sábado, outubro 11, 2025

PF aponta indícios de esquema de manipulação e venda de sentenças no STJ

Relatório parcial foi entregue ao STF. Investigação não vê envolvimento de ministros da Corte. Procurado, STJ não se manifestou sobre caso.

Por Márcio Falcão, Marcelo Parreira, TV Globo e g1 — Brasília


Foto: Reprodução

A Polícia Federal afirma ter reunido elementos que confirmam um esquema estruturado para manipulação e venda de decisões judiciais, incluindo gabinetes do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A informação consta em relatório parcial enviado ao Supremo Tribunal Federal nesta sexta-feira (10). O documento foi divulgado inicialmente pelo jornal 'O Estado de São Paulo' e a TV Globo também teve acesso.

A Polícia Federal pediu mais tempo para aprofundar as investigações e identificar todas as ramificações do esquema. O relatório não aponta o envolvimento de ministros do STJ.

Segundo a PF, as investigações "revelaram a existência de um mercado paralelo de influência, no qual contratos milionários de advocacia ou de consultoria eram firmados com o propósito de assegurar decisões previamente combinadas, em substituição à efetiva atuação técnico-jurídica" nos processos.

O relatório descreve a existência de uma rede de intermediários, operadores e servidores, criada para manipular e direcionar decisões do STJ e de outros tribunais.


Segundo a PF, o esquema envolvia pessoas que atuavam em três núcleos:
  • Servidores públicos ligados a gabinetes, que vazavam informações sensíveis e antecipavam minutas;
  • Advogados e lobistas, que buscavam clientes interessados em decisões favoráveis;
  • E empresários, principalmente do agronegócio, que seriam beneficiados com as decisões

Ainda de acordo com a PF, a organização criminosa identificava processos de interesse e acionava o lobista Andresson de Oliveira, que é apontado como principal operador do esquema e está em prisão domiciliar.

Os investigadores analisaram uma série de mensagens que revelam ações que seguiam padrões típicos de atuação de organizações criminosas, como o uso de linguagem cifrada, codinomes, laranjas e empresas de fachada.

Para tentar maquiar as negociações, a PF diz que o grupo recorria a expressões como "a obra está pronta", que correspondiam a uma minuta de decisão finalizada. “Faltam os retoques do patrão" indicava a necessidade de assinatura pelo magistrado; "orçamento" era utilizado para se referir a valores ajustados.

Segundo a PF, "a proximidade temporal entre os diálogos e a movimentação dos atos processuais (separados por poucas horas e alinhados no mesmo dia) constitui indício relevante de que informações sobre a tramitação das minutas já circulavam no ambiente dos investigados antes da sua publicação oficial”.

Os investigadores identificaram movimentações financeiras atípicas e encontraram na casa de Rodrigo Falcão três caixas de relógios da marca Rolex, incompatíveis com a ocupação desempenhada pelo investigado. O cupom fiscal referente a um dos relógios tinha o valor de R$ 106 mil, com anotação de que o pagamento foi feito com dinheiro em espécie.

No relatório preliminar, a Polícia Federal defendeu a manutenção das medidas cautelares contra os servidores afastados do STJ para impedir a reativação do esquema e a utilização da estrutura do tribunal para fins criminosos.

O que dizem os citados

Em nota, o Superior Tribunal de Justiça disse que não irá se manifestar, já que a investigação está sob sigilo no Supremo Tribunal Federal.

Em nota, a defesa de Daimler Alberto Campos afirmou que "a investigação da Polícia Federal comprovou que diversas autoridades tiveram seus nomes utilizados de forma criminosa. O nome de nosso cliente, infelizmente, foi utilizado também de maneira espúria e ilícita. É extremamente importante destacar que a própria sindicância do STJ afastou indícios contra Daimler Campos. Por outro lado, aqueles que tiveram participação identificada nos ilícitos já foram, inclusive, demitidos do STJ".

A TV Globo não teve retorno das defesas de Márcio José Toledo Pinto e Andresson de Oliveira.

A reportagem não localizou o advogado de Rodrigo Falcão de Oliveira Andrade.

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