Benefício havia
sido concedido pelo chanceler José Serra na semana passada. Segundo juiz,
concessão ao religioso e sua mulher não atendem ao interesse público e é mero
privilégio
A 7ª Vara Federal Cível de São Paulo suspendeu nesta
quinta-feira a portaria do Ministério das Relações Exteriores que concedeu
passaportes diplomáticos ao pastor da Igreja Internacional da Graça de Deus
R.R. Soares e sua mulher, Maria Magdalena Bezerra Ribeiro Soares. O juiz
federal Tiago Bologna Dias atendeu a uma ação popular do advogado Ricardo Amin
Abrahão Nacle, que alegava desvio de finalidade na portaria assinada pelo
ministro José Serra e publicada no Diário Oficial da União na semana passada. Segundo Abrahão
Nacle, "em que pese a relevância" do líder religioso, o pastor não se
enquadra em nenhuma das categorias às quais a Constituição prevê a concessão do
benefício.
Para o magistrado, a concessão do passaporte com
validade de três anos a Soares e sua mulher não atende ao interesse público e
se configura um mero privilégio. "Analisando-se as hipóteses específicas
de concessão no Decreto, verifica-se que todas elas dizem respeito a agentes
públicos ou políticos em missões diplomáticas ou em exercício de alguma forma
de representação do Estado Brasileiro no exterior", concluiu o juiz
federal em sua sentença. Ele ressalta que o portador do passaporte diplomático
"deve representar o Estado Brasileiro de alguma forma e no interesse do
país".
A concessão de passaportes diplomáticos foi
regulamentada pelo decreto 5978, editado pelo ex-presidente Lula em 2006. O
decreto prevê que apenas têm direito ao benefício autoridades como presidente e
ex-presidentes da República, ministros de Estado, governadores e militares a
serviço. Líderes religiosos não estão entre as categorias que podem ser
beneficiadas, mas o texto prevê que "às pessoas que, embora não
relacionadas nos incisos deste artigo, devam portá-lo em função do interesse do
país", basta uma autorização do Itamaraty para portar o passaporte.
Com o passaporte diplomático, o viajante tem
tratamento diferenciado nos aeroportos e alfândegas, sendo dispensado da
revista no Brasil e em vários países, além de não enfrentar filas. Os
portadores também não pagam para ter o documento.
Historicamente, o governo sempre concedeu
passaportes diplomáticos à Igreja Católica, benefício estendido às outras
denominações religiosas a partir do decreto assinado por Lula em 2006.
Apesar da prática corriqueira no Itamaraty, o juiz
Tiago Dias conclui sua decisão ponderando que "na ordem constitucional
vigente o Estado é laico, há separação plena entre a Igreja e Estado, de forma
que é efetivamente incompatível com a Constituição que líder religioso, no interesse
da instituição religiosa, seja representante dos interesses estatais
brasileiros no exterior".
Aliado de Cunha beneficiado - Nos pouco mais de dois meses de José Serra à frente
do Ministério das Relações Exteriores, R.R. Soares e Maria Magdalena foram o segundo
casal evangélico agraciado com passaportes diplomáticos.
Em maio, Samuel Cássio Ferreira,
líder da Assembleia de Deus Brás, em São Paulo, e sua mulher, Keila Campos
Costa Ferreira, também receberam passaportes diplomáticos válidos por três
anos. Ferreira é ligado ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A assessoria do Ministério das Relações Exteriores
havia informado na ocasião que o novo chanceler iria rever a política de
concessão da regalia. O advogado Ricardo Amin Abrahão Nacle, autor da ação
contra R.R. Soares, pedirá à Justiça a extensão da decisão a Samuel Ferreira.
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