Com atraso e sem tratar do ensino médio, Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) foi apresentada nesta quinta. Documento estava previsto para junho de
2016.
Por
Letícia Carvalho, G1
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Foto: Claudia Marianno |
A terceira e
última versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o ensino infantil e
fundamental foi apresentada nesta quinta-feira (6) pelo Ministério da Educação
(MEC). O texto não aborda o ensino médio. O documento foi finalizado com
atraso, já que estava previsto para junho de 2016.
A BNCC é
considerada fundamental para reduzir desigualdades na educação no Brasil.
Países desenvolvidos já organizam o ensino por meio de bases nacionais. O
documento define a linhas gerais do que os alunos das 190 mil escolas do país
devem aprender a cada ano.
A base ainda
precisa ser aprovada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e depois
homologada pelo ministro da Educação. Mesmo após essas etapas, ela só terá
efeito na sala de aula quando estados e municípios reelaborarem os seus
currículos: serão eles que detalharão como será abordado cada uma das metas ou
cada um dos eixos da BNCC em sala de aula.
Veja
os destaques da BNCC do ensino infantil e fundamental
1.
Ensino
religioso foi excluído da terceira versão; MEC alega respeitar lei que
determina que tema seja optativo e que é competência dos sistemas de ensino
estadual e municipal definir regulamentação.
2.
Conteúdo de
história passa a ser organizado segundo a cronologia dos fatos
3. Língua inglesa
será o idioma a ser ensinado obrigatoriamente; versão anterior da BNCC deixava
escolha da língua a cargo das redes de ensino.
4. Conceito de
gênero não é trabalhado no conteúdo; MEC diz que texto defende "respeito à
pluralidade"
5. Texto aponta 10
competências que os alunos devem desenvolver ao longo desta fase da educação (veja lista abaixo). Uma delas é "utilizar
tecnologias digitais de comunicação e informação de forma crítica,
significativa, reflexiva e ética".
6. Toda criança
deve estar plenamente alfabetizada até o fim do segundo ano; na versão
anterior, o prazo era até o terceiro ano.
7. Educação
infantil ganha parâmetros de quais são os "direitos de aprendizagem e
desenvolvimento" para bebês e crianças com menos de seis anos.
8. Conteúdo do
ensino médio não é alvo do documento; ele será abordado em texto específico
aguardado para o segundo semestre.
O Brasil não
tinha uma base comum, mas documentos como as Diretrizes e Parâmetros
Curriculares e normas federais já garantiam a padronização na elaboração dos
currículos. Agora, a BNCC será a referência nacional obrigatória para que as
escolas desenvolvam seus projetos pedagógicos.
A proposta
preliminar foi feita por uma comissão de 116 especialistas de 37 universidades
de todas as partes do Brasil e gerou polêmica por causa das lacunas deixadas em
áreas como história e literatura. O documento inicial tinha pouco mais de 300
páginas. Após contribuições online, a segunda versão foi apresentada com 676
páginas e passou por audiências públicas. Agora concluído e apresentado ao CNE,
o documento final da BNCC tem 396 páginas.
“Pela primeira
vez, o Brasil terá uma base que define o conjunto de aprendizagens essenciais a
que todos os estudantes têm direito na educação básica”, apontou a secretária
executiva do MEC, Maria Helena Guimarães de Castro. “Como ela será implementada
dependerá dos currículos adotados pelas escolas”, acrescentou.
Ensino religioso
A versão final
da BNCC do ensino infantil e médio exclui "ensino religioso" da lista
de áreas. Antes, ele estava ao lado de linguagens, matemática, ciências humanas
e ciências da natureza. Na versão anterior, o texto afirmava que ensino
religioso era área cujo conteúdo tinha "oferta obrigatória", porém
com "matrícula facultativa".
De acordo com o
MEC, a área de ensino foi retirada para atender o que está disposto na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). De acordo com a pasta, a LDB
aponta que o ensino religioso seja oferecido aos alunos do ensino fundamental
nas escolas públicas em caráter optativo.
Ainda segundo o
MEC, cabe aos sistemas de ensino a sua regulamentação e definição de conteúdos.
"Sendo esse tratamento de competência dos Estados e Municípios (...), não
cabe à União estabelecer base comum para a área, sob pena de interferir
indevidamente em assuntos da alçada de outras esferas de governo da
Federação", aponta a versão final da BNCC.
Língua inglesa
O inglês passa
a ser o idioma obrigatório para ser ensinado nas salas de aula a partir do 6º
ano do ensino fundamental. Na versão anterior da BNCC, os especialistas
apontavam que era "importante que cada comunidade escolar (pudesse)
escolher as línguas estrangeiras a serem ministradas, levando em conta as
realidades locais específicas, a exemplo dos contatos com outras línguas em
regiões de fronteira ou migração, em comunidades com história de migração, em
comunidades indígenas, entre outras".
A mudança segue
a mesma linha defendida pela atual gestão do MEC, que fez a mesma exclusão
durante a reforma do ensino médio.
Alfabetização
A segunda
versão da BNCC defendia que os alunos deveriam ser alfabetizados até o terceiro
ano da educação básica. O processo, de acordo com secretária-executiva do MEC,
Maria Helena Guimarães, inclui tanto a área de português quanto de matemática.
Na proposta final, a alfabetização deverá ser concluída no segundo ano. Alguns
especialistas chegaram a alertar para o risco de que o capítulo dessa etapa de
ensino acabe por favorecer a escolarização precoce.
"A
principal mudança para mim é em relação à alfabetização. A versão 2 trabalhou o
tempo todo com a garantia plena da alfabetização até o final do terceiro ano.
Nós baixamos para até o final do segundo ano. Essa é a principal mudança",
disse Maria Helena.
História cronológica
Alvo de
polêmicas nas primeiras duas versões, os principais questionamentos nesta
disciplina tinham já sido resolvidos com a reorganização feita na segunda
versão da base.
Além desses
pontos, o MEC anunciou ter feito uma reorganização na forma como o conteúdo
será apresentado ao longo dos nove anos do ensino fundamental. "Em
história, você tem uma mudança importante. A parte de história obedece a
cronologia dos fatos, coisa que não estava presente", afirmou Maria
Helena.
Questões de gênero
A secretária
executiva do MEC, Maria Helena Castro, afirmou que o conceito de gênero não é
trabalhado na versão final da BNCC para o ensino fundamental e infantil.
"Não
trabalhamos com ele (conceito de gênero). Nós trabalhamos com o respeito à
pluralidade, inclusive do ponto de vista do gênero, de raça, de sexo, tudo.
(...) Inclusive fomos até procurados aqui (no MEC) por alguns que defendiam o
uso de gênero e outros que eram contra. Nós não queremos nem ser contra nem a
favor. Somos a favor da pluralidade, da abertura, da transparência e da
lei", disse Maria Helena.
Como eixo, a
BNCC defende que o aluno desenvolva a competência de se relacionar "sem
preconceitos de origem, etnia, gênero, orientação sexual, idade,
habilidade/necessidade, convicção religiosa ou de qualquer outra
natureza".
10 competências
A base
determina que, ao longo da educação básica, os estudantes devem desenvolver dez
competências gerais, tanto cognitivas quanto socioemocionais, que incluem o
exercício da curiosidade intelectual, o uso das tecnologias digitais de
comunicação e a valorização da diversidade dos indivíduos.
· Valorizar e
utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico,
social e cultural para entender e explicar a realidade (fatos, informações,
fenômenos e processos linguísticos, culturais, sociais, econômicos,
científicos, tecnológicos e naturais), colaborando para a construção de uma
sociedade solidária.
· Exercitar a
curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo
a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade,
para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver
problemas e inventar soluções com base nos conhecimentos das diferentes áreas.
· Desenvolver o
senso estético para reconhecer, valorizar e fruir as diversas manifestações
artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também para participar de
práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
· Utilizar
conhecimentos das linguagens verbal (oral e escrita) e/ ou verbo-visual (como
Libras), corporal, multimodal, artística, matemática, científica, tecnológica e
digital para expressar-se e partilhar informações, experiências, ideias e
sentimentos em diferentes contextos e, com eles, produzir sentidos que levem ao
entendimento mútuo.
· Utilizar
tecnologias digitais de comunicação e informação de forma crítica,
significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas do cotidiano (incluindo
as escolares) ao se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir
conhecimentos e resolver problemas.
· Valorizar a
diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e
experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do
trabalho e fazer escolhas alinhadas ao seu projeto de vida pessoal,
profissional e social, com liberdade, autonomia, consciência crítica e
responsabilidade.
· Argumentar com
base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender
ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos
humanos e a consciência socioambiental em âmbito local, regional e global, com
posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do
planeta.
· Conhecer-se, apreciar-se
e cuidar de sua saúde física e emocional, reconhecendo suas emoções e as dos
outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas e com a pressão do
grupo.
·
Exercitar a
empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar
e promovendo o respeito ao outro, com acolhimento e valorização da diversidade
de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e
potencialidades, sem preconceitos de origem, etnia, gênero, orientação sexual,
idade, habilidade/necessidade, convicção religiosa ou de qualquer outra
natureza, reconhecendo-se como parte de uma coletividade com a qual deve se
comprometer.
·
Agir pessoal e
coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e
determinação, tomando decisões, com base nos conhecimentos construídos na
escola, segundo princípios éticos democráticos, inclusivos, sustentáveis e
solidários.
“A Base tem o
objetivo de entender que o país é diverso e que escola deve estar aberta para
atender todos, que seja inclusiva e que aceite o diverso”, disse a secretária
executiva do MEC, Maria Helena Guimarães de Castro.
Bebês e crianças pequenas
A BNCC também
passou a adotar objetivos específicos para três categorias da educação
infantil: crianças de zero a 1 ano e 6 meses; 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11
meses; 4 anos a 5 anos e 11 meses.
A educação
infantil, aliás, é a etapa que tem a estrutura defendida como mais inovadora
pelos redatores da versão final da BNCC. Ela não obedece a divisões mais
tradicionais por áreas de conhecimento e componentes curriculares. Faz o
cruzamento das áreas com os chamados “campos de experiência”, que incorporam
dimensões como o “brincar” e “explorar”, consideradas indispensáveis à formação
das crianças.
Em reunião
técnica para discutir a base com a imprensa, Maria Helena exemplificou
competências específicas das áreas de conhecimento e de objetivos de
aprendizagem do ensino fundamental. Em matemática, por exemplo, espera-se que o
aluno possa estabelecer relações entre conceitos dos diferentes campos da
ciência (aritmética, álgebra, geometria, estatística e probabilidade) durante
todos os anos do ensino fundamental.
Ensino médio
A Base Nacional
Comum Curricular apresentada pelo MEC nesta quinta trata apenas dos ensinos
infantil e fundamental. A base do ensino médio será revisada por causa da
aprovação do projeto de reforma dessa etapa da educação básica sancionada pelo
Congresso em fevereiro deste ano. A previsão é que ela seja encaminhada ao
Conselho Nacional de Educação no segundo semestre.
Enquanto não
houver mudanças na base do ensino médio, o Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) não será alterado.
"O Enem
vai mudar na medida em que a base do ensino médio for aprovada. O Enem deve
seguir a nova base no futuro, não sei se é 2019 ou se é 2020. Vai depender da
nova base", disse Maria Helena.
A secretaria
executiva do MEC lembrou que as mudanças de conteúdo do Enem, conforme aprovado
na lei da reforma, só devem ocorrer dois anos após a aprovação da BNCC do
ensino médio.
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