Maior partido do país, PMDB comanda simultaneamente a Câmara e o Senado e participou de todos os governos desde 1989
Michel Temer pode ser o terceiro vice-presidente filiado ao PMDB ao chegar à presidência da República
Paulo Veras
Fundado há 50 anos como a oposição consentida à ditadura militar, o PMDB está em êxtase com a possibilidade de voltar à Presidência da República com o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Presidente nacional do partido, Michel Temer pode ser o terceiro peemedebista a assumir o Palácio do Planalto nas últimas três décadas. Os outros dois, José Sarney e Itamar Franco, também eram vices que estavam no lugar certo quando os titulares faltaram.
O PMDB é a maior máquina partidária do país. Tem 2,3 milhões de filiados, segundo os registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Governa sete estados, onde estão 40,5 milhões de habitantes (quase 20% da população brasileira). Também é o maior partido na Câmara e no Senado, com 65 deputados federais e 18 senadores. E comanda simultaneamente as duas Casas, com Eduardo Cunha (RJ) e Renan Calheiros (AL); ambos investigados pela Lava Jato.
“O PMDB é o partido mais bem sucedido do Brasil hoje”, afirma o cientista político Rafael Lameira, especialista em teoria partidária. “Ele vem sendo muito eficiente naquilo o que é o objetivo de um partido político, que é estar no poder para ganhar para si o maior número de recursos possíveis. Desde cargos, votos e até recursos de corrupção”, diz.
O PMDB aparece em segundo lugar em um ranking elaborado pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), segundo o qual 66 políticos da sigla foram cassados por corrupção entre os anos de 2000 e 2007. Em 2012, a Justiça Eleitoral também rejeitou o registro de 49 candidatos a prefeito do partido pela Lei da Ficha Limpa.
Em sua dissertação de mestrado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o cientista político Paulo Victor Teixeira Pereira de Melo investiga os motivos pelos quais o PMDB se mantém no centro do jogo político do país, mesmo não disputando eleição há 22 anos. Desde a redemocratização, há pelo menos um ministro do partido nas gestões de todos os presidentes. Mesmo agora, rompido com Dilma, peemedebistas mais alinhados ao governo ainda comandam os ministérios da Saúde e da Agricultura, responsáveis por um orçamento de mais de R$ 90,4 bilhões.
A principal tese é a de que o PMDB sempre abrigou múltiplas ideologias, o que lhe permite dialogar com governos das mais diversas matizes políticas. Herança da sua formação, quando todos que faziam oposição aos militares tiveram que se unir na mesma agremiação, fossem egressos da UDN, do PDS, do PTB ou dos clandestinos PCB e PCdoB.
Nome histórico do partido em Pernambuco, o advogado Dorany Sampaio diz que a sigla está preparada para voltar à presidência. “Temer é um conciliador, que tem um largo espectro de amizades. Ele não tem rejeição de ninguém do partido”, justifica. Ele também defende candidatura própria em 2018. Em sua maior votação para presidente, o PMDB teve apenas 4,7% dos votos. Foi em 1989, na primeira eleição direta, tendo Ulysses Guimarães como candidato.
Para Lameira, um governo Temer pode não ser tão tranquilo. Ele terá que enfrentar a resistência do PT e dos sindicatos, saciar o apetite por cargos do próprio partido, cumprir os compromissos com legendas aliadas e adotar a agenda de corte de gastos sinalizada para o mercado. “Ele pode acabar se enfraquecendo como o Sarney. Não acredito que ele vá ter um governo estável”, analisa.
O JC procurou o ex-ministro Moreira Franco, presidente da Fundação Ulysses Guimarães do PMDB. Braço direito de Temer, ele preferiu não dar entrevista. Por conta de reuniões e viagens, o deputado federal Jarbas Vasconcelos e o vice-governador Raul Henry, presidente estadual da sigla, não conseguiram atender a reportagem.
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