Ex-presidente do
Banco do Brasil e da Petrobras é suspeito de receber R$ 3 milhões em propina da
Odebrecht.
Por Amanda Polato, Adriana Justi,
Bibiana Dionísio e Fernando Castro, G1 e G1 PR, São Paulo e Curitiba
Preso na 42ª fase da Lava
Jato nesta quinta-feira (27) , o ex-presidente do Banco do Brasil
e da Petrobras Aldemir Bendine tinha uma passagem de ida para Portugal. A
viagem estava marcada para esta sexta-feira (28), descobriu o Ministério
Público Federal (MPF) após quebra do sigilo telefônico do suspeito.
"É
importante destacar que o MPF encontrou apenas a passagem de ida, não significa
que não havia a passagem de volta", afirmou Athayde Ribeiro Costa,
procurador da República, em entrevista à imprensa em Curitiba.
Ao
detalhar a 42ª fase da operação, Costa afirmou que vários fatores justificaram
a prisão temporária de Bendine, que ocorreu em Sorocaba (SP).
Entre eles, está o fato de haver indícios de cometimento de crimes após a
deflagração da Lava Jato e também o fato de Bendine ter nacionalidade italiana.
"Todos esses fatos foram levados em conta. [...] É concreto o risco à
ordem pública", disse Costa.
O
delegado Igor Romário de Paula criticou a divulgação de delações. Ele disse que
este pode ter sido um dos motivos da compra da passagem para Portugal.
O
MPF afirma que, quando comandava o Banco do Brasil, Bendine pediu R$ 17 milhões
à Odebrecht para rolar uma dívida da empresa com a instituição, mas não recebeu
o valor. Na véspera de assumir a Petrobras, teria pedido mais R$ 3 milhões para
não prejudicar os contratos da estatal com a empreiteira, segundo delação de
ex-executivos. O valor foi pago em 2015.
Obstrução
de Justiça
Segundo o procurador, também há evidências de que os
outros dois alvos dessa operação tentaram apagar provas e obstruir a Justiça.
Um deles, André Gustavo Vieira da Silva, foi detido em um aeroporto no Recife.
Ele viajaria para Brasília.
Foi
preso ainda o irmão dele, Antônio Carlos Vieira da Silva Júnior. Os dois são
sócios em uma agência de publicidade, chamada Arcos, e são apontados como
operadores da propina.
"André Gustavo e Antônio Carlos, ainda em conluio com Bendine, teriam
praticado em 2017 atos que caracterizam lavagem de ativos e obstrução das
investigações. O produto do crime até o momento não foi recuperado",
afirmou Athayde Ribeiro Costa ao justificar os pedidos de prisão.
Segundo
as investigações, neste ano, um dos operadores confirmou que recebeu dinheiro
da Odebrecht, mas tentou atribuir o pagamento a uma suposta consultoria que
teria prestado à empreiteira, para facilitar o financiamento junto ao Banco do
Brasil. No entanto, a investigação revelou que a empresa usada pelo operador
era de fachada.
Prisões
Os três suspeitos foram presos temporariamente. A prisão
tem prazo de cinco dias e pode ser prorrogada pelo mesmo período ou convertida
para preventiva, que é quando o investigado não tem prazo para deixar a cadeia.
A
força-tarefa da Lava Jato chegou a pedir a prisão preventiva, entretanto, o
juiz Sérgio Moro não a autorizou. “A imposição da prisão temporária viabilizará
o melhor exame dos pressupostos e fundamentos da preventiva após a colheita do
material probatório na busca e apreensão e após a oitiva dos investigados”,
argumentou o juiz.
Bendine
deve chegar à Superintendência da POlícia Federal em Curitiba por volta das 14h
desta quinta. Os irmãos Silva devem chegar à capital paranaense por volta das
19h.
Braço-direito de Dilma
Em 2015, Bendine era braço direito da então presidente
Dilma Rousseff. E havia deixado o banco com a missão de acabar com a corrupção
na petroleira, alvo da Lava Jato. Mas, segundo delatores da Odebrecht, ele já
cobrava propina no Banco do Brasil e continuou cobrando na Petrobras.
Segundo
as investigações, Bendine usava o nome de Dilma em negociações, mas a polícia
não encontrou nenhum indício de envolvimento da ex-presidente nesse esquema.
"As provas de que o presidente da Petrobras, nomeado para acabar com a corrupção na companhia, são relamente de assustar todos nós." Athayde Ribeiro Costa, procurador da República
"É indignante que, durante o escândalo na
Petrobras, pessoas utilizavam a companhia para praticar cirmes e aferir
recursos. Bendine veio do Banco do Brasil, foi para a Petrobras e, segundo as
provas, havia pedido de propina", disse o procurador.
Propina
no Banco do Brasil
No despacho que autorizou a 42 ª fase da Operação lava
Jato, o juiz Sergio Moro mencionou parte da colaboração de Fernando Luiz Ayres
da Cunha Santos, ex-presidente da Odebrecht Ambiental.
Santos
afirmou que André Gustavo Vieira da Silva se apresentou como representante de
Aldemir Bendine em uma conversa sobre o alongamento de dívida da Odebrecht
Agroindustrial. Ele disse, conforme a delação, que o então presidente do Banco
do Brasil exigia um “pedágio” para aprovação do crédito e do pagamento.
"Inicialmente,
ainda naquele encontro, ele falava em percentuais na ordem de 2% a 3%, o que
daria algo entre R$ 58 e R$ 87 milhões. Posteriormente, em negociação, foi
solicitado por André Gustavo Vieira da Silva um valor somente de dezessete
milhões de reais”, diz trecho do despacho.
O
valor não foi pago porque Marcelo Odebrecht teria avaliado que o pagamento não
influenciaria o alongamento da dívida da Odebrecht Agroindustrial, conforme o
despacho.
Informações privilegiadas
Ainda conforme Fernando Luiz Ayres da Cunha, depois que
Bendine assumiu a presidência da Petrobras, houve encontros entre ele, André
Silva e o próprio Bendine. Além disso, a empresa começou a receber informações
privilegiadas sobre a petrolífera.
“Afirma
Fernando Luiz Ayres da Cunha que passou a receber informações privilegiadas e
confidenciais da Petrobras por meio de André Gustavo Vieira da Silva”.
Conforme
o despacho, já na posição de presidente da Petrobras, por meio de André Gustavo
Vieira da Silva, Bendine voltou a pedir propina de 1% sobre o crédito da
Odebrecht Industrial.
“Diante
do poder do cargo de Presidente da Petrobrás, Marcelo Bahia Odebrecht e
Fernando Luiz Ayres da Cunha resolveram desta feita ceder à solicitação, pelo
menos parcialmente, tendo acertado um pagamento de três milhões”, diz trecho do
despacho.
Conforme
relatado pelo juiz, André Gustavo afirmou que recebeu o dinheiro, entretanto,
alegou que o pagamento foi por uma consultoria dada ao Grupo Odebrecht. Ainda segundo
o despacho, André Gustavo apresentou duas notas fiscais que foram canceladas,
segundo ele mesmo, a pedido da Odebrecht, que insistiu no pagamento em espécie.
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