Presidente afirmou que não teme delação. Segundo 'O Globo', empresário entregou à PGR gravação de conversa na qual discutiu com Temer compra do silêncio de Eduardo Cunha.
Por G1, Brasília
O presidente
Michel Temer afirmou na tarde desta quinta-feira (18) no Palácio do Planalto
que não teme delação e que não renunciará.
Ele fez um
pronunciamento motivado pela delação premiada dos empresários Joesley e Wesley
Batista, donos da JBS. As delações já foram homologadas pelo
Supremo Tribunal Federal. Nesta quinta, o ministro Edson Fachin, relator da
Operação Lava Jato no STF, autorizou a abertura de inquérito
para investigar o presidente.
"No
Supremo, mostrarei que não tenho nenhum envolvimento com esses fatos. Não
renunciarei. Repito: não renunciarei. Sei o que fiz e sei a correção dos meus
atos. Exijo investigação plena e muito rápida para os esclarecimentos ao povo
brasileiro. Essa situação de dubiedade e de dúvida não pode persistir por muito
tempo", declarou.
Reportagem
publicada no site do jornal "O Globo" nesta quarta (17) informou que
Joesley Batista entregou à Procuradoria Geral da República (PGR) gravação de
conversa na qual ele e Temer falaram sobre a compra do silêncio do
deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso na Operação
Lava Jato.
"Não temo
nenhuma delação, nada tenho a esconder", disse Temer. "Nunca
autorizei que se utilizasse meu nome", declarou o presidente.
Houve,
realmente, o relato de um empresário que, por ter relações com um ex-deputado,
auxiliava a família do ex-parlamentar. Não solicitei que isso acontecesse. E
somente tive conhecimento desse fato nessa conversa pedida pelo
empresário", disse.
Ele afirmou que
nunca autorizou que se pagasse a alguém para ficar calado. "Em nenhum
momento autorizei que pagasse a quem quer que seja para ficar calado. Não
comprei o silêncio de ninguém", declarou.
Temer disse que
pediu oficialmente ao Supremo acesso ao conteúdo das delações, mas não
conseguiu.
"Meu
governo viveu nesta semana seu melhor e seu pior momento", disse Temer, em
referência a indicadores de inflação, emprego e desempenho da economia e à
revelação da delação dos donos da JBS. "Todo o esforço para tirar o país
da recessão pode se tornar inútil", afirmou.
Segundo o
presidente, "a revelação de conversas gravadas clandestinamente trouxe
fantasmas de crise politica de proporção ainda não dimensionada".
Íntegra do pronunciamento
Leia abaixo a
íntegra do pronunciamento de Michel Temer:
Olha,
ao cumprimentá-los, eu quero fazer uma declaração à imprensa brasileira e uma
declaração ao País. E, desde logo, ressalto que só falo agora - os fatos se
deram ontem - porque eu tentei conhecer, primeiramente, o conteúdo de gravações
que me citam. Solicitei, aliás, oficialmente, ao Supremo Tribunal Federal,
acesso a esses documentos. Mas até o presente momento não o consegui.
Quero
deixar muito claro, dizendo que o meu governo viveu, nesta semana, seu melhor e
seu pior momento. Os indicadores de queda da inflação, os números de retorno ao
crescimento da economia e os dados de geração de empregos, criaram esperança de
dias melhores. O otimismo retornava e as reformas avançavam, no Congresso
Nacional. Ontem, contudo, a revelação de conversa gravada clandestinamente
trouxe volta o fantasma de crise política de proporção ainda não dimensionada.
Portanto,
todo um imenso esforço de retirar o País de sua maior recessão pode se tornar
inútil. E nós não podemos jogar no lixo da história tanto trabalho feito em
prol do País. Houve, realmente, o relato de um empresário que, por ter relações
com um ex-deputado, auxiliava a família do ex-parlamentar. Não solicitei que
isso acontecesse. E somente tive conhecimento desse fato nessa conversa pedida
pelo empresário.
Repito
e ressalto: em nenhum momento autorizei que pagassem a quem quer que seja para
ficar calado. Não comprei o silêncio de ninguém. Por uma razão singelíssima:
exata e precisamente porque não temo nenhuma delação, não preciso de cargo
público nem de foro especial. Nada tenho a esconder, sempre honrei meu nome, na
universidade, na vida pública, na vida profissional, nos meus escritos, nos
meus trabalhos. E nunca autorizei, por isso mesmo, que utilizassem o meu nome
indevidamente.
E
por isso quero registrar enfaticamente: a investigação pedida pelo Supremo
Tribunal Federal será território, onde surgirão todas as explicações. E no
Supremo, demonstrarei não ter nenhum envolvimento com esses fatos.
Não
renunciarei, repito, não renunciarei! Sei o que fiz e sei da correção dos meus
atos. Exijo investigação plena e muito rápida, para os esclarecimentos ao povo
brasileiro. Esta situação de dubiedade ou de dúvida não pode persistir por
muito tempo. Se foram rápidas nas gravações clandestinas, não podem tardar nas investigações
e na solução respeitantemente a estas investigações.
Tanto
esforço e dificuldades superadas, meu único compromisso, meus senhores e minhas
senhoras, é com o Brasil. E é só este compromisso que me guiará.
Muito
obrigado.
Muito boa tarde a todos.
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Michel Temer durante o pronunciamento no Palácio do Planalto no qual afirmou que não vai renunciar (Foto: Ueslei Marcelino/Reuters) |
Nota da Presidência
Na noite desta
quarta (17), após a veiculação da reportagem, a Presidência divulgou nota na
qual confirmou que, em março Temer e Joesley Batista se encontraram, mas negou ter havido conversa
sobre tentar evitar a delação de Cunha.
No âmbito do
STF, o ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato, autorizou abertura de inquérito
para investigar Temer, a pedido da Procuradoria-Geral da
República (PGR).
Com a decisão
de Fachin, Temer passou formalmente à condição de investigado na Operação Lava
Jato. Ainda não há detalhes sobre a decisão, confirmada pela TV Globo.
As revelações
do jornal geraram reações imediatas no Congresso Nacional, a ponto de os presidentes
da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), encerrarem as sessões
desta quarta nas quais estavam sendo discutidos projetos.
Além disso,
tanto parlamentares da oposição quanto da base aliada passaram a defender
a saída de Temer por meio de reúncia ou impeachment.
Pela
Constituição, se o presidente renunciar ou sofrer impeachment, o presidente da
Câmara, Rodrigo Maia, assume interinamente a Presidência e tem de convocar novas
eleições.
Aécio Neves
Na mesma
delação, também segundo o jornal "O Globo", os donos da JBS revelaram pedido do senador Aécio
Neves (PSDB-MG) de R$ 2 milhões à empresa para pagar as
despesas com advogados que o defendem na Lava Jato.
Aécio indicou
um primo dele para receber o dinheiro, e a entrega foi filmada pela Polícia
Federal. A PF também rastreou o caminho do dinheiro e descobriu que foi
depositado em uma empresa do também senador Zeze Perrella (PMDB-MG).
Nesta quinta,
Aécio Neves foi afastado do mandato de
senador, por determinação do Supremo Tribunal Federal. Além
disso, a irmã dele, Andrea
Neves, foi presa pela Polícia Federal por suspeita de
envolvimento no episódio envolvendo a JBS. Um primo de Aécio, Frederico Pacheco
de Medeiros, também foi preso.
Embora a
Procuradoria Geral da República tenha pedido a prisão de Aécio, o ministro
Edson Fachin rejeitou o pedido e
não levará o caso a plenário, que só avaliará o caso se o procurador-geral,
Rodrigo Janot, decidir recorrer da decisão.
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