







Em
princípios do século passado, um mascate, português ou italiano, esteve na
fazenda do velho João Ricardo Arraes, no Piauí, no atual município de Pio IX.
Carregava a imagem, que lhe dava proteção em suas andanças pelos sertões do
Brasil. Ocorre que ali adoeceu gravemente e teve a hospitalidade e os cuidados
do seu hospedeiro. Ao partir, como recompensa ao seu benfeitor, presenteou-lhe
com a imagem que chamava de Santa Verônica. Pediu que a imagem fosse passada
para a sua descendência, obedecendo à primogenitura dos varões. Informa a tradição oral da família que esse
mascate disse que no mundo só existiam duas imagens daquela e a outra estava em
Roma.
















Morrendo
João Ricardo, a imagem passou para o seu único filho, Custódio Arraes, que
passou para o seu filho mais velho, João Ricardo Arraes Neto, o João Custódio
da Boca da Mata, meu bisavô paterno. O velho Custódio ao morrer já morava no
lugar Várzea Nova, do Município de Assaré, no Ceará.
No
começo de março de 1903, João Custódio, mudou-se definitivamente para a Boca da
Mata, para ali trazendo a Santa Verônica. A imagem ficava na sala da frente,
sobre uma mesa, forrada com toalha de linho branco e adornada com flores, onde
era venerada pelos fiéis, muito deles vindos do Ceará.
João Custódio teve 7 filhos:
Hermenegildo (meu avô), Orico, Cleomendes (Mendu), Adonias, Abelardo, Vitorina
e Genésia. Hermenegildo, o mais velho, com quem, pela tradição deveria ficar a
imagem, faleceu aos 36 anos de idade, em 19.11.11, deixando também 7 filhos:
Joel (meu pai), Gerson, Luiz, Antônia, Maria (Sinhá), Sebastião (Bastim) e
Neomísia (Neó). Todos ficaram sob a tutela do avô João Custódio.
No
dia 19 de abril de 1918, falece João Custódio, depois de passar 40 dias
acamado, sob os cuidados de seu filho Mendu. Antes de morrer, reuniu a família,
que decidiu entregar a imagem da Verônica a tio Mendu, que, já casado desde
1913, com Senhorinha Maria da Paz, Senhora, levou a imagem para sua casa.
Na
casa de tio Mendu, a Verônica foi posta sobre uma grande mesa, também forrada
com uma toalha branca de linho, na segunda sala da casa, onde recebia visita
dos fiéis devotos. A romaria era mais
intensa as quintas-feiras. Anualmente, no mês de maio, reuniam-se as famílias
da Boca da Mata e adjacências, para rezarem o terço ao redor da imagem. No
segundo domingo de outubro, comemora-se o dia da Santa Verônica e o Padre vinha
celebrar a missa na casa de tio Mendu.
Havia
um inconveniente de a imagem permanecer ali, pois quebrava a privacidade do
casal. Os devotos não tinham dia ou hora para rezarem aos pés da Santa e tio
Mendu tinha por obrigação não impedir ninguém de orar. De boa vontade abria as
portas da sua casa.
Havia uma preocupação do Tio
Mendu, em relação ao destino da imagem, quando morresse. E cuidou de construir
uma capela, para ali colocar a Santa definitivamente. No ano de 1950, a
capelinha foi benzida e a imagem posta em seu lugar definitivo.
Em
1951, morre tio Mendu e é sepultado dentro da capelinha. Pouco tempo depois, ao
seu lado, é sepultada tia Senhora.
Ao lado da capelinha,
Louzinho fez construir um cemitério, onde são sepultados membros da família e
pessoas outras ligadas à Boca da Mata. Por trás da capela, foi
construído um quarto para o depósito dos ex-votos, esculturas em barro,
madeira, pedra, cera, retratos e cartas daqueles que receberam alguma graça por
intercessão da Santa Verônica.
A
imagem já deixou de ser propriedade da família. É do domínio público.
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