Para
cientistas políticos ouvidos pelo G1, incluir em lista alvos da Operação Lava
Jato pode tirar votos das legendas. Segundo eles, modelo vai reduzir o custo da
eleição.
Por
Gustavo Garcia, G1, Brasília
P
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arlamentares de
diferentes partidos e juristas vêm defendendo uma mudança no sistema eleitoral
para que, nas eleições de 2018, os eleitores votem nas chamadas listas fechadas
das legendas.
Os presidentes
do Senado, Eunício Oliveira
(PMDB-CE), da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), e o relator da reforma política, deputado Vicente Cândido
(PT-SP), têm discursado a favor do sistema nos últimos
dias. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto
Barroso também defendeu a medida.
Por esse
sistema, os partidos relacionam os candidatos em uma lista pré-ordenada e os
eleitores votam na legenda e não diretamente no candidato. São eleitos os
primeiros nomes da lista, de acordo com o número de cadeiras a que o partido
tiver direito.
Críticos da
medida dizem que, com a proposta, dirigentes partidários que defendem esse
modelo querem proteger parlamentares investigados na Operação Lava Jato e
viabilizar suas reeleições, para que mantenham o foro privilegiado.
“Não tem espaço
neste momento para o Congresso aprovar a lista fechada já que, no entendimento
da sociedade brasileira, isso viria no intuito de amanhã poder acobertar
parlamentares que não teriam a condição de poder enfrentar a sociedade, os seus
eleitores e pedir o voto”, argumentou o líder do
DEM, Ronaldo Caiado.
Temer diz não ver com simpatia voto
em lista fechada, em entrevista a Roberto D'Avila
O presidente Michel Temer diz
não ter simpatia pela lista fechada. "Há muita
resistência a isso. Se eu pudesse dizer, falaria que a melhor forma é do voto
majoritário", disse.
'Tiro no pé'
Especialistas
ouvidos pelo G1 afirmam que, se proteger parlamentares for o
objetivo por trás da defesa da lista fechada, os partidos podem acabar dando
“um tiro no pé”. Na visão deles, ter candidatos investigados na lista pode
tirar votos da legenda.
“Pode ser um
tiro no pé porque se um partido tentar proteger algum político, colocando esse
político que tem enrosco com a Justiça dentro de uma lista partidária, de modo
a garantir que ele seja eleito mesmo com os seus problemas, esse cara vai
contaminar a lista inteira”, opinou o cientista político da Fundação Getúlio
Vargas de São Paulo (FGV-SP) Cláudio Couto.
“Ou seja, o
partido pode estar, na realidade, produzindo uma derrota coletiva por causa de um
único nome”, completou.
O professor de
Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer reconhece
que a defesa de lista fechada pode ser uma tentativa para blindar parlamentares
investigados, mas diz que a inclusão de alvos da Lava Jato em uma lista pode
ser explorada por adversários contra o partido.
“Se eu fosse um
adversário de um partido que colocou esses ‘lava jatos’ no topo da lista, eu ia
até a televisão defender o meu partido e mostrar as listas. Iria dizer: 'esse
partido aí escondeu esses caras na lista', daria nome aos bois. As campanhas
podem explorar isso. É um risco que os partidos correm”, expôs.
“Se você faz
uma lista só de investigados na Lava Jato, o eleitor não vota nessa lista. O
eleitor não é burro”, complementou o professor de Ciência Política da UnB João
Paulo Peixoto.
Redução do custo das campanhas
Defensores do
sistema de lista fechada argumentam que, com o modelo, será possível diminuir
os custos das campanhas políticas, uma solução para a ausência das doações de
empresas, proibidas em 2015.
Os
especialistas concordam que a adoção de lista fechada pode promover uma redução
do custo das campanhas eleitorais.
“Fica muito
mais barato no sistema de lista fechada porque você permite uma campanha no
atacado e não uma campanha no varejo. Uma campanha no atacado é mais barata
porque você gasta só com a lista e não tem que fazer campanha para cada
candidato individualmente. Você faz uma campanha para a legenda e divulga a
lista”, declarou Cláudio Couto.
“Hoje você tem
três mil candidatos fazendo três mil campanhas em São Paulo, isso é caríssimo.
Se você tem, por exemplo, dez partidos fazendo campanhas para suas listas, você
tem dez campanhas para listas”, comparou David Fleischer.
Relator da reforma política na Câmara
diz que vai propor lista fechada
Proximidade com o eleitor
Críticos da
proposta afirmam que a adoção da lista fechada afasta o eleitor de seus
candidatos. Para o senador Reguffe, a lista fechada “tira o direito de o
eleitor escolher quem ele quer”.
“Vai-se passar
essa decisão para as cúpulas partidárias, que vão criar as listar preordenadas
e escolher quem elas querem e quem não querem que se eleja [...] Vão-se
perpetuar as cúpulas partidárias e os seus ‘amigos’, entre aspas, nos mandatos
parlamentares, porque o objetivo disso é esse, é manter os mesmos, é impedir
uma renovação”, criticou Reguffe durante sessão do Senado na última segunda
(20).
No entanto,
para os especialistas ouvidos pelo G1, o atual modelo, de lista
aberta e com coligações proporcionais, em que muitas vezes o eleito é
desconhecido dos votantes, também deixa o eleitor distante do candidato que é
eleito.
“Já há uma
distância muito grande hoje. No Rio de Janeiro, já teve eleições com mil
candidatos. A proximidade entre eleitor e eleito é muito pouca”, considerou
João Paulo Peixoto.
“[A lista
fechada] afasta do candidato individual, mas promove uma relação mais estreita
com o partido”, ponderou David Fleischer.
Modelo atual
Entre os
especialistas ouvidos pelo G1, há um consenso de que o atual modelo
eleitoral não é bom e exige mudanças. Eles argumentam que os eleitores
desconhecem os eleitos e ficam sem condições de cobrar os parlamentares.
“A lista aberta
com sistema proporcional é uma loucura. Você vota e não sabe em quem votou, não
sabe quem foi eleito. Você vota em um cara de esquerda e elege um cara de
direita, e vice-versa. A lista fechada é mais democrática, é um sistema adotado
em vários países do mundo. Será que eles estão errados e nós certos?”,
questionou João Paulo Peixoto..
“Na lista
fechada, o eleitor vai lembrar em qual partido votou. O problema é que, no
modelo de agora, dois meses depois da eleição, você pergunta para o eleitor o
nome de qual deputado ele votou e a maioria não lembra em quem votou. Como você
vai cobrar de um político se você não lembra em quem votou?”, indagou David
Fleischer.
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