Deputados vão votar o parecer do
relator do processo contra Cunha, deputado Marcos Rogério, que recomenda a
perda do mandato do peemedebista
Por: Marcela Mattos, de Brasília / Veja
O presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), comparece ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, em Brasília
(DF), para fazer sua defesa. Cunha é alvo de um processo por quebra de decoro
por supostamente ter ocultado contas bancárias secretas no exterior e de ter
mentido sobre a existência delas em depoimento à CPI da Petrobras - 19/05/201(Adriano
Machado/Reuters)
A saga em que se transformou o processo de cassação de Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) chega nesta terça-feira a um novo capítulo: será feita mais uma
tentativa de votar a ação no Conselho de Ética contra o presidente afastado da
Câmara. Os deputados vão se debruçar sobre o parecer que sugere a perda do
mandato do peemedebista um dia depois de o Ministério Público, que já pediu a
prisão, defender que Cunha devolva 20
milhões de reais por evidências de enriquecimento ilícito e
tenha os direitos políticos suspensos por dez anos. A votação também se dará na
esteira de a Justiça Federalaceitar a
denúncia contra a mulher dele, Cláudia Cruz, por "se
beneficiar dos crimes praticados pelo congressista". Em meio às acusações,
a sessão desta tarde será um verdadeiro teste de força de um dos políticos mais
poderosos do país.
Aliados de Cunha têm pressa em concluir ainda nesta semana o processo no
Conselho de Ética, que já se arrasta por mais de sete meses devido às manobras
de sua "tropa" de apoiadores. Isso porque no próximo dia 23 o
presidente afastado da Câmara, que já é réu por corrupção e lavagem de
dinheiro, pode se tornar réu pela segunda vez em ação de mesmo embasamento que
deu origem às investigações por quebra de decoro: a manutenção de contas
secretas no exterior.
O Supremo Tribunal Federal vai analisar se aceita a denúncia apresentada
pelo Ministério Público que acusa Cunha de receber 5,2 milhões de reais em
propina para não colocar obstáculos na aquisição pela Petrobras de um campo de
petróleo em Benin, na África. O dinheiro, "com o objetivo de dissimular e
ocultar esse recebimento", conforme o MP, foi mantido na conta de um trust no
Reino Unido. Eduardo Cunha é alvo de representação na Câmara por ter mentido
aos parlamentares sobre a manutenção de contas no exterior.
Ainda assim, a votação do processo contra Eduardo Cunha tem placar
incerto e, nos bastidores, calcula-se que o peemedebista mantém o apoio de dez
congressistas - ou seja, metade do Conselho de Ética. O voto de minerva pode ser
dado pela deputada baiana Tia Eron, do PRB. Na semana passada, a deliberação
sobre a cassação de Cunha foi adiada por causa da ausência dela. Desde então, a
congressista tem se mantido reclusa, mas promete comparecer à sessão desta
terça.
Provas - Adversários de Eduardo Cunha
contam com a série de denúncias avassaladoras para tentar aprovar o parecer do
deputado Marcos Rogério (DEM-RO), que pede a cassação do peemedebista por
mentir sobre as contas e também pelo recebimento de propina.
"Depois de tudo o que aconteceu, é muito provável que ele vire réu
por causa das contas na Suíça. O Moro já falou que dinheiro público era usado
pra comprar artigos de grife na Europa. Tomara que isso conte para sensibilizar
um desses 10 ou 11 votos tidos como certos para ele. Deveriam ser todos os
votos, as provas estão aí", disse o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).
"Os fatos novos só colaboram com aquilo que está evidente. Ninguém pode
dizer que tem posição contrária ao parecer porque não há provas. As provas são
inquestionáveis. Quem votar contra o fará pela circunstância política",
afirmou Marcos Rogério.
Já o vice-presidente do conselho, deputado Sandro Alex (PSD-PR),
demonstra ceticismo na possibilidade de mudança de votos. "Essas novas
acusações deveriam ser um componente a mais. Ali tem provas, evidências,
documentos e extratos bancários, mas mesmo assim quem vai votar contra o
relatório já tem a convicção de que tem que salvar Eduardo Cunha custe o que
custar", disse o congressista.
Fiel aliado de Cunha, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) descarta qualquer
mudança de votos em decorrências das novas acusações. "Chegou o momento de
votar. Não podemos nos pautar pelo STF, a não ser que venha uma condenação
definitiva. As testemunhas que foram convidadas a falar pelo relator não sabiam
se ele tinha conta no exterior. Essa é a realidade. Temos de nos pautar pelo
processo", afirmou.
Nos bastidores, há o receio de que os atos recentes do Ministério
Público e da Justiça Federal ensejem um pedido de aditamento de novas provas à
representação, o que levaria a um novo adiamento da votação e, pior, reabriria
o prazo de instruções. Mesmo entre aqueles que defendem a cassação, o
entendimento é o de que, neste momento, seria melhor apresentar uma nova ação
contra Cunha de modo a não protelar ainda mais o processo.
Postar um comentário
Blog do Paixão