
Bolsonaro durante entrevista sobre o coronavírus na tarde desta quarta-feira (18) — Foto: REUTERS/Adriano Machado
Infectologistas entrevistados pelo G1 dizem que, mesmo quem precisa usar
o equipamento de proteção, não deve tirar e colocar novamente. Posição no rosto
também é importante para evitar transmissão.
Por G1
Durante entrevista
na tarde desta quarta-feira (18), o presidente Jair Bolsonaro, o ministro da
saúde, Luiz Henrique Mandetta, e outros integrantes
do primeiro escalão do governo usaram máscaras de proteção. Médicos
infectologistas ouvidos pelo G1 analisaram o
uso e apontaram erros no procedimento, e além disso, recomendaram que uso seja
feito apenas por pacientes que apresentam os sintomas ou profissionais de saúde
em atendimento.
O ministro da Saúde justificou o uso devido ao contato recente do grupo
com o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, que apresentou teste positivo para a doença.
"Nós estamos nos comportando como profissionais da saúde. Nós temos
uma cadeia de comando de todos os ministérios. Faz parte proteger. O uso não
faz nada contra o que é recomendado. Estivemos com o nosso querido general
Heleno. Ele tem sido talvez o grande elo, todos nós estamos preocupados",
disse o ministro Mandetta.
O infectologista Caio Rosenthal diz que a finalidade do uso da máscara
“é proteger outras pessoas”. Os médicos, segundo ele, devem usar uma máscara do
tipo N95, que garante a proteção durante o procedimento necessário. Marcelo
Otsuka, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), também tem as mesmas
recomendações.
"Existem grupos específicos que podem utilizar a máscaras. Os
médicos por exemplo, que realizam o atendimento de um paciente usam uma máscara
N95. Fora dessa situações, os pacientes utilizam máscara simples", disse
Otsuka.
"Quem está doente ou quem tem alguma manifestação respiratória deve
utilizar a máscara como uma medida protetiva para proteger as outras pessoas
não infectadas. Elas só devem ser utilizadas para quem manifesta os sintomas,
até para impedir que o paciente transmita a doença para outras pessoas".
Se uma pessoa apresenta os sintomas, também deve estar em isolamento e
usar o equipamento de proteção apenas se precisar sair em casos de urgência. A
distância mínima entre pessoas no mesmo ambiente deve ser de 1 metro, de acordo
com os infectologistas.
"Quando você faz um diagnóstico, a pessoa precisa ficar isolada
pelo período de até 14 dias. Mas o período crítico se apresenta somente até o
sétimo ou nono dia. Em qualquer caso, se teve contato com o vírus, mantenho
elas isoladas para não contaminarem outras pessoas, quantos menos contatos você
tem com outras pessoas menor as chances de você transmitir”, completou Otsuka.
Uso correto
Durante a coletiva de imprensa, Jair Bolsonaro chegou a retirar a
máscara e colocar novamente. De acordo com o infectologista Alexandre Naime,
chefe do departamento de infectologia da Unesp e membro da SBI, o equipamento
precisa ser utilizado de forma contínua e ser trocado a cada duas horas.
"Não teria sentido nenhum eu usar a máscara e na hora de eu falar eu tirar. Aí é que eu teria, se eu estivesse infectado, transmitido o vírus das outras pessoas", disse.
Além disso, a médica Tania Vergara, da Sociedade de Tecnologia do Estado
do Rio de Janeiro, também apontou erros.
"A máscara precisa ser utilizada para cobrir o nariz e a boca para evitar o risco de transmissão. Não adianta você utilizar sem necessidade e ainda assim ficar tirando e colocando para falar, sendo que sua mão toca várias superfícies aumentando o risco de contaminação. Outra coisa é deixar a máscara pendurada no rosto, isso não tem eficiência".
Para Lívio Dias, infectologista da Maternidade Pro Matre Paulista, a
forma como a máscara foi utilizada durante a coletiva está incorreta. "Nós
temos protocolos tanto de colocação como de retirada. A máscara serve para
evitar que partículas possam entrar em contato com a face, então a medida que é
manipulada a parte frontal, tocando a face ou tocando o olho, até para proteção
individual ela deixa de servir. Existem protocolos sobre a forma que ela deve
ser utilizada para ter a serventia de proteção".
Segundo Daniel Sonranz, epidemiologista e professor da Fundação Oswaldo
Cruz a máscara pode ter sido utilizada corretamente como parte do protocolo
sobre equipamentos de proteção individual da Organização Mundial de Saúde
(OMS). "Existe um protocolo da OMS, que aponta que 'equipes de respostas
rápidas' devem utilizar o objeto. Considerando o Ministério da Saúde como uma
'equipe de resposta rápida', nessa coletiva a máscara foi utilizada de forma
correta".
"Durante a coletiva o que chamou atenção é a forma de manipular as
máscaras. Não se deve pegar pela frente, não se deve retirar para falar ou
pegar os copos. Mas essa demostração serve de exercício para toda a população e
para o próprio Ministério da Saúde", afirma Sonranz.
Blog do Paixão