Lista de gestores públicos com contas
irregulares no Estado está sendo atualizada pelo TCU e TCE
Ações das Polícias Federal e Civil e do Ministério Público, a
partir de denúncias dos Tribunais de Contas, têm flagrado mau uso do dinheiro
público e improbidade administrativa
Bobby Fabisak/JC Imagem
A
lista de agentes públicos, com ou sem mandato, que podem ser proibidos de se
candidatar este ano nas eleições municipais pode chegar, em Pernambuco, a quase
dois mil nomes. Mais de 300 deles já foram denunciados pelo Tribunal de Contas
da União (TCU) à
Justiça Eleitoral na última quinta-feira (9/6) e podem ser vistos nos sites das
duas instituições. A Corregedoria do Tribunal de Contas do Estado (TCE), por
sua vez, somou, até o momento, 1.649 gestores com contas julgadas irregulares
nos últimos oito anos, número que pode subir até 5 de julho, quando haverá a
entrega oficial da relação, que é atualizada diariamente num sistema eletrônico
acessado pelo Ministério Público e a Justiça.
Se
você anda decepcionado com a pouca ética e a má gestão intencional de
parlamentares e ocupantes de cargos executivos – especialmente com a corrupção,
desvio e desperdício de dinheiro público–, saiba que a situação poderia ser
muito pior. Assim como na próxima eleição de outubro, nas anteriores Tribunais
de Justiça e de Contas ajudaram o Tribunal Superior Eleitoral a banir futuros
reincidentes, os candidatos com ficha suja. Os nomes de quem tem conta julgada
irregular em definitivo ou foi condenado por outros crimes (em segunda
instância ou por colegiado dos tribunais) são cruzados com os pedidos de
registro de candidatura. Assim, o Ministério Público Eleitoral, representado
pelos promotores de Justiça, descobre os possíveis inelegíveis e pede que seja
impugnada a pretensão. Partidos, coligações e candidatos podem fazer o
mesmo.
O
TCU disponibiliza na sua página na internet 12 inabilitados em Pernambuco para
cargo em comissão ou função de confiança na administração pública federal por
prazos que se estendem por mais dois ou quatro anos. Em 2014, a Procuradoria
Regional Eleitoral impugnou no Estado outras 17 candidaturas com base na Lei da
Ficha Limpa (135/2010). O Tribunal Superior Eleitoral não informa quantas
candidaturas impugnou ou cassou nos dois últimos pleitos em razão da ficha suja
dos políticos.
São
rejeitadas as contas quando não ocorre a devida prestação aos órgãos de
controle, são ilegítimas ou antieconômicas, geram dano ao erário público ou
estão em desacordo com o orçamento, as Leis de Responsabilidade Fiscal e a de
Licitações, por exemplo. Tribunais de Contas têm reprovado atos e o Ministério
Público ajuizado ações contra prefeitos, vereadores e gestores estaduais ou
federais que contratam sem concurso, deixam de aplicar nos fundos de previdência
dinheiro descontado do salário dos servidores, promovem publicidade em
benefício próprio em ações governamentais e outros desvios típicos da
improbidade administrativa.
A
Lei da Ficha Limpa alterou a Lei Complementar 64/1990, que trata dos casos de
inelegibilidade. Crimes eleitorais, contra a economia popular e a vida, lavagem
de dinheiro e tráfico de drogas também deixam políticos sem condições de
concorrer a eleições. O interessado pode disputar apenas se a condenação tiver
sido suspensa ou anulada pelo Judiciário.
Há
expectativa, na disputa eleitoral deste ano, quanto ao aumento de políticos
barrados na Justiça. É que em 2014, para presidente, senadores, deputados
federais e estaduais, o Tribunal Superior Eleitoral entendeu inicialmente que
prefeitos e ex-prefeitos só podiam ser considerados irregulares se o julgamento
das contas tivesse sido feito pelas Câmaras de Vereadores. “Mas após o registro
de candidaturas, o TSE adotou outro entendimento, que esses prefeitos e
ex-prefeitos poderiam ser julgados diretamente pelo TCE, ficando para a Câmara
o julgamento político”, explica o procurador-geral do Ministério Público de
Contas de Pernambuco, Cristiano Pimentel. “Se fosse hoje, seriam impugnados
muito mais”, acrescenta.
Para
o procurador, a Lei da Ficha Limpa foi um grande avanço, mas ainda está aquém
do necessário para preservar a moralidade. “Uma pessoa que responde a várias
ações de improbidade ou criminais não poderia ser candidata. Ainda não chegou à
ideia original da proposta popular, que era impedir a candidatura de pessoas de
vida pregressa com vários processos”. Pimentel considera que um avanço positivo
seria a aprovação do projeto do Ministério Público Federal “10 medidascontra a corrupção”, que chegou
ao Congresso em março com 2,1 milhões de assinaturas e está parado. Trata da
transparência, da tipificação do enriquecimento ilícito, da responsabilização
dos partidos políticos entre outros. Paralelo a essa campanha, a Procuradoria Geral
da República lançou há dois meses um aplicativo para celular SAC MPF, para
receber denúncias e informar o cidadão em tempo real sobre investigados.
TRANSPARÊNCIA
O
diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, que faz o
monitoramento do poder público, o doutor em ciência política Manoel Galdino
acredita que, por ser recente, a Lei da Ficha Limpa só agora tem seus efeitos
notados. Na opinião dele, como para se tornar inelegível são consideradas as
condenações em segunda instância, e tem que ser comprovado o dolo (a
consciência do erro), a lentidão da Justiça acaba dificultando o objetivo da
norma. Para Galdino, é importante dar condições para um Judiciário célere. Em
Pernambuco, por exemplo, há processos com mais de cinco anos. Esse é o prazo
limite para prescreverem os crimes de improbidade após o acusado deixar o
cargo.
Por
outro lado, Galdino alerta para a conscientização da sociedade e da imprensa,
que precisam ficar mais atentas aos candidatos e eleitos, fazendo a separação
do joio e do trigo. “Não podem alimentar a ideia de que todos os políticos são
corruptos”, afirma. Para ajudar, a organização sem fins lucrativos
disponibiliza em www.excelencias.org.br consulta ao desempenho de deputados
federais e senadores, incluindo se eles estão respondendo processo na Justiça.
A avaliação, inclusive, pode ser feita por bancada em cada unidade da
federação. A intenção da Transparência Brasil é abranger outros cargos, mas, no
momento, faltam recursos. Nos sites dos tribunais de contas, é possível acessar
a lista imensa de gestores com contas reprovadas. Basta consultar essas listas
antes de apoiar um candidato.
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