Em 2015, quando
enfrentou o trabalhista Ed Miliband nas eleições, Cameron talvez não pudesse
imaginar que seu mais perigoso rival seria alguém de seu próprio partido
O ex-prefeito de Londres, Boris Johnson, foi o
principal nome da campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia (UE) e
nesta sexta foi saudado por seus colegas e pela imprensa local como o grande
vencedor político do referendo. Após a confirmação oficial do resultado,
Johnson comemorou a "independência" de seu país: "Podemos
encontrar nossa voz no mundo novamente, uma voz que é proporcional a da quinta
maior economia da Terra". Aos 51 anos, o político é cotado como favorito
dentro do Partido Conservador para substituir David Cameron como
primeiro-ministro.
No ano passado, quando enfrentou o trabalhista Ed Miliband
nas eleições gerais, Cameron talvez não pudesse imaginar que seu mais perigoso
rival político seria alguém de seu próprio partido, e ainda que ele seria um
velho colega de escola. A relação de Johnson com o atual premiê data de antes
do início de suas carreiras políticas. Os dois se conheceram na escola de elite
Eton College e cursaram a Universidade de Oxford juntos. Foi também durante
seus anos de educação que Johnson, filho de britânicos nascido em Nova York,
nos Estados Unidos, teve os primeiros contatos com a alta sociedade do Reino
Unido.
Contudo,
os dois amigos escolheram lados opostos após o anúncio do referendo, feito
durante a campanha política de 2015. Ao longo de toda a maratona que antecedeu
a consulta popular, Johnson e o atual primeiro-ministro discordaram em quase
todas as suas declarações. O ex-prefeito chegou a dizer que as afirmações de
Cameron sobre as consequências da saída britânica da UE eram "enganosas e
mal-intencionadas" para convencer o povo a votar a favor da permanência.
A ironia é que o euroceticismo bem articulado e
distante da ferocidade de Nigel Farage (líder do partido ultranacionalista
Ukip) vem de um homem muito ligado às instituições europeias. O pai de Boris
Johnson, Stanley, que defendia a permanência na UE, foi deputado pelo Partido
Conservador e trabalhou na Comissão Europeia. Boris foi aluno da Escola
Europeia de Bruxelas antes de entrar para o Eton e conheceu também a máquina
burocrática da UE por dentro, atuando como jornalista.
Antes de ser eleito prefeito de Londres, em 2008,
Johnson trabalhou no jornal Daily Telegraph e entre 1989 e 1994 foi correspondente
em Bruxelas, favorecendo histórias que alimentavam o euroceticismo em casa.
Tornou-se então o jornalista favorito da primeira-ministra Margaret Thatcher,
graças a artigos que ridicularizavam as instituições europeias e caricaturavam
seus regulamentos extremamente detalhados. Durante todo esse período, conseguiu
construir sua reputação com críticas ácidas e piadas sobre o bloco europeu. Em
2008, ele foi eleito prefeito de Londres e seu estilo bonachão e pragmático,
dosando gírias populares e citações em latim, garantiram a reeleição em 2012.
Johnson deixou o comando da prefeitura no início deste ano com ótimos índices
de aprovação. Com tempo livre, passou a dedicar-se exclusivamente à campanha do
Brexit.
Com fama de histriônico e um senso de humor louvado
até por seus críticos, Johnson é o típico conservador à moda britânica:
partidário do Estado mínimo e da pouca intervenção estatal na sociedade. Ele
também é um ardoroso defensor das tradições do país, inclusive das mais
populares, como acompanhar um jogo de futebol em um pub bebendo litros de
cerveja em caneca.
O novo premiê será escolhido num congresso dos tories em outubro, e até lá muita água ainda
vai rolar na composição de forças dentro da legenda. O Partido Conservador sai
do referendo rachado, com muitas disputas internas e mágoas que precisam ser
aplacadas para apaziguar o ambiente antes da formação do novo governo. Apesar
das incertezas, uma coisa é certa: os ex-colegas Johnson e Cameron vão
continuar sentando em lados opostos da mesa de negociações.
(Da redação)
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