Revista revelou
documentos que serão entregues pela empresa à PGR que comprovariam corrupção
entre 2006 e 2017. Entre os beneficiários estão Temer, Lula, Dilma e Serra, que
negam.
Por Vladimir Netto, TV Globo,
Brasília
Reportagem da revista
"Época"desta semana publicou alguns dos documentos que
os delatores da JBS entregarão para a Procuradoria Geral da República (PGR) e
que, segundo eles, comprovariam o pagamento de propina a políticos de vários
partidos entre 2006 e 2017.
Entre
os políticos que teriam recebido propina, segundo os documentos, estão o
presidente Michel Temer, os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma
Rousseff e o senador José Serra (PSDB-SP), que concorreu à Presidência em 2010.
A
revista teve acesso à contabilidade da JBS e, na reportagem, revelou planilhas
com pagamentos para campanhas eleitorais em quase dez anos e que seriam propina
segundo os delatores.
De
acordo com a revista, os documentos que serão entregues à PGR como provas
seriam comprovantes bancários, notas fiscais frias, contratos fraudulentos e
depósitos em contas secretas no exterior.
A
reportagem da "Época" diz ainda que, de 2006 a 2017, a contabilidade
da propina paga pela JBS e outras empresas dos irmãoes Joesley e Wesley Batista
ultrapassa o valor de R$ 1,1 bilhão.
Desse
valor, segundo a reportagem, R$ 301 milhões foram repassados em dinheiro vivo;
R$ 395 milhões por meio de empresas indicadas pelos políticos; e R$ 427,4
milhões em doações oficiais de campanha.
A
reportagem dividiu os pagamentos por núcleos:
·
Núcleo do governo Michel Temer;
·
Núcleo do chamado Centrão;
·
Núcleo do PMDB no Senado;
·
Núcleo do PMDB na Câmara;
·
Núcleo do PT;
·
Núcleo do PSDB.
Temer
O núcleo Michel Temer, por exemplo, teria recebido ao
todo R$ 21,7 milhões. O dinheiro teria sido distribuído para aliados políticos
e amigos do presidente em campanhas eleitorais ou fora delas.
Desse
valor, segundo a reportagem, R$ 1 milhão foi repassado em dinheiro vivo ao
coronel João Batista Lima, amigo de Temer, e teria solicitado pelo peemedebista
na época em que ele era vice-presidente. A informação foi revelada em delação
premiada pelo executivo da JBS Ricardo Saud.
"O Temer me deu um papelzinho e falou: 'Olha Ricardo, tem 1 milhão que eu
quero que você entregue em dinheiro nesse endereço aqui'. Me deu o endereço. Na
porta do escritório dele, na calçada, só eu e ele na rua, na praça
Panamericana. Eu peguei e mandei o Florisvaldo lá, falei: 'Vai lá saber o que
que é isso'", relatou Saud à PGR.
A
reportagem de "Época" mostra uma nota fiscal, emitida pela empresa do
publicitário Elsinho Mouco, que registra serviços de planejamento estratégico
de comunicação. De acordo com delatores, essa nota seria fria e teria sido
usada para justificar a entrega de R$ 1 milhão a Michel Temer. Elsinho Mouco é,
até hoje, o publicitário de Temer.
Segundo
os documentos da JBS revelador pela reportagem, cinco ministros do governo
Temer receberam R$ 46,7 milhões.
Centrão
Para o núcleo do chamado Centrão, de acordo com a
revista, foram R$ 138 milhões, usados nas campanhas eleitorais de 2010 e 2014
para comprar partidos que, hoje, defendem Temer no Congresso.
PMDB
Para senadores do PMDB, segundo a JBS, foram repassados
R$ 29,1 milhões, divididos por cinco parlamentares da cúpula do partido. Um
deles, informou "Época, seria o atual presidente do Senado, Eunício
Oliveira (CE).
A
reportagem mostra uma nota fiscal que seria fria, de uma empresa de Salvador,
que, de acordo com delatores, teria sido usada no repasse do dinheiro a
Eunício.
Já
para a bancada do partido na Câmara, de acordo com a reportagem, foram
repassados R$ 55,2 milhões.
PT
Para o núcleo do PT, de acordo com a contabilidade da
JBS, foram repassados US$ 151 milhões no exterior e R$ 111,7 milhões no Brasil.
Esse dinheiro, segundo delatores, foi propina paga em troca de financiamentos
obtidos pela empresa junto ao BNDES.
A
reportagem traz trechos dos extratos de duas contas no exterior que teriam sido
usadas, segundo a JBS, para depositar a propina do PT durante os governos Lula
e Dilma. Esse dinheiro teria sido usado na campanha de Dilma à reeleição em
2014.
A revista também revela repasses feitos a pedido do ex-ministro petista Antonio
Palocci. Na contabilidade da JBS, há registro de dez depósitos de US$ 100 mil
cada, na conta de um banco nos Estados Unidos, cujo beneficiário é o pastor
Samuel Ferreira.
De
acordo com os registros da JBS, o dinheiro saia de uma conta da empresa a
pedido de Palocci. A ligação entre o ex-ministro e o pastor Samuel Ferreira
ainda terá que ser investigada.
PSDB
Para o PSDB, segundo a planilha da JBS, foram repassados
R$ 42,2 milhões nas campanhas de 2010 e 2014.
A
reportagem mostra ainda um recibo da empresa LRC Eventos – indicada pela campanha
de José Serra em 2010 –, que teria sido usado para dar fachada de legalidade à
uma doação ao tucano, segundo delatores.
Repasses
Para ter controle sobre todos esses pagamentos, a JBS
não criou um departamento de propina, como a Odebrecht. Poucos funcionários
centralizavam esses repasses de dinheiro, que eram feitos de diferentes
maneiras.
Esses
funcionários também fizeram acordo de delação premiada e deram detalhes do
mecanismo desse esquema criado para corromper políticos.
Um
dos funcionários era Florisvaldo de Oliveira. Outro, Demilton de Castro.
"Ela
[a planilha] tem data, nome das pessoas, alguns casos tem remessa em dinheiro,
que aí não vai ter nome né... [...] Tem [codinomes para disfarçar os nomes dos
políticos], tem algum caso que tem", disse Castro à PGR.
Todo
o material revelado pela revista será entregue à PGR nas próximas semanas para
complementar as delações da JBS.
O que
disseram os citados
Em nota, o presidente Michel Temer afirmou
que a delação de Joesley Batista é "fantasiosa", baseada em
documentos forjados e fatos deturpados. O presidente disse ainda que o
empresário e seus "capangas reinventam o passado para incriminá-lo de
forma torpe e injuriosa".
O
senador Eunício Oliveira afirmou
que o relato feito pela revista não condiz com a verdade, que desconhece as
empresas citadas, e que a JBS contribuiu de maneira legal para a campanha dele
ao governo do Ceará.
A ex-presidente Dilma Rousseff disse que
as afirmações dos delatores da JBS são improcedentes e inverídicas.
A
assessoria do ex-presidente Lula afirmou
que ele nunca foi beneficiário de contas ocultas e que as reproduções dos
extratos divulgadas pela revista são parte de uma grosseira farsa contra o
ex-presidente. Disse também que as denúncias partem de um réu confesso, que
recebeu perdão judicial em troca de fazer falsas acusações que não pode provar.
A
defesa de Antonio Palocci informou
que vai se manifestar no processo.
O
advogado de Samuel ferreira afirmou
que o pastor recebe inúmeras doações de forma legal e que ele não conhece Antonio
Palocci.
O PT afirmou
que todas as doações recebidas foram legais e aprovadas pela Justiça eleitoral.
O PSDB não
quis se manifestar e disse que aguarda mais informações sobre a delação.
O PMDB não
respondeu à reportagem.
A TV
Globo não conseguiu contato com o senador José Serra. O
tucano já afirmou no passado que todas as campanhas dele foram conduzidas
dentro da lei.
A TV
Globo também não conseguiu contato com o coronel João Batista Lima,
com a empresa LRC Eventos e com o
marqueteiro Elsinho Mouco.
Em
nota à revista "Época", o marqueteiro afirmou que Joesley Batista se
dispôs voluntariamente a bancar os custos de proteção digital a Michel Temer e
que tem documentação que comprova o trabalho.
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