Vendo a última parte do Programa Fantástico da Rede Globo apresentado dia 12 de janeiro de 2014, em que a repórter Renata Ceribelli foi até a casa (casa não mansão) em Las Vegas – Estados Unidos do Lutador Anderson Silva, para entrevistá-lo e mostrar ao Brasil com está a sua recuperação, pude perceber o que a maioria dos brasileiros (acho) não conseguiu enxergar.
A imagem vista da sacada ou terraço da mansão é algo espetacular, majestoso, uma miragem, e qualquer cidadão brasileiro que fosse vítima de fraturas, traumas ou outra ocorrência e tivesse a sorte de se recuperar ou se restabelecer num paraíso desses, tenho certeza que a restauração seria bem mais rápida, além do mais o campeão brasileiro foi assistido por uma equipe de médicos profissionais competentes e ficou internado em um hospital também de primeiro mundo. E quem não gostaria de ter esses privilégios?
Agora vocês imaginem um pai de família (exemplo real) que pode ser obrigado a abandonar a profissão (a única que ele sabe laborar) e que sustenta a família, e o médico tem o diagnóstico com um prognóstico definitivo que ele não pode mais exercê-la, por se sujeitar a invalidez. Não tem opção.
Agora imaginem os brasileiros vítimas da violência do trânsito que ficam horas em cima de uma maca nos corredores de hospitais, sofrendo com dores terríveis a espera de atendimento, quando não são transferidos para outras localidades e as famílias que na maioria das vezes são obrigadas a deixar um cheque como caução no estabelecimento, do contrário morrerão sem ser assistidos.
E quantos não são obrigados a assistir pelo espelho o seu próprio definhamento no leito de um hospital do Sistema Único de Saúde, porque lhes falta toda sorte do mundo. Na fila dessa escolha se tem um velho e um jovem, é preciso fazer uma opção de quem vai a óbito. Não preciso responder.
Anderson Silva, assim como Ronaldo Fenômeno, ficou cercado de mimos, de bom acompanhamento médico, de ostentação, de tranquilidade, rodeados por familiares e amigos (os pobres deste país são impedidos até de receber visitas) e um apoio de uma torcida de brasileiros, caridosos, amorosos (lembram quando Ronaldo disse que não precisamos de Hospitais) que torcem pelos seus ídolos, que chora, que mostra sua hospitalidade e seu carinho quando os sentimentos são imbuídos de patriotismo.
A vontade dele junto as suas fragilidades de voltar a lutar e subir ao octógono para enaltecer o nosso esporte e deixar os brasileiros e seus fãs felizes faz parte também da nossa torcida, só não quero ser hipócrita e não dizer que quem dera fosse companheiro dessa sorte que acompanha o nosso atleta e muitos outros de um grupo seleto dessa pátria.
Quantos não queriam ter a sorte de ficar se recuperando de um problema de saúde num lugar paradisíaco desses, jogando vídeo game, assistindo televisão, como o nosso campeão que passa o dia acompanhado dos seus cinco filhos, a mulher e toda essa mordomia que a vida lhe ofereceu.
Quem quiser chamar esse relato de inveja, de sentimento de fracasso e outros que queiram batizar, não vou me ofender, apenas vejo muito encenação, muita festa, muita magia, muita mitificação, quando os nossos heróis são os médicos que passam noites em plantões nos hospitais sucateados do nosso Brasil, os agricultores que penam com a estiagem prolongada, os assalariados que riem e fazem mágica com o mínimo, enfim toda essa massa de brasileiro que busca um país que ri para poucos.
Mesmo assim eu fico na torcida pela recuperação do nosso herói que fez do ringue o seu meio de sobrevivência. Somos todos brasileiros.
Pode ser que não seja muito fácil se recuperar num paraíso desses.
Blog do Paixão