segunda-feira, abril 17, 2017

Um ano depois, 342º voto no impeachment é investigado por delação da Odebrecht

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil


Há exatamente um ano, era aberto na Câmara dos Deputados o processo de impeachment contra a agora ex-presidente Dilma Rousseff (PT), consolidado menos de cinco meses depois pelo Senado. O placar final foi de 367 votos favoráveis a 137 contrários, mas o decisivo foi o do pernambucano Bruno Araújo, do PSDB, que foi o 342º parlamentar a votar, número que representa os dois terços necessários para que o caso fosse iniciado. Hoje ministro das Cidades, o tucano é também um dos nomes do primeiro escalão do governo Michel Temer (PMDB) que estão entre os que tiveram investigação autorizada por Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), após a delação de 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht.


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Fotos: Nilson Bastian/Câmara dos Deputados


Os delatores afirmaram que foram repassados R$ 300 mil para Bruno Araújo em 2010 e 2012. Os valores teriam sido viabilizados através do Setor de Operações Estruturadas da construtora, responsável por pagar propinas, e o tucano teria aparecido nas planilhas da área com o codinome “Jujuba”.
Documento mostra supostas doações para Bruno Araújo pelo setor de propinas

As supostas doações irregulares para o ministro estão no depoimento de João Pacífico, ex-diretor da empreiteira no Nordeste e pernambucano como ele. “Isso era em função da relação e de uma aposta que nos fazíamos de que ele viria a ser um político de destaque. Tanto é que foi, ele hoje é ministro de Estado”, disse. 


pedido para abrir o inquérito contra o tucano, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirma que é necessário ainda investigar uma planilha das eleições de 2014, quando Araújo foi eleito pela terceira vez deputado federal. A informação está na delação de Luiz Eduardo da Rocha Soares, ex-executivo do setor de propinas.
Segundo o documento de Janot, “Corinthians” se refere ao PSDB e “Volante” ao cargo de deputado federal

Outro depoimento que levou ao inquérito de número 4391 na Corte foi de Cláudio Melo Filho, ex-diretor de Relações Institucionais da empreiteira. O ex-executivo contou aos procuradores do Ministério Público Federal (MPF) que tratou com o tucano sobre as renovações dos contratos de energia no Nordeste. 

Os dois teriam sido apresentados por João Pacífico. Filho contou que esteve com o tucano em uma viagem à Ucrânia, quando o parlamentar era presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia e foi conhecer um projeto em que a Odebrecht estava envolvida. “Da parte dele não houve nenhuma solicitação de nada em termos de campanha porque ele tinha a relação dele com João Pacífico”, afirmou Filho. 

Em entrevista no programa Resenha Política, o ministro já havia reconhecido que mantinha com ele uma relação de amizade. Além disso, frisou em nota: “Cláudio Melo Filho foi claro ao afirmar que a minha relação com a empresa era puramente institucional, sem qualquer contrapartida, descaracterizando qualquer tipo de ilação a corrupção. Da mesma forma, João Antônio Pacífico Ferreira informa que desconhece qualquer atuação parlamentar minha a favor da empresa em questão.”
Veja um trecho do depoimento:

O ex-executivo ainda afirmou que Bruno Araújo foi a ponte para o deputado federal Duarte Nogueira (PSDB-SP), acusado por ele de cometer irregularidades.

Deverão ser levantados os cargos ocupados por Bruno Araújo e as emendas parlamentares propostas por ele, além das obras da Odebrecht em Pernambuco. Além disso, Duarte Nogueira deverá ser ouvido. “As condutas acima narradas não configuram, em tese, mera doação eleitoral irregular. Vislumbra-se, na verdade, uma solicitação indevida em razão da função pública que se almeja ou que ocupa, a pretexto de campanha eleitoral, sem qualquer comprovação de que os valores foram efetivamente utilizados na campanha eleitoral. Por esta razão, há fortes indícios de que se está diante de crimes graves que precisam ser minuciosamente investigados”, disse Janot no pedido a Fachin.

Defesa

Na semana passada, quando a lista de inquéritos autorizados e os vídeos dos depoimentos dos delatores foram divulgados, Bruno Araújo afirmou que “os áudios e os vídeos dos delatores mostram uma dissociação em relação ao que me foi imputado e os fatos relatados”. “Com absoluta clareza, fui citado apenas em atividades inerentes à atuação parlamentar, como a marcação de uma audiência ou em ‘conversas’ sobre temas que beneficiavam a minha região, Nordeste do Brasil”, afirmou ainda. “Por último, o sentimento é ainda de surpresa com as imputações que me foram feitas. Mas, diante do que está exposto, tenho convicção de que tudo ficará devidamente esclarecido.”

Em tom de ironia, o deputado federal Sílvio Costa (PTdoB-PE) lamentou as agruras vividas pelo colega da Câmara dos Deputados. “Eu queria pegar ele como adversário na disputa pelo Senado. Para mim ia ser ótimo. Tinha toda uma simbologia. Eu o senador de Lula e Dilma em Pernambuco, e ele o voto 342 pelo impeachment”, afirmou, em conversa com o editor do Blog, na semana passada, quando os vídeos foram divulgados.

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