atender a três critérios fundamentais:
  1. Alta densidade populacional: O objetivo era observar os efeitos da radiação em uma área urbana com grande concentração de civis.
  2. Topografia favorável à observação: buscava-se uma cidade com relevo adequado para monitorar os efeitos da explosão e da radiação.
  3. Importância militar ou industrial: a cidade precisava ter alguma importância estratégica, como bases militares, fábricas ou portos relevantes para o esforço de guerra japonês.

Um detalhe importante, segundo Mario Marcello Neto, doutor em história pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, é que todas as cidades listadas para o bombardeio estavam localizadas no sul do Japão. As cidades ao norte já haviam sido bombardeadas por ataques convencionais ou estavam próximas demais da fronteira com a União Soviética.

"No norte sabia-se do claro risco da invasão soviética por terra, então não queria ter um risco de lançar uma bomba atômica e os soviéticos conseguirem perceber os estragos da bomba atômica antes dos Estados Unidos."

Para ele, o debate sobre a decisão de lançar a bomba atômica contra o Japão é variado, mas existem três linhas principais de interpretação:
  1. Justificar o investimento: O governo norte-americano havia gasto bilhões em segredo para produzir a arma. Não usá-la poderia causar uma crise de confiança pública.
  2. Encerrar a guerra com o Japão: Embora os Estados Unidos alegassem que a bomba foi lançada para evitar uma invasão terrestre e, assim, poupar vidas americanas, muitos historiadores apontam que o Japão já estava em colapso econômico e militar. Além disso, havia uma motivação simbólica. O Japão havia provocado diretamente os Estados Unidos ao atacar Pearl Harbor, o que criava um desejo de revanche moral. Ao mesmo tempo, a cultura japonesa tradicional, fortemente marcada pelo código de honra dos samurais, dificultava a ideia de rendição.
  3. Enviar um recado à União Soviética: para muitos historiadores, o principal objetivo do uso da bomba foi demonstrar poder à URSS e garantir influência exclusiva sobre o Japão e a Ásia. Com a vitória iminente dos Aliados na Europa, já se desenhava o antagonismo entre o bloco socialista soviético e o bloco capitalista liderado pelos EUA. A bomba seria um sinal claro de poder e supremacia militar.

Hiroshima foi selecionada por cumprir vários requisitos. Com cerca de 350 mil habitantes, abrigava um grande quartel-general do Exército Japonês e era um centro logístico importante para a movimentação de tropas e armamentos. Além disso, sua localização tornava geograficamente interessante.

Já Nagasaki não era a principal opção, mas acabou sendo escolhida por critérios práticos e de localização. Embora tivesse menor importância militar, era um porto industrial relevante.

O nascimento da bomba atômica

O cientista James Chadwick descobriu o nêutron em 1932. Seis anos depois, em 1938, Otto Hahn, Fritz Strassmann e Lise Meitner identificaram a reação de fissão nuclear.

Cláudio Schon, professor na Escola Politécnica da USP, explicou que a partir da descoberta da fissão diversos cientistas no mundo, inclusive no Brasil, começaram investigar o fenômeno. Logo ficou evidente que a reação nuclear produzia nêutrons em excesso.

"Leo Szilard percebeu que esses nêutrons poderiam ser usados para levar outros átomos de U 235 a fissão, cunhando o conceito de reação em cadeia, logo no início de percebeu que uma reação em cadeia fora de controle produziria uma explosão muito energética, surgiu então o conceito de uma bomba nuclear."

O físico Leo Szilard enxergou o uso militar desse conhecimento. Junto a outros cientistas, Szilard passou a temer que Hitler pudesse desenvolver a bomba atômica primeiro. Em 1939, ele colaborou com Albert Einstein na carta enviada ao presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt, alertando sobre os riscos da tecnologia nuclear cair em mãos nazistas.

A partir dessas preocupações, os Estados Unidos iniciaram os primeiros esforços para a construção de sua própria arma nuclear.

O que foi o Projeto Manhattan?

O Projeto Manhattan contou com cooperação internacional de Reino Unido e Canadá, sendo oficializado em 1942. Ele envolveu mais de 6 mil cientistas e técnicos e resultou na criação das primeiras bombas atômicas do mundo. O sigilo era tanto que cada equipe produzia partes da bomba sem saber exatamente o propósito final.

"Em 1942, culmina no auge desse processo, com o Projeto Manhattan, quando eles percebem que tem que ter uma organização extrema e manter tudo isso em sigilo, com muita gente trabalhando. Por isso, o Projeto Manhattan talvez tenha sido o projeto mais bem elaborado na história das armas do mundo, porque ele foi um projeto que conseguiu ser sigiloso com mais de 6 mil cientistas e técnicos trabalhando", conta Mário

Os principais centros do projeto incluíam o laboratório de Los Alamos, no Novo México, onde as bombas foram projetadas, além das instalações de enriquecimento de urânio e produção de plutônio localizadas em Oak Ridge e Hanford.

Por que o Brasil não tem armas nucleares?

A decisão brasileira de não desenvolver armamento nuclear é motivada por vários fatores.

O pais é signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP) e do Tratado de Tlatelolco, que declara a América Latina uma zona livre de armas nucleares. Além disso, a Constituição Federal de 1988 proíbe o uso da energia nuclear para qualquer finalidade que não seja pacífica.

Contudo, segundo o professor Cláudio, durante a ditadura militar existiu plano secreto, chamado "Projeto Paralelo", que pretendia desenvolver armamento atômico.

"Havia um plano, o chamado Projeto Paralelo, desenvolvido pelos militares durante a ditadura. Não há evidências de que eles chegaram perto do sucesso, mas eles fizeram um poço profundo na Serra do Cachimbo, no Pará, que só tinha uma utilidade, que era testar um artefato. Isso foi interrompido pelo Collor e posteriormente, no governo FHC se assinou o Tratado de Não Proliferação Nuclear e o Brasil se comprometeu a não tentar desenvolver um artefato, do Projeto Paralelo sobrou o projeto do submarino nuclear da Marinha que eles chamam de submarino de propulsão nuclear e armamento convencional."

E a energia nuclear?


Usina nuclear de Angra 1, no Rio de Janeiro — Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

O Brasil começou a investir em pesquisas sobre energia atômica durante a década de 1950. Considerado o "pai" do programa nuclear brasileiro, o almirante Álvaro Alberto defendia uma política de independência tecnológica e acreditava que o Brasil deveria dominar o ciclo do combustível nuclear.

Com foco principal na geração de energia, o projeto foi oficialmente institucionalizado em 1956, com a criação da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Nos anos seguintes, o Brasil firmou acordos de cooperação com os Estados Unidos e com a Alemanha Ocidental, possibilitando a construção de usinas nucleares — entre elas Angra 1 e 2.

Para Cláudio, o Brasil possui um grande potencial de uso pacífico da tecnologia nuclear, mas existem desafios no que diz respeito a disponibilidade de mão de obra.

"Nós temos um grande potencial de uso pacífico da tecnologia nuclear, há , naturalmente Angra 3 que, como digo a meus alunos, algum dia vai ficar pronta. Temos também o projeto do Reator Multipropósito Brasileiro que, entre vários objetivos tornará o Brasil autossuficiente na produção de rádio isótopos para medicina nuclear. Estamos trabalhando em universidades e centros de pesquisa no projeto de um projeto de um pequeno reator nuclear e de microrreatores que podem atender necessidades como fornecer energia a regiões distantes dos grandes centros. Eu diria que temos sim grande potencial de desenvolvimento e nós estamos trabalhando no principal entrave, que é treinar mão de obra."

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