quinta-feira, maio 12, 2016

Giro Impeachment: Dilma deixa o governo sem entender as instituições brasileiras / PT vai organizar viagens para Dilma / Choro dentro e fora do Planalto

Dilma deixa o governo sem ter entendido o que são as instituições brasileiras

A agora presidente afastada foi recebida do lado de fora do Planalto por aquele que a colocou lá: Luiz Inácio Lula da Silva. E se manteve firma na retórica do golpe

Por: Felipe Frazão, João Pedroso de Campos e Marcela Mattos


A presidente Dilma Rousseff faz pronunciamento após decisão do Senado Federal pelo seu afastamento do cargo - 12/05/2016(Pedro Ladeira/Folhapress)

Oficialmente afastada nesta quinta-feira do Palácio do Planalto, Dilma Rousseff insistiu em seu derradeiro discurso na ideia petista de que a democracia é simbolizada apenas pelo voto popular. Ao tachar novamente o processo de impeachment de golpe e questionar sua validade, ela mais uma vez ignorou as instituições que fazem do Brasil um Estado democrático de direito - e que chancelaram o processo que culminou no seu afastamento.
"É na condição de presidente eleita com 54 milhões de votos que eu me dirijo a vocês neste momento. O que está em jogo não é apenas o meu mandato. É o respeito às urnas, à vontade soberana do povo brasileiro e à Constituição." Dilma deixou o Planalto na sequência do discurso pela porta da frente e foi cumprimentar os militantes que a esperavam. Lá, foi recebida pelo padrinho político Luiz Inácio Lula da Silva.

Seguindo a tática que a levou ao segundo mandato, Dilma insistiu no discurso do medo. "O que está em jogo são as conquistas dos últimos treze anos, os ganhos das pessoas mais pobres e da classe média, a proteção às crianças, aos jovens chegando nas universidades, à valorização do salário mínimo", afirmou. "O que está em jogo é o futuro do país e a esperança de avançar sempre."

A agora presidente afastada culpou ainda a oposição pelo caos político e econômico em que sua própria incompetência mergulhou o Brasil. "Meu governo tem sido alvo de incessante sabotagem. Ao me impedirem de governar, criaram um ambiente propício ao golpe." Ela acusou os oposicionistas de "mergulhar o país na instabilidade para tomar à força o que não conquistaram nas urnas". Como de praxe, ignorou que seu vice Michel Temer, que assume nesta quinta-feira o Palácio do Planalto, foi eleito em sua chapa, com os mesmos 54 milhões de votos que ela recebeu.

Dilma deixou claro ao longo de todo o discurso que não reconhece a letra da Constituição que estabelece o impeachment - e as instituições que a fizeram ser cumprida. Embora o rito do impedimento tenha sido estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal e o processo conduzido pela Câmara e pelo Senado - cujos integrantes também são eleitos pelo voto popular -, Dilma negou sua validade. "Não cometi crime de responsabilidade. Não há razão para o impeachment. Não tenho contas no exterior, não compactuei com a corrupção. Esse é um processo frágil e injusto, desencadeado contra uma pessoa honesta e inocente." Ela classificou as ações que ensejaram a acusação de crime de responsabilidade contra si de "legais, corretas, necessárias e corriqueiras".

"O maior risco para o país nesse momento é ser dirigido pelo governo dos sem voto, que não foi eleito e não terá legitimidade para propor soluções", afirmou Dilma, que adotou na sequência uma retórica que beira o irresponsável: "Um governo que pode ser tentado a reprimir os que protestam contra ele, que nasce de um golpe". A petista ainda chamou os brasileiros à luta. "A luta pela democracia não tem data para terminar. É luta permanente e exige de nós mobilização constante. A luta contra o golpe é longa. Essa vitória depende de todos nós".

A petista discursou em ambiente claramente planejado para disfarçar seu isolamento: cercada de seus agora ex-ministros e por parlamentares do que restava de sua base. Dilma foi ladeada pelo fiel escudeiro Giles Azevedo e pela ministra Eleonora Menicucci. Embora tenha falado em resistir, ao longo de todo discurso a presidente deu mostras de que nem ela própria crê no seu retorno ao prédio que acaba de deixar: embora, a rigor, só comece agora o julgamento do mérito do impeachment, todos os verbos de seu discurso falavam de um governo que já acabou. Ao sair do Planalto, Dilma foi recebida por uma militância que mal encheu o gramado. E também por aquele responsável por colocá-la no posto. Lula não falou, mas seu semblante abatido e choroso deixou evidente: o PT não acredita que voltará ao poder ao fim deste processo.


PT vai organizar viagens para Dilma e gabinete paralelo ao de Temer, diz Mercadante

Ex-integrantes do primeiro escalão de Dilma devem acompanhar as primeiras ações do governo interino do vice-presidente Michel Temer (PMDB). A base dos ministros será em Brasília (DF), em local a ser definido, mas o espaço poderá funcionar na sede do PT

Por: Felipe Frazão, de Brasília



A presidente Dilma Rousseff faz pronunciamento após decisão do Senado Federal pelo seu afastamento do cargo - 12/05/2016(Evaristo Sa/AFP)

O PT vai planejar com organizações e movimentos sociais de esquerda da Frente Brasil Popular uma agenda de viagens e atos políticos pelo país a ser cumprida pela presidente afastada Dilma Rousseff com parlamentares e seus ex-ministros.

Ao mesmo tempo, os ex-integrantes do primeiro escalão de Dilma devem acompanhar, "cada um na sua área", as primeiras ações do governo interino do vice-presidente Michel Temer (PMDB), conforme disse o ex-ministro Aloizio Mercadante. A base dos "ministros" será em Brasília (DF), em local a ser definido, mas o espaço poderá funcionar na sede do PT. Eles não devem montar escritório no Palácio da Alvorada, residência de Dilma.

"A Frente Brasil Popular vai fazer um calendário de mobilizações pelo país e vamos para o debate político, tanto na defesa de mérito, porque isso é a abertura de um processo (de impeachment contra Dilma), quanto na defesa do nosso legado, das nossas políticas. Esse é um enfrentamento que vai ter que ser feito", disse o agora ex-ministro da Educação Aloizio Mercadante (PT), um dos mais próximos da presidente nos dois mandatos. "Ficarei em Brasília à disposição dela. Eu e todos os ministros vamos dar absoluta prioridade a essa agenda. Vou trabalhar nisso tempo integral e dedicação exclusiva, não tenho outra pauta."

O ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão afirmou que vai se apresentar de volta ao Ministério Público Federal, mas pode até tirar férias do órgão. Ele já havia dito antes que estaria à disposição de Dilma se ela o chamasse.

O ex-advogado-geral da União José Eduardo Cardozo (PT) afirmou que conseguiu aval da Comissão de Ética da Presidência da República para se manter à frente da defesa de Dilma na comissão processante do Senado.

Na despedida de Dilma, choro dentro e fora do Planalto


No lado de fora do Palácio do Planalto, militantes de movimentos sociais choram devido ao afastamento de Dilma Rousseff, em Brasília(Felipe Frazão/Veja/VEJA)

Ao longo da declaração final da presidente Dilma Rousseff a jornalistas no Palácio do Planalto, o choro ficou evidente no rosto dos deputados Zé Geraldo (PT-PA) e Silvio Costa (PTdoB-PE), da ex-ministra Miriam Belchior (PT), da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e do ex-ministro Carlos Gabas. Vanessa e Miriam tiveram que enxugar o rosto em público - a presidente da Caixa chegou a ser amparada pela ex-ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente). Os ex-ministros Eugênio Aragão (Justiça), Tereza Campello (Desenvolvimento Social) e Nilma Lino Gomes (Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos) também estavam muito abatidos, mas conseguiram se conter. Quando saíram do isolamento palaciano, os ex-ministros Edinho Silva, Aloizio Mercadante e Gilberto Carvalho tiveram que amparar dezenas de militantes aos prantos agarrados às grades de segurança.


 (Felipe Frazão, de Brasília)


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