Conversa divulgada, de acordo com o site
Intercept, foi com o coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol. Ambos falavam
sobre suspeita de que o ex-presidente tivesse recebido caixa dois em 1996,
revelada em delação da Odebrecht.
Por G1

O ministro Sérgio Moro, o procurador Deltan Dallagnol e o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso — Foto: Isaac Amorim/MJSP; Fabio Rodrigues
Pozzebom/Agência Brasil; Wilson Dias/Agência Brasil
O site Intercept publicou na noite desta terça-feira (18) novas mensagens atribuídas ao então juiz Sérgio Moro e a procuradores da Operação Lava Jato.
O diálogo, segundo o site, teria ocorrido em 13 de
abril de 2017, um dia depois de o Jornal Nacional ter veiculado uma reportagem a respeito de
suspeitas contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
A reportagem citada pelo site foi publicada no JN
de 12 de abril e trouxe a delação de Emilio Odebrecht, que contou ter pago
caixa dois às campanhas de FHC nos anos 1990 – ele foi eleito presidente em
1994 e reeleito em 1998.
O caso foi parar na Lava Jato de São Paulo e nunca
passou pela avaliação nem do procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da
Lava Jato no Paraná, nem do então juiz Sérgio Moro.
Segundo o site, Moro teria manifestado contrariedade
com a decisão de investigar o caso em São Paulo mesmo já estando provavelmente
prescrito, porque isso melindraria "alguém cujo apoio é importante".
O diálogo publicado pelo Intercept começa com uma
mensagem atribuída a Moro e dirigida a Dallagnol. Eles conversam sobre o caso
envolvendo FHC, que havia sido encaminhado de Brasília, onde tramitava, para a
Lava Jato de São Paulo.
Moro
– 09:07:39 – Tem alguma coisa mesmo séria do FHC? O que vi na TV pareceu muito
fraco?
Moro
– 09:08:18 – Caixa 2 de 96?
Dallagnol
– 10:50:42 – Em pp [princípio] sim, o que tem é mto fraco
Moro
– 11:35:19 – Não estaria mais do que prescrito?
Dallagnol
– 13:26:42 – Foi enviado pra SP sem se analisar prescrição
Dallagnol
– 13:27:27 – Suponho que de propósito. Talvez para passar recado de
imparcialidade
Moro
– 13:52:51 – Ah, não sei. Acho questionável pois melindra alguém cujo apoio é
importante
Segundo
o site, o depoimento de Emilio Odebrecht permaneceu em segredo de Justiça até
abril de 2017, quando foi enviado para ser investigado pela Procuradoria da
República em São Paulo e virou notícia. Mas já nasceu morto: os fatos estavam
prescritos, e a investigação foi arquivada pela Justiça três meses depois.
A Justiça Federal arquivou em 5 de julho de 2017 a
investigação sobre FHC. O juiz acolheu pedido do Ministério Público Federal,
que pediu arquivamento argumentando que o crime prescreveu.
"(...)
É fato notório que o representado Fernando Henrique Cardoso possui mais de 70
anos, de sorte que se deve aplicar o disposto no artigo 115 do Código Penal,
diminuindo pela metade o prazo acima mencionado. Decorridos mais de 10 anos das
datas dos fatos, quais sejam, as campanhas eleitorais nos anos de 1993 e 1997 e
não havendo causa interruptiva desse prazo até o presente momento, é de se
reconhecer a prescrição", escreveu na sentença, na ocasião, o juiz Márcio
Assad Guardia.
O que dizem Moro, MPF e FHC
Em
nota, a assessoria do atual ministro da Justiça e ex-juiz Sérgio Morodisse:
"O
Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, não reconhece a
autenticidade de supostas mensagens obtidas por meios criminosos, que podem ter
sido editadas e manipuladas, e que teriam sido transmitidas há dois ou três
anos.
Nunca
houve interferência no suposto caso envolvendo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que foi remetido
diretamente pelo Supremo Tribunal Federal a outro Juízo, tendo este reconhecido
a prescrição.
A
atuação do Ministro como juiz federal sempre se pautou pela aplicação correta
da lei a casos de corrupção e lavagem de dinheiro.
As
conclusões da matéria veiculada pelo site Intercept sequer são autorizadas pelo
próprio texto das supostas mensagens, sendo mero sensacionalismo".
Em
nota, o Ministério Público Federal em Curitiba informou:
"A
força-tarefa do Ministério Público Federal no Paraná
(MPF/PR) vem a público repudiar o ataque infundado à imparcialidade da operação
Lava Jato por meio de publicação equivocada e sem checagem dos fatos pelo site
'The Intercept Brasil'.
Conforme
é público, em relação ao ex-presidente Fernando Henrique, a Petição nº 6794 foi
apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal
Federal (STF) e foi encaminhada por essa Corte à Justiça Federal de São Paulo.
Ou seja, o caso sequer era de atribuição da força-tarefa Lava Jato de Curitiba
e ela não teve qualquer participação na decisão de seu envio para outra unidade
do Ministério Público Federal ou na análise de eventual prescrição.
Sempre
que a força-tarefa tomou conhecimento de fatos que poderiam revelar indícios
concretos de crimes envolvendo altas autoridades, independentemente do partido
a que pertencessem, foram adotadas todas as providências cabíveis.
A
publicação, de modo tendencioso, para criar artificialmente uma realidade
inexistente que dê suporte a teses que favoreçam o ex-presidente Lula,
deixa de reportar a seus leitores o que é fato.
Conforme
é público e notório, e pode ser confirmado no site da operação
(http://www.mpf.mp.br/grandes-casos/caso-lava-jato), a força-tarefa já realizou
mais de 60 fases ostensivas de investigação, ofereceu mais de 90 denúncias, e
participou da celebração de mais de 100 acordos de colaboração premiada que
revelaram a participação criminosa de pessoas ligadas a mais de 20 legendas
partidárias.
A
operação Lava Jato se expandiu para outras instâncias e localidades no País.
Como exemplo, no STF, a partir de investigações da força-tarefa de Curitiba,
foram homologados acordos de colaboração de mais de 70 executivos do Grupo
Odebrecht. Somente nesse caso, houve a indicação de centenas de condutas
criminosas de mais de 400 agentes públicos, tendo sido nomeados políticos de 26
partidos.
Chama
a atenção que o site 'The Intercept Brasil' continua a fabricar narrativa
política-partidária a partir de diálogos cuja a autenticidade e integridade
insiste em não submeter à comprovação. Além de tentar alardear supostos
conteúdos bombásticos obtidos a partir de suposto hackeamento ilícito, não
consegue minimamente atingir a expectativa criada, uma vez que nem o contexto
criado se refere à atuação direta da força-tarefa de Curitiba, e que sua
suposta versão não resiste a uma mínima análise crítica diante do contexto da
atuação dos procuradores e da Justiça.
No
material publicado nesta terça-feira, 18 de junho, cuja autenticidade,
reforce-se, não pode ser confirmada, e que foi classificado como 'revelação
mais grave até agora' pelo jornalista Glenn Greenwald em sua conta na rede
social Twitter, resta clara a ausência de qualquer elemento que indique ação no
sentido de forjar provas, ajuste partidário, manifestação de cunho ideológico,
corrupção, ou ilegalidade dos membros do Ministério Público Federal, o que
reforça o aparente intuito de as publicações objetivarem distorcer supostas
conversas entre autoridades, atacando o Sistema de Justiça e as instituições da
República, na mesma linha do que verificado nos ataques cibernéticos. Suposta
conversa sequer seria sobre fatos e procedimentos de responsabilidade da
força-tarefa ou da Justiça Federal em Curitiba, tal é a falta de compreensão da
realidade que o site estaria supostamente a reportar.
A
força-tarefa do MPF/PR reafirma que a divulgação de supostos diálogos obtidos
por meio absolutamente ilícito, agravada por um contexto de sequestro de contas
virtuais, torna impossível aferir se houve edições, alterações, acréscimos ou
supressões no material alegadamente obtido. Além disso, diálogos inteiros podem
ter sido forjados pelo hacker ao se passar por autoridades e seus
interlocutores. Uma informação conseguida por um hackeamento ilegal traz
consigo dúvidas inafastáveis quanto à sua autenticidade, o que inevitavelmente
também dará vazão à divulgação de fake news.
Comentar
supostos diálogos, documentos, informações – até para esclarecer que não
existiram -, serviria de incentivo à conduta dos criminosos que delas se
apropriaram, bem como daqueles que as publicam. Os ataques cibernéticos a
autoridades de diferentes instituições do País continuam, pelo que,
potencialmente, publicações na internet sobre supostos diálogos não se
restringem a conteúdo alegadamente obtido no passado, mas garantem visibilidade
a possível resultado de atos criminosos ainda em andamento.
Sem
a comprovação de sua origem, autenticidade e contexto, a exposição parcelada e
contínua de supostos trechos de conversas atendem a uma agenda
político-partidária, em prejuízo do alegado interesse informativo e com a
intenção de manipular a opinião pública.
A
superficial exploração sensacionalista de diversos episódios que marcaram a
operação Lava Jato tenta banalizar o esforço árduo de centenas de servidores
públicos, do Ministério Público Federal, Justiça Federal, Polícia Federal,
Receita Federal e tantos outros órgãos de Estado, e da própria sociedade contra
a corrupção."
Ao
Intercept, o ex-presidente FHC disse, por meio de sua assessoria, que não teve
conhecimento de nenhum inquérito ou denúncia relacionados à delação de Nestor Cerveró, ex-diretor da
Petrobrás. Também afirmou desconhecer as menções sobre seu filho e a compra de
votos nas eleições – por isso, “não sabe se teriam resultado em investigação ou
denúncia”. A única confirmada pelo ex-presidente foi a investigação que
terminou arquivada.
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