Por
G1

O jornal Folha de S.Paulo publicou em sua
edição deste domingo reportagem, em parceria com o site The Intercept Brasil,
que, segundo os veículos, mostraria que “procuradores da Lava Jato se
articularam para proteger Sérgio Moro e evitar que tensões com o Supremo
Tribunal Federal paralisassem investigações num momento crítico para a
força-tarefa em 2016”.
A Folha afirma que se tentava “evitar que a
divulgação de papéis encontrados pela Polícia Federal na casa de um executivo
da Odebrecht acirrasse o confronto com o STF ao expor indevidamente dezenas de
políticos que tinham direito a foro especial - e que só podiam ser investigados
com autorização da corte.”
O jornal diz que os supostos diálogos “sugerem que
o incidente foi causado por um descuido da Polícia Federal no dia 22 de março
de 2016, quando ela anexou os documentos da Odebrecht aos autos de um processo
da Lava Jato sem preservar seu sigilo, o que permitiu a divulgação do material
por um blog mantido pelo jornalista Fernando Rodrigues”.
Os supostos diálogos indicam que, “assim que soube,
no dia seguinte, Moro escreveu ao procurador Deltan Dallagnol, chefe da
força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, para reclamar da polícia e avisar que
acabara de impor sigilo aos papéis.
Segundo a Folha, Moro teria dito que colocou
"sigilo 4 no processo", diz que a atitude da Polícia Federal foi
"tremenda bolas nas costas" e que não vê alternativa senão remeter o
processo do marqueteiro do PT, João Santana ao STF. E que a atitude da PF "vai
parecer afronta":
Moro (13:06:32) -
Coloquei sigilo 4 no processo, embora ja tenha sido publicizado. Tremenda bola
nas costas da Pf. Nao vejo alternativa senao remeter o processo do santana ao
stf.
Moro (13:06:42) -
E vai parecer afronta.
Na resposta de Deltan, segundo a Folha, o procurador
diz que falou com Pelella, "referindo-se ao subprocurador-geral da
República. E que ele disse que o assunto se resolve com a remessa dos autos”:
Deltan (13:47:56) - Falei com Pelella. Ele disse que se resolve com a
remessa dos autos
A Folha prossegue: “Horas depois, o procurador
escreveu novamente a Moro para discutir a situação e sugeriu que não tinha
havido má-fé na divulgação dos papéis pela PF”.
O diálogo publicado pela Folha e atribuído ao
procurador e ao então Juiz Moro tem o seguinte conteúdo:
Deltan (16:05:54) - Pensei na questão das planilhas e, embora a
relevância seja absurda e fosse difícil não ter visto a importância, não acho
que a PF colocou pra dar conhecimento público, porque só foi noticiado hoje, um
dia depois. Se tivessem feito de propósito, ontem à noite estava no JN
Moro (16:07:49) - Continua sendo lambança. Não pode cometer esse
tipo de erro agora.
Segundo a Folha, Deltan teria procurado “então
encorajar Moro e lhe prometeu apoio incondicional”:
Deltan (16:13:02) -
Concordo. E sei que Vc, de todos nós, está debaixo da maior pressão. Não
desanime com a decisão do Teori de ontem ou com os fatos e lambanças recentes.
As coisas vão se acalmar. É um momento de ânimos exaltados. Saiba não só que a
imensa maioria da sociedade está com Vc, mas que nós faremos tudo o que for
necessário para defender Vc de injustas acusações. Uma das coisas que mais
tenho admirado em Vc é a serenidade com que enfrenta notícias ruins e
problemas.
Segundo os diálogos publicados pela Folha, Moro
teria dito que “temia pressões para que sua atuação fosse examinada pelo
Conselho Nacional de Justiça”. E que Deltan teria “prometido ao juiz que
falaria com o representante do Ministério Público Federal no CNJ”.
Moro (16:42:22) - Pressão sera grande no cnj
Deltan (17:09:23) - Vou falar com nosso representante no CNJ
A Folha relata que em 28 de março de 2016, “Moro
mandou para o STF dois inquéritos e uma ação penal que estavam em andamento em
Curitiba, incluindo os autos com a lista da Odebrecht, para que Teori Zavascki
decidisse o que fazer com eles.” Teori, então relator da Lava Jato no Supremo,
morreria em janeiro de 2017 num acidente aéreo.
O jornal publica o despacho de Moro em que o
ex-juiz diz "O ideal seria antes aprofundar as apurações para remeter os
processos apenas diante de indícios mais concretos de que esses pagamentos
seriam também ilícitos". "A cautela recomenda, porém, que a questão
seja submetida desde logo ao Egrégio Supremo Tribunal Federal."
A Folha relembra que em “22 de abril, Teori decidiu
devolver os três processos a Curitiba, mantendo no STF somente as planilhas da
Odebrecht que listavam políticos, que foram preservaras sob sigilo.
A Folha relembra que “Os diálogos analisados pelo
jornal e pelo Intercept fazem parte de um pacote de mensagens que o site começou
a revelar no último dia 9. E diz que “o vazamento das mensagens expôs a
proximidade entre Moro e a força-tarefa e pôs em dúvida sua imparcialidade como
juiz na condução dos processos da Lava Jato”.
Segundo a legislação, ressalta o jornal, “juízes devem
se manter imparciais diante da acusação e da defesa”.
A Folha afirma que “o site Intercept permitiu que a
Folha tivesse acesso ao acervo que diz ter recebido de uma fonte anônima há
semanas”. E que a PF abriu inquéritos para investigar suspeitas de ataques de
hackers a telefones de procuradores e do ministro Sérgio Moro.” O jornal
acrescenta que, “ao examinar o material não detectou nenhum indício de que ele
possa ter sido adulterado.” E afirma “os repórteres buscaram nomes de
jornalistas da Folha e que encontraram diversas mensagens que de fato esses
profissionais trocaram com integrantes da força-tarefa, obtendo assim, segundo
o jornal, um forte indício da integridade do material.
Neste domingo (23), Moro divulgou nota dizendo não
confiar na "autenticidade de mensagens obtidas de forma criminosa e que
podem ter sido editadas ou adulteradas total ou parcialmente". Também
declarou que "causa revolta que se tente construir um enredo com
mensagens, cuja autenticidade não se pode reconhecer, a partir de fatos que
envolvem um processo judicial público e que só atestam a correção e isenção com
que o ministro atuou enquanto juiz federal na Operação Lava Jato".
"Como pode-se verificar no andamento
processual, o material referente a pessoas com foro privilegiado foi remetido
ao Supremo Tribunal Federal no primeiro dia útil após a Polícia Federal ter
juntado aos autos. Após análise, o STF os devolveu à 13° Vara Federal de
Curitiba mantendo consigo apenas a parte que envolvia pessoas com foro
privilegiado. Esta é a verdade, que independe de mensagens cuja autenticidade
não se pode aferir."
"Ressalta-se que a invasão criminosa de
celulares de autoridades públicas é objeto de investigação pela Polícia
Federal.”
Também neste domingo, o ministro publicou em uma
rede social: "Um pouco de cultura. Do latim, direto de Horário, parturiunt
montes, nascetur ridiculus mus". Na tradução, "a montanha pariu um
rato".
A força-tarefa da Lava Jato em Curitiba foi
procurada e não se manifestou.
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