Segundo a Polícia Civil, recursos foram repassados para entidade que não tinha capacidade técnica para executar os serviços pelos quais era contratada. Outros quatro suspeitos estão foragidos.
Por g1 Pernambuco
Delegado de Porto de Galinhas, Ney Luiz, promotora do GAECO, Katarina Gouveia, gestor da Diretoria Integrada Metropolitana, delegado Paulo Gondim, e delegado do Cabo de Santo Agostinho, Altemar Mamede. — Foto: Vitor Dutra/Divulgação
Três mulheres, incluindo duas advogadas, foram presas numa operação da Polícia Civil que apura um suposto esquema de desvio de dinheiro público em Ipojuca, no Grande Recife. As investigações apontam o repasse de verbas de emendas parlamentares para uma instituição que não tinha capacidade técnica para operar serviços contratados pelo poder público.
Segundo a Polícia Civil , os recursos eram transferidos para organizações fantasma que operavam por meio de "laranjas". As mulheres presas são investigadas pelos crimes de corrupção passiva, peculato, falsidade documental e lavagem de dinheiro. A corporação informou que não tem uma estimativa do total de valores que foram desviados.
As informações sobre a Operação "Alvitre", deflagrada na quinta-feira (2), foram divulgadas em entrevista coletiva nesta sexta (3). A ação foi realizada pela 43ª Circunscrição Policial da Delegacia de Porto de Galinhas com o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de Pernambuco (MPPE).
Durante a operação, foram cumpridos 21 mandados de busca e apreensão. Também foram expedidos sete mandados de prisão preventiva, mas apenas os três que tinham as mulheres como alvo foram cumpridos. Outros quatro suspeitos, todos homens, estão foragidos. Os nomes e as idades dos envolvidos não foram divulgados.
De acordo com a Polícia Civil, o esquema envolvia o uso de emendas parlamentares impositivas, instrumento pelo qual vereadores destinam parte do orçamento municipal, geralmente em torno de 2% da Receita Corrente Líquida, para projetos e áreas específicas.
No caso investigado, os recursos deveriam ser aplicados em serviços de saúde em Ipojuca. Entre 2022 e 2024, o total de repasses por meio de emendas somou R$ 39,68 milhões.
"São emendas impositivas, que são votadas na Câmara Municipal e o Poder Executivo tem a obrigação de pagar. [...]. Cabe à pasta respectiva verificar se a associação (o serviço beneficiado) cumpre os requisitos legais antes de formalizar aquele termo de fomento e realizar o pagamento", explicou o delegado de Porto de Galinhas, Ney Luiz Rodrigues.
Desvio de dinheiro
As investigações começaram em 2024, a partir de denúncias publicadas por blogs e perfis no Instagram, que apontavam irregularidades no envio de R$ 7 milhões em emendas parlamentares a uma só instituição, que, depois, se descobriu que não existia.
Com isso, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) suspendeu os pagamentos, o que levou nove parlamentares a redirecionarem os recursos para outra associação, identificada apenas como IGPN.
"Quando houve essa suspensão desse pagamento para essa determinada associação, nove parlamentares passaram a encaminhar esses valores das emendas a uma determinada associação que foi investigada e a gente conseguiu demonstrar, através da investigação, que essa associação não tinha capacidade técnica e operacional para oferecer aqueles serviços que foram contratados através de um termo de fomento entre a prefeitura e a respectiva associação", contou o delegado.
De acordo com o delegado, como não tinha capacidade operacional para oferecer os serviços contratados por meio das emendas, a entidade investigada contratava empresas terceirizadas para realizar as ações.
"Nós conseguimos identificar que essa associação, IGPN, após receberem os valores decorrentes dessas emendas, eles delegavam alguns serviços, por não terem capacidade, para outras associações, inclusive para a Rede Vhida, uma associação de Caruaru que pertence a duas advogadas", contou.
Além da Rede Vhida, a polícia identificou pagamentos a uma faculdade particular, onde a terceira suspeita presa trabalha. A investigação também abrange os municípios de Ipojuca, Bezerros, Catende, São José da Coroa Grande e Barreiros.
O g1 procurou a prefeitura de Ipojuca e a Câmara de Vereadores do município, mas não recebeu respostas até a última atualização desta reportagem. Também tenta contato com as associações IGPN e Rede Vhida.
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