Por: Laryssa Borges, de Brasília / Veja
O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal),
Teori Zavascki, durante sessão em plenário - 23/02/2016(Nelson
Jr/SCO/STF/Divulgação)
O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), anulou
nesta segunda-feira parte dos grampos feitos contra o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, entre os quais o que o petista discute com a presidente Dilma
Rousseff o envio de um termo de posse como ministro da Casa Civil "em caso
de necessidade". Na mesma decisão, Teori determinou o envio de processos e
investigações envolvendo o petista à 13ª Vara Federal de Curitiba, onde atua o
juiz Sergio Moro.
Em março, o ministro já havia dado indicativos de que poderia anular
parte das interceptações telefônicas feitas contra o ex-presidente. Isso porque
a conversa pouco republicana travada entre Lula e Dilma em que ambos comentam
sobre a nomeação de Lula para o primeiro escalão do governo ocorreu quando os
grampos já deveriam ter sido suspensos. No dia 17 de março, o juiz Sergio Moro
havia determinado às 12h18 a suspensão dos grampos instalados para monitorar o
petista. A conversa entre Lula e Dilma, em que a presidente fala que o termo de
posse só deve ser utilizado "em caso de necessidade", ocorreu às
13h32 por meio de um celular registrado na operadora Claro. Um analista da
Polícia Federal encaminhou e-mail para o departamento jurídico da Claro às
12h46 para cumprimento imediato da decisão do juiz, mas as conversas
continuaram a ser momentaneamente registradas.
A conversa entre Lula e Dilma é um dos mais claros exemplos, na
avaliação do Ministério Público Federal, de que a nomeação do petista como
ministro da Casa Civil tinha o propósito claro de blindá-lo nas investigações,
transferindo a jurisdição de Curitiba, onde Sergio Moro julga os processos da
Lava Jato, para o STF, tribunal que o próprio petista chamou nos grampos de
"acovardado".
Ao analisar hoje um pedido da defesa da presidente afastada Dilma
Rousseff sobre a legitimidade dos grampos, o ministro Teori Zavascki criticou
enfaticamente o juiz Sergio Moro e determinou que sejam anulados todos os
áudios gravados depois da ordem de suspensão dos grampos. Para Teori, também
não caberia a Moro decidir dar publicidade às conversas telefônicas e tampouco
valorar a utilidade ou não da conversa entre Lula e Dilma sobre a nomeação do
ex-presidente para a Casa Civil. "Além de proferida com violação da
competência desta Corte, ela [a decisão de Moro] teve como válida interceptação
telefônica evidentemente ilegítima, porque colhida quando já não mais vigia
autorização judicial para tanto", disse o ministro.
"A violação da competência do Supremo Tribunal se deu no mesmo
momento em que o juízo reclamado [Sergio Moro], ao se deparar com possível
envolvimento de autoridade detentora de foro na prática de crime, deixou de
encaminhar a este Supremo Tribunal Federal o procedimento investigatório para análise
do conteúdo interceptado. E, o que é ainda mais grave, procedeu a juízo de
valor sobre referências e condutas de ocupantes de cargos [com foro
privilegiado]. Mais ainda: determinou, incontinenti, o levantamento do sigilo
das conversas interceptadas, sem adotar as cautelas previstas no ordenamento
normativo de regência, assumindo, com isso, o risco de comprometer seriamente o
resultado válido da investigação", atacou Teori.
O magistrado rejeitou ainda a interpretação de que a conversa entre Lula
e Dilma não teria valor relevante para as investigações e disse que o tema foi
inclusive utilizado pelo próprio Ministério Público para pedir a abertura de
investigação contra Dilma por suspeitas de obstrução da justiça. Ele afirmou
que os grampos não eram voltados especificamente para a presidente afastada,
mas disse que cabe apenas ao STF, e não a Sergio Moro, decidir sobre um
possível desmembramento dos autos, deixando Lula, que não tem foro
privilegiado, na primeira instância, e Dilma sob a alçada do Supremo.
"Segundo reiterada jurisprudência desta Corte, cabe apenas ao Supremo
Tribunal Federal, e não a qualquer outro juízo, decidir sobre a cisão de
investigações envolvendo autoridade com prerrogativa de foro na Corte,
promovendo, ele próprio, deliberação a respeito do cabimento e dos contornos do
referido desmembramento", ressaltou.
Mesmo com o duro teor do despacho contra Moro, o ministro Teori Zavascki
atendeu a pedido do procurador-geral Rodrigo Janot e determinou que sejam
enviados para Curitiba os processos nos quais o ex-presidente Lula é
investigado no âmbito da Operação Lava Jato. Com isso, passa a estar nas mãos
de Moro decisões investigatórias contra o petista, incluindo o temido pedido de
prisão.
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