Segundo a força-tarefa, ex-secretário do PT foi identificado como um dos destinatários da propina recolhida pelo partido no escândalo da Petrobras
Por: Laryssa Borges, de Brasília
Responsável direto pelo loteamento
de 32.000 cargos comissionados no início do governo Lula, o ex-secretário do PT
Silvio Pereira, preso nesta sexta-feira na 27ª fase da Operação Lava Jato,
recebeu pelo menos 508.000 reais da UTC e 486.000 reais da OAS, duas das
empreiteiras investigadas no escândalo do petrolão, por meio da empresa dele, a
DNP Eventos Ltda. Ao todo, foram contabilizados repasses de cerca de 1,6 milhão
de reais de fornecedores da Petrobras ou de operadores investigados no esquema
de corrupção da petroleira. Segundo os investigadores, "é provável que
tais pagamentos se refiram à 'mesada' que o PT destinou a Silvio Pereira por
intermédio de desvios em contratos que a UTC e a OAS mantinham com a
Petrobras".
Segundo a
força-tarefa da Lava Jato, Silvinho Pereira foi identificado como um dos
destinatários da propina recolhida pelo PT no escândalo da Petrobras e apontado
como alvo de uma mesada para que permanecesse em silêncio e não revelasse
detalhes de outro esquema de corrupção gestado pelo partido, o mensalão. O
Ministério Público também atribuiu ao ex-secretário petista o papel de ser o
"contato direto com os empresários que mantinham contratos com a Petrobras
para angariar propina para o Partido dos Trabalhadores".
Além dos
pouco mais de 500.000 reais repassados pelas empreiteiras, a empresa Central de
Eventos e Produções Ltda, também do petista, mantinha relacionamentos
financeiros com outras empresas investigadas na Operação Lava Jato. Recebeu,
por exemplo, pouco mais de 400.000 reais entre 2007 e 2009 de Julio Cesar dos
Santos e da TGS Consultoria, ligadas ao ex-ministro José Dirceu, e da SP
Terraplenagem, relacionada ao operador de propinas Adir Assad. A Central de
Eventos teve Julio Cesar como sócio e também embolsou recursos provenientes de
campanhas eleitorais do PT.
A DNP
Eventos também apresentou recebimentos das empresas Projetec e Treviso, dos
delatores da Lava Jato Augusto Mendonça e Julio Camargo, e embolsou
aproximadamente 250.000 reais de serviços supostamente prestados nas campanhas
de candidatos do PT na eleição municipal de 2012. Para os investigadores,
porém, "é provável que tais pagamentos se refiram à 'mesada' que o PT
destinou a Silvio Pereira por intermédio de desvios em contratos que a UTC e a
OAS mantinham com a Petrobras" em um "cenário de prática habitual de
crimes e de total descaso com a Justiça".
"As
evidências colhidas até o presente momento comprovaram que Silvio José Pereira
recebeu relevantes recursos do Partido dos Trabalhadores e por empresas
envolvidas na Operação Lava Jato, ao que tudo indica, sem nenhuma prestação de
serviços que justificasse os repasses que somam aproximadamente R$ 1,6 milhão,
sendo certo que esses recursos, ao menos em parte, foram provenientes de desvios
da Petrobras", conclui o MP.
Em acordo
de delação premiada, o lobista e operador de propinas do PT Fernando Moura
disse que os petistas consideravam "aceitável" receber dinheiro por
meios ilícitos para financiar a legenda. Aos procuradores do Ministério Público,
Moura detalhou a atuação dele em parceria com o ex-secretário-geral do PT,
Silvio Pereira, responsável pelo loteamento de cargos no início do primeiro
mandato do ex-presidente Lula.
Apenas no
ano de 2005, depois de passar dois anos recolhendo recursos para serem
repassados ao PT, os negócios obscuros do lobista Fernando Moura perderam
força. Segundo o delator, ele foi aconselhado pelo próprio José Dirceu, naquela
época enfrentando processo de cassação na Câmara dos Deputados, a deixar o país
para não levantar suspeitas. Moura relata que, com o mensalão, recebeu um
"cala-boca" de empresas que tinham contato com o governo federal,
enquanto Silvio Pereira, também investigado na época como mensaleiro, teria
recebido a mesma mensagem da UTC e da OAS para não revelar o modus operandi instalado na Petrobras.
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