Polícia Federal afirma que presidente recebeu
propina da JBS por intermédio de Rodrigo Rocha Loures; ele nega. Temer também é
investigado por obstrução à Justiça e organização criminosa.
Por
Lucas Salomão, G1, Brasília
![]() |
O presidente Michel Temer durante pronunciamento em maio no Palácio do Planalto, em Brasília (Foto: Evaristo Sá/AFP) |
Em relatório
entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal afirma que as
evidências colhidas na investigação indicam "com vigor" que o
presidente Michel Temer cometeu o crime de corrupção passiva.
No documento, enviado ao STF nesta
segunda-feira (19) e tornado público nesta terça, a PF
afirma que o presidente aceitou pagamentos de vantagens indevidas do grupo
J&f por intermédio do ex-assessor e ex-deputado Rodrigo Rocha Loures
(PMDB-PR) (leia mais abaixo sobre os pagamentos).
Ao afirmar que
Temer e Rocha Loures cometeram os crimes de corrupção passiva, a Polícia
Federal ressalta que, durante a condução do inquérito, tentou interrogá-los mas
que, por opção, os dois não responderam às perguntas dos investigadores.
"Diante do
silêncio do mandatário maior da nação e de seu ex-assessor especial, resultam
incólumes as evidências que emanam do conjunto informativo formado nestes
autos, a indicar, com vigor, a prática de corrupção passiva", diz a PF no
relatório.
Além de Temer e
Rocha Loures, a PF aponta que o dono do grupo J&F, Joesley Batista, e o
diretor de Relações Institucionais da empresa, Ricardo Saud, cometeram o crime
de corrupção ativa.
![]() |
Em relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal, a PF aponta que Michel Temer cometeu o crime de corrupção passiva (Foto: Reprodução/Polícia Federal) |
Nesta terça, ao
ser abordado por jornalistas brasileiros na Rússia, onde cumpre agenda oficial,
Temer afirmou que relatório da Polícia Federal é um caso de "juízo jurídico, e
não político".
Desde que as
delações se tornaram públicas, o presidente tem rebatido todas as acusações e
dito que não atuou para beneficiar a JBS e nem teme delação premiada. Além
disso, Temer processou Joesley Batista, dono da JBS, por calúnia, injúria e
difamação.
Inquérito
O relatório faz
parte do inquérito no qual Temer e Rocha Loures são investigados pelos crimes
de corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa.
Com relação às
investigações sobre a suspeita de obstrução de Justiça e organização criminosa,
a PF pediu mais cinco dias para concluir a apuração. Isso porque os
investigadores avaliam que a apuração só deve ser finalizada após a perícia
técnica da gravação feita pelo empresário Joesley Batista de uma conversa com
Temer for concluída.
A expectativa é
de que a perícia no aparelho e no áudio entregue pelo dono do grupo J&F,
Joesley Batista, ao Ministério Público seja concluída ainda nesta semana.
![]() |
Joesley Batista afirma que pediu ajuda a Temer para resolver um problema no Cade |
Cade
Na parte
entregue ao Supremo, que trata do crime de corrupção passiva, a PF afirma que a
investigação se baseou nos pagamentos de propina a Rocha Loures e, por
consequência, a Temer "em razăo de interferência ou de suposta
interferência no andamento de processo administrativo em trâmite no Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (CADE)".
Segundo a
delação da J&F, o dono da empresa, Joesley Batista, procurou Rocha Loures
para solicitar que o governo intercedesse a favor do grupo em um pleito no
Cade.
A J&F
questionava no conselho o monopólio da Petrobras na importação de gás da
Bolívia em um processo. O grupo J&F detém o comando da Empresa Produtora de
Energia (EPE), que comercializa energia.
Joesley disse
em depoimento que procurou o peemedebista após conversa com Michel Temer, que
indicou o assessor para que resolvesse os pleitos do grupo.
Na reunião com
Rocha Loures, Joesley pediu apoio no processo e afirmou que a solução do caso
poderia gerar ganhos de R$ 1 milhão a R$ 3 milhões por dia para a termelétrica
do grupo. Ele ofereceu propina no valor de 5% do lucro da termelétrica se a
questão fosse resolvida no Cade.
Depois da
reunião, segundo os delatores e as investigações da PF, Rocha Loures foi
procurado pelo diretor de Relações Institucionais da empresa, Ricardo Saud,
para que fosse combinada a forma do pagamento de propina, já que a J&F
conseguiu resolver o processo com a Petrobras.
Como prova,
além da gravação do diálogo, Saud entregou à PF uma folha com anotações sobre
como se daria o pagamento (veja a cópia das anotações ao
final desta reportagem).
"Nesta
primeira parte [da conversa], Ricardo Saud, ratificando o que fizera Joesley
Batista, ofertou valores semanais a Rodrigo Loures, decorrência da resoluçăo da
questão submetida ao Cade, explicando-Ihe detalhadamente como se dariam os
repasses. Rodrigo Rocha Loures manteve-se atento às explicações, intervindo por
vezes. Na folha com anotações manuscritas consta que a eventual variação do
"PLD" é o que determina o montante a ser pago semanalmente como propina",
relata a PF.
Na conversa, e
nas anotações, a PF destaca que Rocha Loures receberia entre R$ 500 mil e R$ 1
milhão, a depender do preço que a EPE conseguisse comercializar a energia.
"Tais
inscrições, absolutamente compatíveis com o teor do diálogo, se traduzem na
oferta de R$ 500.000,00 (quinhentos mii reais) como propina por semana, quando
o PLD fosse fixado com o preço entre R$ 300,00 e R$ 400,00, e de R$
1.000.000,00 (um milhăo de reais), quando o PLD ultrapassasse os R$
400,00", diz o relatório.
O PLD é o Preço
de Liquidação das Diferenças, que é valor fixado pela Câmara de Comercialização
de Energia Elétrica (CCEE), para a comercialização da energia no mercado livre.
De acordo com
Saud, apesar do deputado Rodrigo Loures ter sido indicado para ajudar nos
interesses da empresa, os pagamentos de propina tinham como destinatário final
o presidente Michel Temer.
"Com
as minhas palavras: eu tenho certeza absoluta que nós tratamos propina com o
Temer, nós nunca tratamos propina com o Rodrigo. O Rodrigo foi um mensageiro
que Michel Temer mandou para conversar com a gente, para resolver os nossos
problemas e para receber o dinheiro dele." - Ricardo Saud
![]() |
Anotação entregue por Ricardo Saud, da JBS, à Polícia Federal no qual o executivo anotou os valores que seriam repassados a Rodrigo Rocha Loures (Foto: Reprodução/Polícia Federal) |
Postar um comentário
Blog do Paixão