quinta-feira, maio 12, 2016

GIRO IMPEACHMENT: Senado afasta Dilma do Planalto / PSDB e DEM ensaiam discurso pós-oposição / Líder profundamente impopular

Senado afasta Dilma do Planalto. E interrompe o projeto de poder petista
Presidente ficará fora do cargo por até 180 dias, prazo que a Casa tem para julgá-la em definitivo. Suas chances de voltar ao posto estão cada vez mais distantes


FORA – Presidente Dilma Rousseff ficará afastada do cargo até julgamento final(Ueslei Marcelino/Reuters)

Por Laryssa Borges, Marcela Mattos, Felipe Frazão, Eduardo Gonçalves e João Pedroso de Campos, de Brasília

Às 6h34 desta quinta-feira, o painel do Senado Federal confirmou o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República. Por 55 votos a 22, sem abstenções, os senadores decidiram que a petista deve ser julgada por crime de responsabilidade. Mas o resultado representa muito mais: com a possibilidade de que Dilma se safe na votação final hoje muito distante, a Casa começou a pôr fim à era PT no comando do país. Os 13 anos do partido à frente do Planalto se encerram de maneira melancólica - com a legenda imersa em escândalos e incapaz de salvar uma presidente que, ao fim e ao cabo, cai por culpa de sua própria incompetência.
Diante das crises política, econômica e ética em que o governo Dilma submergiu o país, o afastamento da petista representa o primeiro passo rumo à recolocação do Brasil nos trilhos. Mas exigirá do peemedebista Michel Temer que se coloque à altura do desafio: afinal, a saída de Dilma não tem o condão de sanar o atoleiro econômico do país. Ou de reduzir o justo descontentamento nacional com a classe política diante dos escândalos que há dois anos a Operação Lava Jato começou a desvendar. Será uma dura missão para Temer.

Dilma pode ficar até 180 dias afastada do comando do país, enquanto o Senado se volta ao julgamento do processo que tramita contra ela. Segundo a expectativa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), contudo, em até quatro meses a petista enfrentará a derradeira votação - aquela do plenário da Casa, que pode resultar em seu impeachment e inelegibilidade por oito anos.

Reclusa nos palácios da Alvorada e do Planalto, a presidente acompanhou com os poucos aliados que lhe restam as mais de 20 horas de discursos no plenário do Senado. Havia desistido, ainda na terça-feira, de descer a rampa do Planalto após receber a notificação oficial de seu afastamento. Julgou que isso prejudicaria seu discurso de 'resistência contra um golpe' - discurso que planeja seguir martelando, ainda que lhe falte qualquer respaldo na realidade. Dilma ameaça recorrer à Comissão Interamericana dos Direitos Humanos e seguir apelando ao Supremo Tribunal Federal - que já lhe impôs uma sucessão de derrotas. Ambas as empreitadas devem ser em vão. Os ministros do STF foram justamente os responsáveis por definir o rito do impeachment ora seguido pelo Congresso. Sem que o governo tenha levantado argumentos que justificassem uma revisão das decisões dos parlamentares, negaram todos os recursos já impetrados até aqui pelo governo contra o processo, incluindo o mandado de segurança apresentado na terça-feira.
Ao negar o recurso, o ministro Teori Zavascki utilizou-se de um argumento que indica as escassas chances de vitórias futuras do governo na judicialização do impeachment. "Não há base constitucional para qualquer intervenção do Poder Judiciário que, direta ou indiretamente, importe juízo de mérito sobre a ocorrência ou não dos fatos ou sobre a procedência ou não da acusação. O juiz constitucional dessa matéria é o Senado Federal, que, previamente autorizado pela Câmara dos Deputados, assume o papel de tribunal de instância definitiva, cuja decisão de mérito é insuscetível de reexame, mesmo pelo Supremo Tribunal Federal. Admitir-se a possibilidade de controle judicial do mérito da deliberação do Legislativo pelo Poder Judiciário significaria transformar em letra morta o art. 86 da Constituição Federal", escreveu o magistrado. À perdedora, resta o infrutífero discurso de vitimização. E do medo.

Na iminência de ver o processo de impeachment consolidado, a cúpula petista e a própria presidente agora afastada vituperaram, em uma versão ampliada do terrorismo eleitoral levado a cabo em 2014, que Michel Temer acabaria com programas sociais e cortaria direitos trabalhistas. Enunciado esperado de quem promoveu o aviltamento da Presidência da República, afundou o país em uma dolorosa crise econômica e insiste na retórica irredimível de que misteriosas "forças conservadoras" querem apeá-la do poder - apesar da maciça rejeição ao seu governo estampada nas pesquisas de opinião.

O impeachment, que deu mais um passo hoje com a aprovação em plenário do relatório do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), é um processo jurídico-político e no Congresso respeitou o amplo direito de defesa e o contraditório. O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, apresentou em três ocasiões - apenas no Senado - a defesa da presidente contra as acusações de pedaladas fiscais e de maquiagem das contas públicas com a liberação de créditos suplementares. Em outras três, apresentou diante de deputados a defesa da petista nas sessões da Câmara.

Ao contrário do que insiste em afirmar no festival de inaugurações que promoveu no fim de seu governo, Dilma não está - como nenhum político eleito democraticamente - imune a questionamentos de legitimidade, mesmo com os 54 milhões de votos que as urnas lhe outorgaram em 2014.

A partir desta quinta-feira, o terceiro andar do Palácio do Planalto será ocupado por um novo inquilino. Michel Temer chega à Presidência com predicados de que Dilma nunca dispôs, como a habilidade no trato político. Mas a crise é profunda, e não há espaço para erros nem hesitação.

PSDB e DEM ensaiam discurso pós-oposição. PT segue perplexo

Senador Aécio Neves (PSDB-MG) pediu unidade nacional após decisão do Senado que confirmou a suspensão do mandato de Dilma

Por: Marcela Mattos, de Brasília


Após mais de 20 horas, Senado aprova processo de impeachment e afasta Dilma Rousseff - 12/05/2016(VEJA.com/Ag. Senado)

Depois de quase catorze anos na oposição, as legendas adversárias do PT preparam-se agora para mudar de lado - e colaborar com o governo interino de Michel Temer, que será notificado sobre o afastamento de Dilma Rousseff às 11h desta quinta-feira. Derrotado pela hoje afastada presidente Dilma Rousseff nas eleições de 2014, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) pediu unidade nacional após decisão do Senado que confirmou a suspensão do mandato de Dilma. "É preciso que todos nós nos unamos, todos nós possamos dar nossa contribuição para que essa nova página seja escrita", afirmou.

Aécio prevê que o afastamento de até 180 dias seja um caminho sem volta para Dilma e que, portanto, Temer conclui o mandato de sua antecessora. O tucano evitou falar de participação direta no governo do peemedebista e disse que a contribuição que seu partido poderá dar será refletida no apoio à aprovação de propostas estruturantes, como a reforma política. "O que esperamos é que o governo que agora assume, com base no que determina a Constituição, se coloque à altura das expectativas e dos enormes desafios do país. Um governo enxuto, um governo efetivo do ponto de vista das propostas que venha a apresentar e que já hoje, no máximo amanhã, apresente ao Congresso Nacional um conjunto de medidas que sinalize de forma clara para o início de uma nova fase na história do Brasil", afirmou o tucano.

Na mesma linha, o líder do DEM, senador Ronaldo Caiado (GO), fala em "avaliar" as propostas do governo Temer e cobra que o novo presidente coloque em prática a pauta construída pelos movimentos de rua e pela sociedade brasileira. Assim como Aécio, ele cobra que o peemedebista reduza a máquina pública. "Agora a responsabilidade do novo presidente Michel Temer é fazer sua tarefa de casa, cortar na carne, cortar ministérios, cortar mordomias e comissionados. É mostrar exatamente à população que nós não podemos mais conviver com a prática nem o modelo político-partidário implantado pelo PT", afirmou.

Já entre os poucos aliados de Dilma que restaram, o clima é de perplexidade e de procura por uma solução que evite a confirmação do impeachment da petista. Líder do governo no Senado, Humberto Costa (PE) voltou a falar em "golpe" contra a presidente afastada e prevê uma "luta" em diversas frentes - no Congresso, nas ruas e no poder Judiciário. Ele, porém, não disse se o partido irá recorrer da decisão e admite dificuldade em reverter o resultado: "Em princípio, o Supremo Tribunal Federal tem dito que esse é um problema que o Senado tem de resolver", afirmou.


Em momento raro no PT, Costa ainda reconheceu os equívocos da gestão de Dilma que levaram ao seu afastamento: "O governo, na sua relação com o Congresso Nacional, deixou a desejar. Nós não tivemos o diálogo que era necessário, falhamos na comunicação com a sociedade, erramos vários pontos na política econômica e chegamos a essa situação", afirmou. O líder petista, por outro lado, exaltou políticas públicas do governo do PT e evitou o tom derrotista: "Muito em breve nós vamos estar de volta", ameaça.

'Líder profundamente impopular': noticiário internacional repercute afastamento de Dilma

Decisão do Senado foi destaque em alguns dos principais veículos de comunicação do mundo


Jornal americano 'The New York Times' repercute afastamento da presidente Dilma Rousseff(Reprodução/VEJA)

O Senado Federal brasileiro aprovou, na manhã desta quinta-feira, o afastamento da presidente Dilma Rousseff da Presidência da República. A notícia teve forte repercussão no noticiário internacional, que há semanas vem dando destaque ao processo de impeachment da petista.

O jornal americano The New York Times se referiu a Dilma como "uma líder profundamente impopular" que provocou "a raiva pública generalizada de um sistema corrupto e uma economia maltratada". A publicação lembrou que o país passará a ser governado pelo vice-presidente, Michel Temer, "que tem sido acusado por violar limites de financiamento de campanha e agora estará sobre enorme pressão política para conter a pior crise política do Brasil em décadas". O texto ainda ressalta que a crise política brasileira acontece "enquanto o país luta para conter a propagação do Zika vírus e apenas a meses dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro". Já a emissora CNN considera que o processo de impeachment de Dilma "não será totalmente calmo", já que seus apoiadores "se comprometeram a tomar as ruas em retaliação, garantindo uma longa e potencialmente confusa batalha pela frente".
O jornal britânico The Guardian ressaltou que Dilma foi a primeira mulher a se tornar presidente do Brasil e que a sua popularidade "despencou junto com a economia". A publicação lembrou que seu afastamento acontece "a menos da metade do fim de seu mandato" e "coloca problemas econômicos, paralisia política e alegadas irregularidades fiscais à frente dos 54 milhões de votos que a puseram no cargo". O texto ainda afirma que muitos dos senadores que vão julgá-la "são acusados de crimes ainda mais graves" e que o "impeachment é mais político do que jurídico".

Ainda na Grã-Bretanha, o jornal Financial Times afirmou que "é provável que Dilma perca o seu eventual julgamento" e que, se isso acontecer, a presidente deixará o cargo a dois anos e sete meses do fim de seu mandato. "Isso também dará fim a 13 anos de governo de seu partido de esquerda, o PT, o mais recente movimento para o centro na política da América do Sul, que vive o fim de seu boom econômico". A publicação também faz um questionamento sobre Michel Temer: "Cerimonioso e de fala mansa, com reputação de ser como uma esfinge, o advogado de 75 anos terá de lidar com três crises simultâneas. Ele estará à altura desta tarefa?", diz o texto, referindo-se às crises econômica, ética e política.

Le Monde, da França, lembrou que "a impopular presidente acusou diversas vezes o seu vice-presidente de um golpe de Estado", afirmando que Temer se tornou "um adversário da presidente desde março", com o fim da coalizão entre PMDB e PT. Já o espanhol El País chamou a votação do Senado desta quarta-feira de "histórica" e afirmou que Dilma deve sair do Palácio do Planalto pela porta principal, "um gesto explícito que quer dizer que ela acata mas não aprova a decisão".

(Da redação)

Postar um comentário

Blog do Paixão

Whatsapp Button works on Mobile Device only

Start typing and press Enter to search