POR LUIZ ANDRADE (DENDA)
Foto do Centro de Saúde Dr. José Araújo Lima - 1983
No Brasil e no mundo hoje, estamos vivendo uma grande ressaca moral. De perda de valores, de falta de compromissos dos homens públicos, de falta de cultura e de falta de conhecimento para se fazer as coisas certas.
Vemos muita falta de solidariedade, entre as pessoas, falta de amizades sinceras, falta de vergonha, falta de fé, de temor e amor a Deus...
Existe hoje no Brasil e no mundo, um excesso de informação: jornais diários, canais de TV por assinatura, TV aberta, revistas, a internet, milhões de celulares, emissoras de rádios e por aí vai...
Nunca se viu e viveu com tanta tecnologia. De dentro do quarto, estamos conectados com o mundo todo. Sala de bate papo, tantos, tantos conhecidos desconhecidos hoje se conhecem virtualmente. Amanhã traz para dentro de casa (o amigo ou novo amante virtual), e como não se conhecem mesmo, com um mês descasam.
O ser humano vive hoje um tempo de grande solidão. Vão para a balada (funk ou pagode), todo mundo namora todo mundo e no outro dia nem se sabe com quem ficou. Em casa ninguém se comunica. Temos pais que não conhecem os filhos e filhos que não conhecem os pais. A TV, a internet, o celular tomaram o lugar do diálogo.
A propaganda de hoje é: seja rico, bonito (de preferência com músculos), famoso, seja feliz.
Ter um empregão, um carrão do ano, casa moderna e tudo mais. Por tudo isso se paga qualquer preço e se faz qualquer negócio.
Depois de tudo conquistado é a hora de se defender da concorrência, dos invejosos, dos ladrões, mal feitores que também querem tudo isso a todo custo, e também fazem qualquer coisa para tê-los.
Que está defendendo o seu quer guardar para o futuro, mas o ladrão quer gastar tudo na balada de todo dia, aqui e agora!
Solidariedade está fora de moda. Fechamos os olhos para tudo. Olhamos apenas para nós mesmos e ninguém ajuda ninguém (a não ser por interesses).
O melhor deve ser guardado para mim e pros meus filhos. Depois bate a incerteza: será que vou manter tudo isso, será com vai ser a minha velhice, será como vou terminar... no asilo, como tantos outros que terminam os seus últimos dias na solidão?
Hoje inverteram-se os valores para cobrir a deficiência, o afastamento dos filhos. A eles são oferecidos todas as regalias possíveis: carrões do ano, cartão de crédito com limite estratosférico que lhe garante a sensação de poder, aí o fedelho pensa: “posso tudo”!
Nos esquecemos que o mais importante é o amor, a presença, o respeito, o caráter, a educação e a humildade.
Na minha época bastava um olhar apenas dos nossos pais para não invertemos os valores. Atravessar por entre convidados quando se “papeava” na sala de estar (a entrada era só uma), seria motivo de desrespeito e quando o pai falava ali tinha ordem e que devia sim ser obedecida. Os bons modos: com licença, obrigado, bom dia, boa tarde, boa noite, bênção pai, benção mãe. A educação era tudo por mais simples que fosse a família se aprendia logo em casa.
Na minha época a vida tinha mais valor. Não havia tanta violência, tanta impunidade, tanta ambição. O vil metal domina tudo hoje. Antes com o trabalho honesto e paciência, se conquistava tudo e os filhos aprendiam com os pais esse valores.
Na minha época parecia que estávamos sentados em cima do tempo.
Os anos demoravam a passar, não tínhamos tanta pressa. À noite sentávamos nas calçadas até altas horas. Fazíamos serestas, líamos livros, parávamos para ouvir uma boa música e cuidar dos afazeres e parecia que ainda sobrava tempo.
Na minha época, meninos brincavam brincadeiras de meninos, brigavam por tudo: por bola, por carro, por bonecas, por ciúmes, por qualquer futilidade, mas quando era do dia seguinte estavam todos juntos outra vez.
Na minha época era uma felicidade e ser correspondido num flerte, num sorriso, num olhar, o coração batia forte. Os namoros duravam um ano ou mais ate se conhecer e se apaixonar.
Lembro que na minha época o mundo caba no meu quarto: um radinho de pilha, dois pares de roupas, o calçado e os irmãos juntos. A felicidade estava lá. Gostava quando era tudo misturado e ainda prefiro (com saudosismo).
Na minha época “é sempre assim” um tempo feliz que nunca morre para mim...
ALGUMAS LEMBRANÇAS...
Na mina época uma vez fui parar no Exu (terra de Gonzaga) e era o dia do aniversário de Luiz Gonzaga – Rei do Baião. Estávamos eu e Antonio Bentinho (In Memoriam) quando o DR. Renato nos convidou para o evento e então fomos de pronto. Lá passamos o dia ao lado de grandes nomes da nossa música. Tudo muito simples e muito bom, comida e bebida a granel e o Dr. Renato que nos convidou era o detentor das senhas.
Dia de alegria e descontração e lá estavam: Luiz Gonzaga, Gonzaguinha (eternos), Gilberto Gil, Dominguinhos (In Memoriam), Jorge De Altinho, Marinez, Genival Lacerda e outros. Naquele dia as músicas vida do viajante, não chore mais, Severina chique, chique...
... Na volta não foi fácil de explicar em casas, mas valeu a aventura.
Outra desobediência civil – Dr. Deocles era o diretor do Posto de saúde, então vinha de Recife para visitar a cidade o Secretário Estadual de Saúde e fomos todos convocados a espera-lo lá no hotel...
... Montou-se uma caravana e então juntamos toda a nossa turma e levamos uma lata de kitut (naquela época havia o PSA – Programa de Saúde Alimentar) e fomos todos para o Bar Colegial. Meio-dia a caravana passou e o Dr. Deocles (meio sem graça) acenou com as mãos balançando a cabeça como se quisesse dizer: “essa turma não tem jeito”. No outro dia estava tudo bem.
TIRANDO UM SARRO
Geonaldes (Pepêta) havi chegado de São Paulo e na mesma semana fez aniversário. Uma festa foi encomendada na casa dos seus pais. Todo pessoal do Posto de Saúde estava lá. O convidado especial era o Deputado Valdeir Batista e uma encenação estava prepara para aquela noite.
Everaldo Paixão era o deputado da Praça é Nossa (sucesso na época). Juareis representaria Geonaldes todo paulista e falante, com um Mini-System no ombro, cheiro de gírias. Depois a apresentação dos Mamonas Assassinas que tinha no elenco: Marcos Gadelha (no violão), Everaldo Paixão (dançando e cantando), Doval e Bertinho. Todos com o traje de presidiário (roupa característica da banda sucesso da época). Doval (o vereador) era o mais envergonhado porque jamais havia feito uma papel despertando toda a sua timidez.
E o deputado Everaldo Paixão acabou tirando um sarro dos políticos e da política. O Deputado Valdeir dizia: “esses meninos são inteligentes”. Foi uma festa legal e divertida e que demonstrava o que era o sentido de equipe até quando se reuniam para o divertimento entre os colegas de trabalho.
Outra festa legal aconteceu na casa de Dr. Zé Alencar (Secretário de Saúde à época). Quase todos os funcionários do Posto de Saúde se fizeram presentes. Ia haver uma encenação de cirurgia para retiradas das hemorroidas: era Dr. Zé sendo operado. O elenco era composto da seguinte forma:
Edval (in memoriam) fazia o papel de Dr. Zé, Geonaldes era o médico e Dedé Saraiva (in memoriam) o enfermeiro. Foi catchup aos montes nessa cirurgia. Era só alegria, um ajudando um e se divertindo juntos, sem esquecer-se do bar de Seu Mozar que o papo entre a turma quando também saía para se divertir rolava até tarde.
Por último, todo o final de ano tinha ao amigo invisível. Eu tive a sorte de uns dois anos seguidos de ser sorteado por Dr. Joaquim Lima e ele me “tirava”, mas nunca levava o presente. Até que a turma se juntou e foi feita uma pressão e ele resolveu dar o presente: uma festa na serra (dele) e a brincadeira boa em que todos nos divertimos muito... mas o presente?
Outra época que podemos lembrar com saudade foi no tempo que Dindora era nossa diretora no Posto de Saúde e sempre terminávamos as atividades mais cedo e então já estavam todos combinados para ir ou ao Bar Colegial ou a Seu Mozar. Cada um ia saindo de fininho e as mulheres iam todas reclamar para ela que a turma dos homens (Luiz, Alberto, Antonio Bentinho, Everaldo, Geonaldes) havia abandonado os seus postos de trabalho. Com o velho humor que lhe é peculiar ela dizia: “Não se incomodem, eles são homens” e sempre ficava tudo na paz e por isso sentimos saudades daquele tempo.
Na época era assim, tudo muito simples, tudo muito bom e divertido.
Termino com uma frase do sábio poeta cantor Odair José:
“Sempre quis essa vida que levo, com os erros e acertos”
“Sempre fui feliz assim e sou feliz por ser assim. Um homem simples”
Denda
Blog do Paixão