Esquema de corrupção nos transportes
do RJ era um dos mais antigos do estado. Operação Ponto Final prendeu 10
suspeitos, incluindo Jacob Barata Filho, que tentava embarcar para Portugal.
Ex-governador do RJ Sérgio Cabral / Foto: Internet
O esquema de corrupção
envolvendo o transporte público rodoviário no Rio de
Janeiro é um dos mais antigos no estado e continuou beneficiando o
ex-governador Sérgio Cabral e sua quadrilha mesmo após ele deixar o governo,
segundo o procurador da República Eduardo El Hage. De acordo com as
investigações, valores desviados indevidamente eram encaminhados para Cabral
como "prêmios" em troca de benefícios para as empresas de ônibus -
como a concessão de reajustes nas tarifas.
Polícia
Federal prende 10 suspeitos de desviar dinheiro do transporte público
Dez pessoas
foram presas na Operação Ponto Final - dois alvos de mandados de prisão estão
foragidos e terão seus nomes encaminhados para a Interpol ainda nesta segunda,
de acordo com a Polícia Federal. De acordo com as investigações, R$ 260 milhões
em propina foram desviados das empresas de ônibus e pagos pelos investigados a
políticos do estado.
Apenas Cabral recebeu R$ 122 milhões em
propina, segundo o MPF. Um dos benefícios concedidos pelo
ex-governador e investigado pelo MPF é a autorização para um reajuste de 7% nos
preços das passagens em 2009, quando ele deveria ter sido de 2%.
“A gente tem
informação que o Sérgio Cabral, mesmo após ter largado o governo em 2014,
manteve uma influência política decisiva e tinha muitos créditos a obter da
Fetranspor [Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do
Rio de Janeiro], em razão das negociatas que ele fez durante o seu governo.
Então, sempre que havia um reajuste o Sérgio Cabral recebia prêmios da
Fetranspor e ele distribuía esses prêmios entre a organização criminosa
dele", afirmou El Hage.
Investigações
Segundo relato do doleiro e operador Álvaro Novis em
delação premiada, o presidente do Conselho de Administração da Fetranspor, José
Carlos Lavouras, o procurou para “recolher regularmente dinheiro de algumas
empresas de ônibus integrantes dessa Federação, administrar a sua guarda e
distribuir a diversos políticos”.
Procuradora
diz que pagamentos a Cabral continuaram após prisão de operador financeiro
Através das propinas que eram pagas para o
Tribunal de Contas do Estado (TCE) e para o Poder Executivo, os empresários
conseguiam diversos benefícios, como a ausência de licitação, o reajuste do
valor das passagens acima do previsto e isenções fiscais no IPVA e ICMS do
diesel, por exemplo.
Além de Cabral,
já preso, a operação identificou a participação de mais um agente público no
esquema - Rogério Onofre, ex-presidente do Departamento de Transportes
Rodoviários do Rio (Detro). De acordo com as investigações, as ações dele
atingiam de forma direta as empresas de transporte intermunicipal no Estado -
como no caso do aumento das passagens acima do permitido.
Segundo as
investigações, o dinheiro era recolhido nas garagens das empresas e
contabilizado através de planilhas. Nelas, estavam o nome de diversas pessoas
do setor de transportes, como o José Carlos Lavoura e Rogério Onofre, e
operadores financeiros de Cabral, como Carlos Miranda.
As provas
recolhidas indicam o uso da empresa de transporte de valores Trans Expert como
ferramenta para lavagem e ocultação do dinheiro da propina. Segundo o MPF, a
arrecadação formava a "caixinha da propina" para agentes públicos.
"Essa
operação não nos surpreende na medida em que os esquemas do senhor Sergio
Cabral e dos seus liderados já passaram pela Secretaria de Obras, já passaram
pela Secretaria de Saúde, agora estamos falando do setor de transportes e,
portanto, nessa medida o que a gente tem a reconhecer desses fatos é que ele
loteou toda a estrutura governamental, todas os contratos foram objetos de
pagamento de propina pra sua realização", explicou o procurador da
República, Leonardo Freitas.
Para os investigadores, a organização
criminosa que atua no setor de transportes também mostra indícios de
"cartelização". O Ministério Público Federal (MPF) está pedindo a
indisponibilidade de valores de Cabral e Miranda, relacionados aos R$ 260
milhões pagos em propina.
Segundo o
procurador El Hage, o esquema criminoso, além de ser um dos mais antigos
existentes no estado, é também um dos mais maléficos, "pois prejudica a
população de baixa renda e paga tarifas além do que seriam as tarifas justas e
adequadas, em razão do pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos”.
Pagamentos permaneceram após saída de Cabral do governo
Operação antecipada
A operação precisou ser antecipada porque os agentes
receberam informação de que o empresário Jacob Barata Filho, um dos alvos de
mandado de prisão - embarcaria em um voo para Lisboa, em Portugal, neste
domingo (2). Ele foi preso na área de embarque do
aeroporto do Galeão, no Rio. Sua defesa, entretanto, nega que
ele estivesse tentando fugir do país.
De acordo com a
Polícia Federal, Barata já tinha mandado a família Portugal, uma atitude que
indicaria uma provável fuga por ter conhecimento da investigação. Com o
empresário, também foram apreendidos mais de R$50 mil em moedas estrangeiras.
Mandados de prisão preventiva confirmados:
·
Jacob Barata
Filho, empresário do setor de transportes, suspeito de ter recebido R$ 23
milhões em propina (preso)
·
Rogério Onofre,
ex-presidente do Departamento de Transportes Rodoviários do RJ (Detro),
suspeito de receber R$ 44 milhões (preso)
·
Lélis Teixeira,
presidente da Federação das Empresas de Transporte do RJ (Fetranspor), suspeito
de receber R$ 1,57 milhões (preso)
·
José Carlos
Reis Lavoura, conselheiro da Fetranspor, suspeito de receber R$ 40 milhões (está em Portugal e a PF acionará a Interpol para inclusão na
difusão vermelha)
·
Marcelo Traça
Gonçalves, presidente do sindicato de ônibus e apontado como realizador dos
pagamentos (preso)
·
João Augusto
Morais Monteiro, sócio de Jacob Barata e presidente do conselho da Rio Ônibus,
suspeito de receber R$ 23 milhões (preso)
·
Cláudio Sá
Garcia de Freitas (preso)
·
Márcio Marques
Pereira Miranda (foragido)
·
David Augusto da Câmara Sampaio (preso)
Mandados de prisão temporária
confirmados:
·
Carlos Roberto
Alves (preso)
·
Enéas da Silva
Bueno (preso)
·
Octacílio de
Almeida Monteiro (preso)
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