Ele é o segundo ministro a deixar cargo por gravações de Sérgio Machado.
Do G1, em Brasília
O ministro da
Transparência, Fiscalização e Controle, Fabiano Silveira, deixou nesta
segunda-feira (30) o comando da pasta.
Ele enviou
carta de demissão ao presidente Michel Temer na qual afirma que, "não
obstante o fato de que nada atinja a minha conduta, avalio que a melhor decisão
é deixar o Ministério" (leia a íntegra da carta ao final desta
reportagem). O secretário-executivo, Carlos Higino Ribeiro Alencar, assume
interinamente.
A decisão do
ministro foi tomada após ter sido divulgado neste domingo (29) teor de sua
conversa com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), na qual ele criticou a condução da Operação Lava Jato pela
Procuradoria Geral da República (PGR).
Reportagem
exclusiva do Fantástico revelou gravações na qual
Fabiano Silveira, além criticar a Operação Lava Jato, dá orientações a Renan
Calheiros e ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado – ambos investigados
no esquema de corrupção que atuava na Petrobras (assista ao vídeo
acima). A conversa foi gravada por Machado, novo delator da Lava Jato, em
24 de fevereiro.
A revelação
motivou protestos. Chefes regionais do ministério começaram
a entregar os cargos nos estados, em protesto.Servidores do ministério, sindicato e organizações
como a Transparência Internacional pressionaram
pela saída do ministro.
Na carta de
demissão, Fabiano Silveira afirma que não fez "nenhuma oposição" ao
trabalho do Ministério Público.
"Foram
comentários genéricos e simples opinião, decerto amplificados pelo clima de
exasperação política que todos testemunhamos. Não sabia da presença de Sérgio
Machado. Não fui chamado para uma reunião. O contexto era de informalidade
baseado nas declarações de quem se dizia a todo instante inocente", diz
Silveira no texto da carta.
Na nota,
Silveira, que é funcionário de carreira do Senado e foi integrante do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), também disse que não atuou em favor de Renan Calheiros.
"Reitero
que jamais intercedi junto a órgãos públicos em favor de terceiros. Observo ser
um despropósito sugerir que o Ministério Público possa sofrer algum tipo de
influência externa, tantas foram as demonstrações de independência no
cumprimento de seus deveres ao longo de todos esses anos", afirmou.
Nesta segunda,
Renan Calheiros, apontado como o responsável pela indicação de Fabiano Silveira
para ministro, divulgou nota na qual afirmou que não faz indicações para
cargos no governo.
Encontro com
Temer
Na noite de domingo (29), Silveira se encontrou com o presidente em exercício Michel Temer. Na reunião, Temer havia avaliado que o caso de Fabiano Silveira era “menos grave” que o do senador Romero Jucá (PMDB-RR), flagrado em gravações de Sérgio Machado sugerindo um "pacto" para barrar a Operação Lava Jato. Em razão da repercussão negativa dos áudios, Jucá teve de deixar o comando do Ministério do Planejamento.
Na noite de domingo (29), Silveira se encontrou com o presidente em exercício Michel Temer. Na reunião, Temer havia avaliado que o caso de Fabiano Silveira era “menos grave” que o do senador Romero Jucá (PMDB-RR), flagrado em gravações de Sérgio Machado sugerindo um "pacto" para barrar a Operação Lava Jato. Em razão da repercussão negativa dos áudios, Jucá teve de deixar o comando do Ministério do Planejamento.
O conteúdo da
gravação de Silveira gerou intensa repercussão política em Brasília nesta
segunda-feira. Enquanto parlamentares da base aliada de Temer cobraram
explicações públicas do ministro, a oposição exigiu a saída de Fabiano
Silveira do governo. À tarde, o presidente em exercício decidiu não demitir o
ministro, à espera da repercussão política do
caso.
Servidores
Na manhã desta segunda, o Sindicato Nacional dos Analistas e Técnicos de Finanças e Controle (Unacon Sindical) – entidade que representa os servidores da extinta Controladoria-Geral da União (CGU) e do Tesoureiro Nacional – cobrou, por meio de nota, a "exoneração imediata" do ministro da Transparência.
Na manhã desta segunda, o Sindicato Nacional dos Analistas e Técnicos de Finanças e Controle (Unacon Sindical) – entidade que representa os servidores da extinta Controladoria-Geral da União (CGU) e do Tesoureiro Nacional – cobrou, por meio de nota, a "exoneração imediata" do ministro da Transparência.
Além disso,
servidores da pasta organizaram uma manifestação nesta segunda para pedir a
saída de Silveira do comando do Ministério da Transparência. No ato, os
funcionários da extinta CGUlavaram as escadas do prédio que
abriga o órgão de combate à corrupção no governo federal.
Gravações
Cerca de três meses antes de assumir o Ministério da Transparência, Fabiano Silveira esteve em uma reunião na residência oficial de Renan Calheiros na qual a Operação Lava Jato foi amplamente discutida.
Cerca de três meses antes de assumir o Ministério da Transparência, Fabiano Silveira esteve em uma reunião na residência oficial de Renan Calheiros na qual a Operação Lava Jato foi amplamente discutida.
Participam da
reunião, além de Sérgio Machado e Renan Calheiros, Bruno Mendes, advogado e
ex-assessor do presidente do Senado, e Fabiano Silveira, que, à época,
integrava o Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
No encontro,
relatou o ex-presidente daTranspetro aos investigadores, foram
discutidas as providências e ações que ele estava pensando em relação à
Operação Lava Jato.
No áudio, é
possível entender que Fabiano Silveira orienta Renan e Sérgio Machado sobre
como se comportar em relação à Procuradoria Geral da República.
Carta de
demissão
Leia abaixo a íntegra da carta de demissão do ministro Fabiano Silveira
Recebi do
Presidente Michel Temer o honroso convite para
chefiar o Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle.
Nesse período,
estive imbuído dos melhores propósitos e motivado a realizar um bom trabalho à
frente da pasta.
Pela minha
trajetória de integridade no serviço público, não imaginava ser alvo de
especulações tão insólitas.
Não há em
minhas palavras nenhuma oposição aos trabalhos do Ministério Público ou do
Judiciário, instituições pelas quais tenho grande respeito.
Foram
comentários genéricos e simples opinião, decerto amplificados pelo clima de
exasperação política que todos testemunhamos. Não sabia da presença de Sérgio
Machado. Não fui chamado para uma reunião. O contexto era de informalidade
baseado nas declarações de quem se dizia a todo instante inocente.
Reitero que jamais
intercedi junto a órgãos públicos em favor de terceiros. Observo ser um
despropósito sugerir que o Ministério Público possa sofrer algum tipo de
influência externa, tantas foram as demonstrações de independência no
cumprimento de seus deveres ao longo de todos esses anos.
A situação em
que me vi involuntariamente envolvido – pois nada sei da vida de Sérgio
Machado, nem com ele tenho ou tive qualquer relação – poderia trazer reflexos
para o cargo que passei a exercer, de perfil notadamente técnico.
Não obstante o
fato de que nada atinja a minha conduta, avalio que a melhor decisão é deixar o
Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle.
Externo ao
Senhor Presidente da República o meu profundo agradecimento pela confiança
reiterada.
Brasília, 30 de
maio de 2016.
Fabiano
Silveira
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