Pesquisadores devem levar pelo menos cinco anos para concluir vacina
contra o Zika
Equipe combate o mosquito Aedes
aegypti, transmissor do vírus da Zika, no Rio de Janeiro durante o Carnaval
deste ano(Leo Correa/AP)
Pesquisadores ainda devem demorar pelo menos cinco anos até
disponibilizar uma vacina contra o Zika, vírus já disseminado em todos os
estados brasileiros e em cerca de 40 países e territórios. A previsão é o
vice-diretor do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, José Cerbino
Neto. "Isso envolve o desenvolvimento de adjuvantes, de estratégias
vacinais, de modelos experimentais para persistência e resistência da infecção.
Além disso, o produto tem que estar em condição de testagem humana, e isso leva
tempo, e também leva tempo os estudos de fase um, dois e três", disse
Cerbino Neto, em audiência pública na Câmara dos Deputados na quinta-feira (5).
Para o desenvolvimento de um imunizante, são necessárias várias etapas,
que vão desde a decisão de que tipo de tecnologia será usada até a comparação
entre grupos que foram imunizados e que não foram. A primeira vacina contra a
dengue, por exemplo, desenvolvida pelo laboratório francês Sanofi Pasteur,
levou 20 anos para ser concluída. Mas os especialistas ressaltam que, enquanto
a dengue tem quatro subtipos, o zika só tem um, o que facilitaria. "Temos
um horizonte de pelo menos cinco anos, antes disso, acho que a gente não tem
como ter uma resposta mais concreta sobre a eficácia dessa vacina".
Na audiência, Cerbino Neto ressaltou que o vírus Zika se espalhou mais
rapidamente do que a dengue e a chikungunya, vírus transmitidos pelo mesmo
vetor, o Aedes aegypti. "A gente tem relatos da identificação do vírus em
outros fluidos corporais, mas não temos como afirmar que há transmissão por
essas outras vias nem qual o risco dessas transmissões", relatou o
especialista.
Também em audiência na Câmara dos Deputados nesta semana, a pesquisadora
Adriana Melo, presidente do Instituto de Pesquisa Prof. Joaquim Amorim Neto
(Ipesq), sediado em Campina Grande, Paraíba, disse que o vírus pode ser
encontrado na saliva, mas não se sabe se é possível passar a doença para outra
pessoa por esse meio. "Estamos coletando saliva no instituto para
enviarmos para a UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro] para que seja
analisada a possibilidade de esse fluido transmitir a doença", disse a
pesquisadora. A transmissão sexual já foi relatada em artigos científicos, mas
ainda é objeto de estudos dos pesquisadores.
Outro alvo de pesquisa, segundo Cerbino Neto, é a proporção de infecções
assintomáticas pelo vírus. Apesar de o Ministério da Saúde, desde o começo da
epidemia, dizer que 80% das infecções são assintomáticas, o vice-diretor disse
que ainda não se pode fazer esta afirmação com convicção. "A gente não tem
uma sorologia confiável, que permita fazer o critério sorológico e saber
quantas pessoas se infectaram sem que tenham desenvolvido os sintomas". A
sorologia é um exame que permite saber se uma pessoa foi infectada por um
vírus, mesmo depois de os sintomas desaparecerem.
Transmitido por um mosquito já bem conhecido dos brasileiros, o Aedes
aegypti, o vírus Zika começou a circular no Brasil em 2014, mas teve os
primeiros registros feitos pelo Ministério da Saúde em maio de 2015. O que se
sabia sobre a doença, até o segundo semestre do ano passado, era que sua
evolução costuma ser benigna e que os sintomas, geralmente erupção cutânea,
fadiga, dores nas articulações e conjuntivite, além de febre baixa, eram mais
leves do que os da dengue e da febre chikungunya, também transmitidas pelo
mesmo mosquito.
Porém, em outubro de 2015, exame feito pela médica especialista em
medicina fetal, Adriana Melo, descobriu a presença do vírus no líquido
amniótico de um bebê com microcefalia. Em 28 de novembro, o Ministério da Saúde
confirmou que, quando gestantes são infectadas pelo vírus, podem gerar crianças
com microcefalia, uma malformação irreversível do cérebro que pode vir
associada a danos mentais, visuais e auditivos. Pesquisadores confirmaram que a
Síndrome de Guillain-Barré também pode ser ocasionada pelo Zika.
De acordo com o primeiro boletim da doença divulgado pelo Ministério da
Saúde, em fevereiro e março deste ano foram notificados 91.387 casos prováveis
de infecção por zika no país. A chegada do vírus ao Brasil elevou o número de
nascimentos de crianças com microcefalia de 147, em 2014, para pelo menos 1.271
casos de outubro do ano passado a 30 de abril deste ano.
Da Agência Brasil
A atividade física emagrece? A ciência finalmente responde
De acordo com a análise de 60 estudos científicos,
os exercícios, embora essenciais para a saúde, são muito pouco eficazes quando
a meta é perder peso
Por: Carolina Melo
Embora essenciais para a saúde,
pesquisas mostram que os exercícios físicos não são a melhor estratégia para
perder peso(VEJA.com/VEJA)
É comum ouvir entre os que frequentam academias de ginástica que
pretendem malhar o dobro na segunda-feira para compensar as refeições calóricas
do fim de semana. Há o senso comum de que o consumo excessivo de calorias pode
ser revertido pelo simples fato de praticar atividades físicas. E se todo esse
esforço tivesse pouquíssimo impacto no emagrecimento?
Pois a jornalista americana Julia Belluz, especialista da área de saúde,
fez uma análise com base em mais de 60 artigos científicos sobre exercícios e
perda de peso. Julia conversou com nove pesquisadores que atuam nessa área. A
conclusão, publicada no site de notícias Vox, revelou que para quem quer
emagrecer, a atividade física não é a melhor solução. Pelo contrário: ela pode
passar uma falsa impressão de eficácia e dificultar a luta contra a obesidade,
já que muitos se alimentam mal por acreditar que o hábito é reparado pelas
horas extras de malhação.
De acordo com Alexxai Kravitz, neurocientista e pesquisador sobre
obesidade do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH), dependendo
do organismo de uma pessoa comum - excluindo os atletas e os profissionais que
trabalham com atividade física - é possível queimar apenas entre 10% e 30% da
energia realizando exercícios diariamente.
Deve-se levar em consideração que 100% da energia do organismo vem por
meio dos alimentos. Isso sugere que a melhor solução para perder peso está no
mesmo local onde se inicia todo o processo de engordar: na boca. Os verdadeiros
impactos no corpo são notados quando a pessoa passa também a administrar melhor
o quanto se consome e que tipo de alimentos está ingerindo.
Diz o nutrólogo Daniel Magnoni, do Hospital do Coração, em São Paulo
"A combinação entre dieta balanceada e atividade física é essencial. Mas
não basta apenas reduzir gasto calórico, pois o corpo busca energia nos
músculos -- o que é ainda pior. Mas também não dá para acreditar que é possível
perder peso apenas caminhando meia hora diariamente".
Uma das pesquisas mais interessantes sobre o assunto foi conduzida pelo
antropólogo americano Herman Pontzer, da Universidade Hunter de Nova York. Ele
analisou o comportamento de uma tribo remota da Tanzânia que vive da caça e da
coleta. Durante 11 dias acompanhou os hábitos de 30 pessoas dessa sociedade,
coletando informações sobre a queima calórica de todos eles. As análises foram
feitas com o auxílio de uma técnica que consegue medir a quantidade de dióxido
de carbono que é liberada na medida em que o organismo gasta energia.
O pesquisador esperava encontrar resultados que mostrassem que aquela
tribo queimava muito mais calorias do que as pessoas que vivem nas sociedades
modernas, já que o grupo estudado na Tanzânia costumava se movimentar com
frequência durante o dia e era formado por pessoas magras. Entre as atividades,
era comum correr para perseguir animais durante a caça, subir em árvores,
plantar e empilhar alimentos. Surpreendentemente, o gasto de energia entre os
integrantes da tribo estudados foi o mesmo que é observado entre pessoas dos
Estados Unidos e Europa, que levavam uma vida comum. O estudo, embora pequeno,
reforça a ideia de que a atividade física tem efeitos modestos na perda de
peso.
Há também as linhas de pesquisa que analisam o efeito rebote dos
exercícios na alimentação, fazendo uma associação entre a prática de atividade
física e a quantidade de alimentos consumidos. Um estudo realizado em 2009 por
um grupo de pesquisadores americanos revelou que as pessoas tendem a aumentar o
consumo de alimentos após realizar exercícios -- seja porque acreditam que a
queima calórica durante a atividade foi suficiente para compensar a refeição ou
simplesmente porque sentiram mais fome. É como se as pessoas superestimassem o
valor da atividade praticada e por isso comessem mais.
Para o fisiologista e matemático Kevin Hall, do Instituto Nacional de
Diabetes e Doenças Digestivas e Renais do NIH, uma fatia de pizza seria capaz
de desfazer todo o esforço adquirido durante horas de exercício.
A importância da atividade física para a saúde, contudo, não é
questionada e se mantém fundamental para um corpo e mente saudáveis. Os
benefícios vão desde a redução da pressão arterial, taxas de triglicérides no
sangue e riscos de desenvolver diabetes tipo 2 até melhor desempenho em
habilidades cognitivas.
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