Enquanto guerreia com o Ministério Público, o STF
está na mira do Congresso Nacional

O
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli Foto: Jorge William
/ Agência O Globo
Por: Carolina Brígido / Época
Quando tomou posse na presidência do
Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Dias Toffoli prometeu que a Corte
submergiria na gestão dele. A ideia era fugir de confusão, evitar bate-boca e
atuar como uma espécie de bombeiro na Praça dos Três Poderes, para apaziguar
eventuais conflitos na República. À coluna, o ministro Marco Aurélio Mello
avaliou a tentativa frustrada de submersão: “Talvez o submarino esteja
avariado”.
Desde que passou a ser alvo de ataques,
Toffoli largou o papel de bombeiro e resolveu ser ele também incendiário. Tudo
começou quando, em fevereiro, vazou uma investigação prévia da Receita Federal
que levantava suspeita contra a advogada Roberta Rangel, com quem é casado.
Gilmar Mendes também estava na lista do Fisco.
Para completar, nas vésperas do
julgamento que transferiu processos da Lava Jato para a Justiça Eleitoral, o
STF passou a ser criticado por procuradores de Curitiba e por anônimos na
Internet. Toffoli respondeu com vigor: na semana passada, abriu inquérito para
apurar ataques à Corte e a seus integrantes. Procuradores da Lava Jato podem
estar entre os alvos.
Enquanto guerreia com o Ministério
Público, o STF está na mira do Congresso Nacional. Foi protocolado no Senado um
pedido de abertura de CPI para investigar tribunais superiores. Em conversa com
o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), Toffoli fez um apelo para a CPI
ser engavetada.
Alcolumbre está no meio do tiroteio. De
um lado, prometeu aos líderes de partido — a quem deve o comando do Senado —
atender aos pedidos de abertura da CPI. De outro, jurou a Toffoli que a
comissão não sairia do papel. Afinal, não convém a um neófito na cúpula do
poder comprar briga com o STF, o foro para julgar parlamentares. Para ganhar
tempo, Alcolumbre pediu um estudo a técnicos do Senado, para atestar a
viabilidade da CPI. Enquanto isso, a CPI não está fechada nem aberta. Virou uma
espécie de ameaça velada.
“A
CPI contribui para elevar um pouco a tensão. Não é o que se espera. Agora,
precisamos de temperança, precisamos tirar o pé um pouco do acelerador em
geral”, recomendou Marco Aurélio Mello, que tem fama de ser um dos ministros
mais encrenqueiros do tribunal.
Toffoli parece ter ouvido o conselho do
colega. Estava previsto nesta quinta-feira um julgamento que atiçaria ainda
mais a animosidade entre o STF e o Ministério Público. A Corte poderia
dificultar o compartilhamento de dados entre a Receita Federal e o Ministério
Público — e, com isso, embarreirar investigações. A decisão enfraqueceria o
Fisco e os procuradores. Seria uma resposta à apuração que atingiu Mendes e a
mulher de Toffoli.
Na quarta-feira à noite, Toffoli
avaliou que não seria politicamente adequado julgar o processo no dia seguinte.
O ministro não sabia de antemão da prisão do ex-presidente Michel Temer. Mas já
era esperada outra ação: no início do dia, foram realizadas as primeiras
diligências no inquérito que investiga ataques ao STF, com buscas em endereços
e bloqueios de contas na Internet destinadas a postar mensagens de ódio contra
a Corte. Alimentar agora ainda mais as desavenças com a Receita e o Ministério
Público não seria inteligente. O desgaste seria ainda maior.
Mesmo tentando jogar parado, o STF não
consegue sair dos holofotes. Na decisão que mandou prender Temer, o juiz
Marcello Bretas, que conduz a Lava Jato no Rio de Janeiro, incluiu críticas ao
tribunal. Disse que o Judiciário não tem poderes para abrir investigação sem
pedido do Ministério Público.
Ele também mandou recado a Gilmar
Mendes. Explicou que o caso Temer não tem ligação com as operações Saqueador e
Calicute, de relatoria do ministro no STF. Portanto, eventual recurso da defesa
precisaria ser sorteado para outro relator. Mendes já concedeu habeas
corpus a vários presos da Lava Jato. Além disso, não poupa críticas a
Bretas — e vice-versa. Na bolsa de apostas, o próximo capítulo das desavenças
pode ser a reposta de Mendes ao juiz.
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