Para a agência, a recente liberação da fosfoetanolamina na Câmara dos Deputados pode abrir um precedente perigoso no país. Não há estudos sobre o composto
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) declarou
nesta quinta-feira (10) que tentará barrar o aval à autorização da produção e
uso da fosfoetanolamina sintética, chamada de "pílula do câncer", sem
o amparo de pesquisas. O projeto de lei, que agora vai ao Senado, prevê que a
pílula possa ser usada por paciente com câncer desde que o laudo médico
comprove o diagnóstico e o paciente assuma a responsabilidade.
Para
Jarbas Barbosa, presidente da Anvisa, caso o projeto de lei aprovado
terça-feira (08) pela Câmara dos Deputados vá adiante, serão colocados em risco
a população, o sistema de regulação sanitária e a reputação da indústria
farmacêutica no país.
"É um
precedente perigoso. A autorização do uso de remédios tem de ser precedida por
pesquisa para comprovar sua eficácia e segurança. Não podemos encurtar caminho
apenas recorrendo ao lobby no Congresso", disse Barbosa.
Especialistas entrevistados pelo
jornal O Globo demonstram a mesma preocupação da
agência e condenaram a aprovação do projeto alegando que a eficácia, dosagem e
efeitos colaterais da substância são desconhecidos e ela poderia trazer riscos
à saúde.
A fosfoetanolamina sintética não tem registro na Anvisa. Embora
o produto tenha sido preparado pela primeira vez há 20 anos em um laboratório
de química do Instituto de Química da USP de São Carlos, sua eficácia e
segurança nunca foram alvo de pesquisas científicas.
Para
Volnei Garrafa, Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Bioética da UnB, o
projeto de lei é "absolutamente irresponsável", uma vez que ignora
exames fundamentais para o desenvolvimento de uma terapia, como a averiguação
de tolerância do remédio em voluntários.
O
presidente da Anvisa também chama atenção para o fato de os pesquisadores
responsáveis pelos desenvolvimento da substância - e que celebraram a aprovação
- nunca terem feito um pedido de análise do produto. Segundo Barbosa, caso esse
pedido tivesse sido feito, a análise teria saído de forma rápida. "Ele
preencheria precondições para estudo prioritário: é produto inovador,
desenvolvido no Brasil e destinado a uma doença de grande impacto para saúde pública",
observa.
Ainda
segundo Barbosa, a preocupação em torno da aprovação pelo Senado é
compartilhada pelo Ministério da Saúde. Juntos, farão um trabalho de
convencimento de senadores, para tentar impedir a aprovação da proposta.
"Essa substância não pode nem mesmo ser de uso compassivo. Pacientes
terminais têm de ter seus direitos respeitados e, entre eles, está a
perspectiva do uso de um produto com o mínimo de qualidade, de segurança",
completa.
Exportação - Além de
colocar em risco a saúde do paciente, a liberação do produto pelo Congresso
poderia fazer com que o país tivesse seu sistema de regulação sanitária
questionado no cenário internacional. "Se regras sanitárias podem ser
colocadas de lado por ações de lobby, como garantir a qualidade de produtos
exportados?"
(Da redação)
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