Investigação considera três hipóteses
para a contaminação: sabotagem, vazamento ou o uso incorreto da substância para
resfriar a produção. Polícia apura relação de internações e mortes com consumo
de cerveja contaminada.

Vista aérea da fábrica da Backer, em Belo Horizonte — Foto: Globocop
Por Lucas Ragazzi e Fernanda Calgaro, TV Globo e G1 Brasília —
Belo Horizonte e Brasília
A auditoria feita
na fábrica da cervejaria Backer constatou, nesta quarta-feira (15), que havia
água contaminada com dietilenoglicol em uma etapa anterior ao tanque de
fermentação – onde a substância já tinha sido detectada.
Segundo o
Ministério da Agricultura, a água gelada que resfria o mosto (mistura inicial
de ingredientes) também tinha traços da substância tóxica. Essa água, depois de
resfriar o produto, também passa a compor a cerveja, porque é despejada em um
novo tanque de mosto.
Em entrevista coletiva
concedida nesta quarta (15), o coordenador-geral de Vinhos e Bebidas do
ministério, Carlos Vitor Müller, disse que ainda não é possível saber em qual
etapa houve a contaminação.
"A gente conseguiu evidenciar que a água que tem contaminação com glicol está sendo utilizada no processo cervejeiro. A gente não consegue ainda afirmar efetivamente de que forma ocorre essa contaminação desse tanque de água gelada, se é no tanque de água gelada ou se é em uma etapa anterior a esse tanque, nenhuma hipótese pode ser descartada nesse momento", afirmou Müller em entrevista à imprensa na sede do ministério.
De acordo com
Müller, a Backer possui apenas um tanque de água gelada e não está descartada
que toda a cerveja produzida pela cervejaria tenha sofrido algum tipo de
contaminação. Por essa razão, explicou, a fábrica foi interditada na
sexta-feira (10).
Especialistas do
Mapa periciam a fábrica da Backer desde a última quinta-feira (9). Um outro
tanque, o de fermentação, também estava contaminado.
Com a descoberta de
mais um tanque com a substância, existem suspeitas de que a contaminação possa
ter sido causada em uma fase anterior, em que todas as marcas de cerveja da
empresa passam.
Essa informação
levou o ministério a solicitar o recall e suspensão de
vendas de toda a cervejaria.
Segundo o diretor
do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal do ministério, Glauco
Bertoldo, a investigação considera três hipóteses para a contaminação:
sabotagem, vazamento ou o uso incorreto da substância para resfriar a produção.
Em nota, a Backer
não se pronunciou sobre o tanque. Disse apenas que se solidariza com pacientes
e familiares. "E reforça sua atenção e seu compromisso em disponibilizar
todo o suporte necessário para cada um deles".
15 toneladas
O coordenador-geral
de Vinhos e Bebidas do ministério disse que foram encontradas na fábrica notas
de compra de 15 toneladas de monoetilenoglicol, que, após reações químicas,
pode resultar em dietilenoglicol.
Ele informou não
haver parâmetro para saber se essa quantidade é muito grande para o tamanho da
fábrica, mas que isso levantou "suspeitas".
"O Mapa é responsável pela fiscalização de todas as cervejarias do país, e esse insumo normalmente não é consumido em ritmo elevado durante o processo", disse Müller.
E acrescentou,
"esse alto número pode ser explicado pela ampliação da linha de processo
cervejeiro, quando você precisa de mais líquido para adicionar, mas também pode
indicar falha do processo, onde você consome mais que o necessário. Ainda não
verificamos para ver quanto a empresa precisa, mas ela adquiriu 15 toneladas do
produto desde janeiro de 2018 até agora, o que nos levou a suspeitas”.
Na manhã desta
quarta-feira (15), a Polícia Civil de Minas Gerais confirmou uma segunda morte
decorrente da síndrome nefroneural.
A vítima é um
homem, que não teve a identidade e a idade divulgadas até a última atualização
desta reportagem. O paciente morreu no Hospital Mater Dei, Região Centro-Sul de
Belo Horizonte. O corpo deverá passar por exames e perícia no Instituto Médico
Legal (IML).

Polícia Civil confirma 2ª morte relacionada à síndrome nefroneural
Uma força-tarefa
investiga a relação das internações e mortes com o consumo da cerveja
Belorizontina, da fabricante Backer. A substância tóxica dietilenoglicol foi
encontrada em lotes do produto. Esta é a segunda morte relacionada ao caso
confirmada oficialmente pela Polícia Civil.
A primeira vítima
da síndrome a morrer foi Paschoal Dermatini Filho, de 55
anos. Ele estava internado em Juiz de Fora e morreu em
7 de janeiro.
Uma terceira morte
ainda resta ser confirmada. Trata-se de uma mulher com
sintomas da síndrome nefroneural em Pompéu, região Centro-Oeste
de Minas Gerais. Este caso não constava no último balanço oficial da SES, mas a
Secretaria Municipal de Pompéu informou ter notificado a pasta estadual.
Entre os sintomas
da síndrome nefroneural estão alterações neurológicas, além de insuficiência
renal. De acordo com a presidente da Sociedade Mineira de Nefrologia, Lilian
Pires de Freitas do Carmo, os primeiros sinais de intoxicação por
dietilenoglicol são dores abdominais, náuseas e vômitos. O tratamento é feito
no hospital, com monitoração, e tem o etanol como antídoto.
Lotes contaminados com substância tóxica

Em dois dias 568 garrafas da cerveja belorizontina já foram entregues em
BH
Um laudo divulgado
pela força-tarefa que apura o caso aponta que os lotes L1
1348, L2 1348 e L2 1354 estão contaminados por
dietilenoglicol e monoetilenoglicol. A Backer considera que são
dois lotes, sendo L1 1348 e L2 1348 duas linhas diferentes de um mesmo lote.
Substância tóxica
foi encontrada em amostras de lotes da Belorizontina, que também usa o rótulo
Capixaba, e em um tanque reservatório de liquido anticogelante, usado no
processo de fabricação das cervejas da Backer.
Uma perícia
contratada pela própria cervejaria confirmou a presença de dietilenoglicol na
cerveja, conforme mostra o vídeo abaixo. Em nota divulgada no início desta
tarde, a empresa informou que a "ainda está em andamento" e que
"precisa aguardar a conclusão dos laudos para compartilhar os resultados
com a sociedade".
A Backer disse
ainda que "é a principal interessada na apuração dos fatos e que o
objetivo é auxiliar e contribuir sem restrições com as autoridades."

Perícia contratada pela Backer confirma substância tóxica em cerveja
Processo cervejeiro — Foto: Arte/G1
Casos investigados
O último boletim
divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES), nesta
terça-feira (14), apontava 17 pacientes, em Belo Horizonte e em outras cinco
cidades do estado. Já a Polícia Civil investiga 18 caso.
Conforme a
secretaria, são 12 notificações na capital mineira e os demais casos
notificados são de moradores de:
- ·
Nova Lima, na Região Metropolitana;
- ·
São João Del Rei, no Campo das
Vertentes;
- ·
São Lourenço, no Sul de Minas;
- ·
Ubá, na Zona da Mata;
- ·
Viçosa, na Zona da Mata.
Em quatro pessoas
foram confirmadas a intoxicação pela substância tóxica dietilenoglicol.

Cidades onde foram notificados sintomas de intoxicação — Foto: Editoria
de Arte/Globo
'Não bebam a Belorizontina'
O Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) determinou, nesta segunda (13),
que todas as cervejas da marca sejam recolhidas e que seja suspensa a venda de
produtos. A medida é válida para qualquer rótulo da cerveja, além dos chopes,
fabricado entre outubro de 2019 e janeiro. A Backer informou que pediu mais prazo à Justiça para
fazer o recall.
A diretora de
marketing da Backer, Paula Lebbos, pediu em entrevista coletiva nesta
terça-feira (14) que as pessoas não consumam a cerveja alvo da investigação. A
orientação vale também para a cerveja Capixaba, que é produzida no mesmo tanque
e possui a mesma fórmula da Belorizontina, porém com rótulo diferente.
"O que estou pedindo é que não bebam a [cerveja] Belorizontina, qualquer que seja o lote. Eu não sei o que está acontecendo", disse ela.
No início desta
tarde desta terça (14), a Polícia Civil e o Mapa vistoriaram novamente a
cervejaria Backer no bairro Olhos D'Água, na Região Oeste de BH. Nesta
quinta-feira, a fábrica seguia interditada.
Blog do Paixão