Organização do esquema instalado na empreiteira impressiona: havia até mesmo um sistema de intranet dedicado a operações criminosas, segundo a PF
Por: Carolina Farina, de São Paulo, e Laryssa Borges, de Brasília/Veja Online
Por: Carolina Farina, de São Paulo, e Laryssa Borges, de Brasília/Veja Online
As investigações da
26ª fase da Lava Jato, batizada de Operação Xepa, escancaram o organizado
sistema de pagamento de propina instalado na Odebrecht: a empreiteira contava
com um departamento exclusivo para pagamentos ilícitos, o Setor de Operações
Estruturadas. Em depoimento prestado em acordo de delação premiada, a
secretária Maria Lúcia Tavares revelou, inclusive, que todos os pagamentos
paralelos deviam constar no sistema MyWebDay, uma espécie de 'intranet da
propina' da Odebrecht. O sistema era de tal maneira organizado que altos
executivos da empresa eram os responsáveis por liberar os pagamentos ilícitos.
Diz relatório da
Polícia Federal: "No contexto do processo de solicitação e deferimento de
disponibilização de valores para pagamento de vantagens indevidas, chama a
atenção que as requisições planilhadas e aquelas constantes do sistema
informatizado são sempre caracterizadas por três dados importantes: a obra, o
responsável/DS (Diretor Superintendente) e o beneficiário/codinome".
Segundo as investigações, o processo se dava da seguinte forma: os diretores
superintendentes recebiam as demandas de seus subordinados (os diretores de
contrato) e as encaminhavam aos executivos da empreiteira. "Como se vê, o
pagamento de vantagem indevida no âmbito do grupo Odebrecht se encontra
devidamente 'normatizado' e observa, em última análise, ao sistema de gestão implementado
no conglomerado empresarial", descreve a PF.
"Era uma
estrutura profissional de pagamento de propina dentro da Odebrecht e que não se
limita a casos esporádicos. Eram pagamentos sistemáticos", resumiu a
procuradora Laura Gonçalves Tessler. Além de propinas em empreendimentos
ligados à Petrobras, há indícios de pagamento de propina pela Odebrecht também
nas áreas de óleo e gás, ambiental, infraestrutura e em estádios de futebol,
por exemplo.
O departamento da
propina era composto, além de Maria Lúcia, de Hilberto Mascarenhas Alves da
Silva Filho, superior hierárquico da secretária, e também de Ângela Palmeira
Ferreira, Alyne Nascimento Borazo e Audenira Jesus Bezerra. As duas últimas
davam apoio a Fernando Migliaccio da Silva, Luiz Eduardo da Rocha Soares e
Hilberto Silva. Outros executivos de alto escalão também integravam o sistema -
incluindo o herdeiro Marcelo Odebrecht, ele próprio responsável por liberar
diretamente a propina ao
marqueteiro do PT João Santana.
Os investigadores
apreenderam inúmeras planilhas e telas que indicam um sistema informatizado de
propina no qual os pagamentos e seus destinatários são ocultados por codinomes
e senhas, sempre relacionado a altos valores, tanto em reais quanto em dólares
e euros. "A menção a 'lançamentos', 'saldos', 'liquidação' e 'obras' não
deixa qualquer margem para interpretação diversa: trata-se de contabilidade
paralela, destinada a embasar pagamentos de vantagens indevidas pelo
grupo", diz relatório da PF. O sistema eletrônico contava até mesmo com um
balanço de todas as contas paralelas geridas pelo Setor de Operações
Estruturadas.
Apenas uma dessas
contas registrava o saldo de 65 milhões de reais em novembro de 2015. Tais
contas eram também abastecidas com dinheiro de contas da Odebrecht no exterior.
" O conjunto do material permite inferir que se tratam, em sua maioria, de
valores empregados para entregas de dinheiro em espécie em locais
predeterminados, a mando de executivos da Odebrecht com o apoio da equipe do Setor
de Operações Estruturadas", diz a PF.
Além do MyWebDay, a
Odebrecht contava com o sistema Drousys, que tornava mais segura a comunicação
do departamento. Todos os pedidos de entrega de dinheiro trafegavam por esse
sistema. Todos os usuários possuíam um login próprio, que escondia sua
identidade. Migliaccio, por exemplo, era Waterloo, e Maria Lúcia, Túlia. Os
operadores financeiros também possuíam logins próprios. Também salienta a PF:
"Em algum momento em 2015, o sistema foi terminado, em clara tentativa de
destruir evidências relativas aos ilícitos perpetrados pelo Setor de Operações
Estruturadas".
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