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A SAGA DO PADRE VAQUEIRO: O PRIMEIRO ENCONTRO COM O REI DO BAIÃO



Foto: Reprodução

Por falta de comunicação, não tive a oportunidade de participar das primeiras reuniões que deram origem à Missa do Vaqueiro, envolvendo o padre João Câncio, Luiz Gonzaga e o poeta Pedro Bandeira. Gonzagão o mundo inteiro conhece. Sobre o padre João Câncio, razão de ser desta publicação, fiz o máximo para mostrar o seu trabalho e a sua feliz iniciativa de idealizar a Missa do Vaqueiro. Pedro Bandeira é uma das figuras mais conhecidas em Juazeiro do Padre Cícero e no Cariri. Em visita a Juazeiro, conheci o trabalho de Bandeira, seu auditório localizado no centro da cidade que o tem em conta de Príncipe dos Poetas, deferência que o enche de satisfação. 

O padre João Câncio surgiu como idealizador da Missa do Vaqueiro, incialmente nas conversas com o vaqueiro e criador Pedro Braz e, posteriormente, com Luiz Gonzaga, que aconteciam na casa do Rei, em Exu, e em outros lugares onde os dois se encontravam até casualmente. 

Encontrei-me várias vezes com o velho Lula no Recife em shows realizados no Sertão, mas o nosso papo girava sempre e torno da Missa do Vaqueiro. Gonzaga tinha influência como um artista para popularizar a missa, também porque, como ele próprio lembrava, era primo de Raimundo Jacó (o pai de Raimundo Jacó era irmão de Santana, mãe de Luiz Gonzaga), o vaqueiro assassinado e que serviu de inspiração e razão de ser da missa. 

A participação de Gonzaga tinha outra explicação: tratava-se de um homem franco e com origem na região e, sobretudo, pela facilidade de conseguir apoio junto ao poder público. Pedro Bandeira, como amigo de Gonzaga – àquela altura mais do que o padre – também deu sua contribuição como divulgador da missa junto aos poetas populares do Cariri, no Ceará, região que tem estreitas ligações comerciais, sociais e culturais com Serrita, Cedro, e até então Sítio dos Moreiras, hoje Moreilândia. 

João Câncio, como idealizador, tinha na missa um palco-palanque armado para evangelizar a vaqueirama e os sertanejos de uma forma geral, no sentido santo, político e amplo da palavra. 

Como ele próprio disse, a Missa do Vaqueiro era “um grito de justiça no Sertão”. E a injustiça social era e ainda é o que não falta por estas bandas onde até hoje reina o poder dos fortes contra os fracos e oprimidos. 

Mas, antes de saber o real objetivo da missa na curiosidade de um profissional de imprensa, lá fui eu ao encontro de João Câncio no Sítio das Lajes (o primeiro com um sacerdote de bigode, vestido de vaqueiro, “derrubando gado”) na vaquejada que começa na sexta-feira, durante a abertura dos festejos populares das Lajes. Ainda hoje a vaquejada é mantida, valendo como esporte de vaqueiro e que serve também como uma atração cultural paralela para ampliar o número de frequentadores do Parque Nacional do Vaqueiro. 

Confesso que fiquei pasmo, pois jamais vira na minha vida um padre montado em um cavalo no meio da vaqueirama, numa competição na qual todos tinham o mesmo peso no coletivo dos vaqueiros, sob o sol forte de Serrita, no centro da caatinga. Tudo no Sítio das Lajes era mato. Não havia sequer um altar para a celebração da missa. O que existia era uma cruz com um amuleto sobre a mesma, lembrando a figura de uma vaqueiro. 

O altar era improvisado num jirau. Eu estava sem máquina fotográfica, fiz minha auto apresentação e João Câncio logo me emprestou a sua Olimpus Pen, 35 milímetros. 

Ficamos amigos para sempre. No ano seguinte eu voltei e por algum tempo passei a fazer a cobertura da Missa do Vaqueiro, tanto pelo Diário de Pernambuco como pelo Jornal do Commércio. 

Acompanhei de perto a briga política que existia (e que de certa forma foi atenuada) em torno dela, devido à exploração que acontece principalmente em ano eleitoral. 

Depois de saída de João Câncio, as brigas continuaram a ponto de ameaçar a continuidade do evento mais importante do turismo religioso do Sertão. Em termos de público só perde para a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém. Mas a Missa do Vaqueiro é igualmente conhecida no mundo inteiro.


Fragmentos do Livro: João Câncio – A Saga do Padre-vaqueiro. 
De Machado Freire

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