Empresário Joesley Batista registrou conversa com
presidente com um gravador escondido. Em maio, perito contratado pelos
advogados de Temer disse que áudio era 'imprestável'.
Por
Camila Bomfim, TV Globo, Brasília
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REPRODUÇÃO |
O laudo da
perícia da Polícia Federal que analisou as gravações da conversa entre o
empresário Joesley Batista, dono da empresa JBS, e o presidente Michel Temer e
os gravadores usados pelo empresário aponta que não houve edição de conteúdo,
ou seja, não houve manipulação nos diálogos.
A informação
foi confirmada por duas fontes envolvidas na investigação. Investigadores
afirmam que os peritos encontraram pontos de descontinuidades técnicas, ou
seja, variações no sinal de áudio, provocadas por questões técnicas, sem sinais
de fraude ou edição. O laudo acrescenta que as conversas de Joesley com o
presidente têm logica e coerência.
O laudo será
agora anexado ao inquérito, cujo relatório parcial foi entregue pela Polícia
Federal ao Supremo Tribunal Federal na última segunda-feira. O relatório afirma
que há indícios de que Temer e o ex-assessor e ex-deputado Rodrigo Rocha Loures
cometeram crime de corrupção passiva. A PF aguardava a perícia da gravação para
concluir as investigações sobre a suspeita de que Temer e Loures cometeram
outros dois crimes: obstrução de justiça e formação de organização criminosa.
Advogado de Temer
O advogado do
presidente Michel Temer, Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, disse ao G1 que ainda não teve acesso ao documento da PF e
que buscará conhecer o teor da perícia para se pronunciar.
"Mas posso
adiantar que laudo não é uma verdade absoluta. Se existe um laudo dizendo que
não houve manipulação, existem outros três dizendo que houve. É uma questão de
análise e de julgamento final da autoridade responsável. E essa prova está
sendo contestada sob outros aspectos, principalmente sobre a licitude",
disse Mariz.
O advogado de
Temer acrescentou, ainda, que a gravação de Joesley Batista deveria ser
considerada ilícita porque, na visão da defesa do presidente, só se pode gravar
uma conversa "para quem está gravando vir a se defender futuramente, o que
não é o caso".
"Portanto,
existem duas objeções a esta gravação, uma de caráter técnico e outra de
caráter legal, que nós vamos discutir", concluiu.
O diálogo
Na noite de 7
de março, Joesley Batista teve um encontro com Temer fora da agenda, na
residência oficial do Palácio do Jaburu, em Brasília, e, com um gravador
escondido, registrou a conversa.
No diálogo, ele
diz que "zerou pendências" com o deputado cassado Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) e que está "de bem" com o peemedebista, que está preso em
Curitiba. Neste momento, Temer diz ao empresário: "tem que manter
isso". Joesley disse ao Ministério Público que Temer deu aval para que ele
comprasse o silêncio de Cunha, para que o ex-deputado não fizesse delação
premiada.
De posse da
gravação, o Supremo instaurou inquérito para investigar Temer. A PGR afirmou em
documento enviado à Corte que houve “anuência” do presidente ao pagamento de
propina mensal para comprar o silêncio de Cunha.
O laudo da PF
foi entregue em mãos ao delegado do caso, que foi ao Instituto Nacional de
Criminalística receber o parecer.
Laudo paralelo
Em maio, o
perito Ricardo Molina, contratado pelos advogados de Temer, divulgou um laudo no qual afirmou que
é "imprestável" como prova numa investigação e
não seria aceita em uma "situação normal".
Para Ricardo
Molina, o áudio apresentava "inúmeras descontinuidades, mascaramentos por
ruído, longos trechos ininteligíveis ou de inteligibilidade duvidosa".
Com base na
gravação e em informações prestadas por Joesley e o irmão Wesley Batista, o
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Edson Fachin autorizou a
abertura de inquérito para investigar Temer pelos crimes de corrupção passiva,
obstrução à Justiça e organização criminosa.
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