Alexandre de Paula
(crédito: Acervo Renato Russo/Ricardo Junqueira)
A operação da Polícia Civil do Rio de
Janeiro que investiga a suposta existência de material inédito do cantor e
compositor Renato Russo supostamente obtido de forma ilegal
movimentou o cenário de pesquisadores e produtores musicais que trabalharam com
a obra do artista e da Legião Urbana. Na avaliação deles, há excessos na
investigação e informações desencontradas circularam a partir das buscas feitas
na segunda-feira (27/10).
Produtor musical de Renato Russo, Carlos Trilha
afirmou, em postagem nas redes sociais,
que o que existia de material inédito “já foi totalmente espremido”. “ Não
existem músicas inéditas. Existem letras não usadas por Renato que estariam
sendo musicadas por terceiros”, escreveu. “As tais ‘versões inéditas’ de
músicas que já existem é quase certo que sejam remixagens utilizando as vozes
guia das faixas que possuíam este registro. (Renato odiaria isso)”,
complementou. Trilha não foi alvo das ações da operação.
A jornalista e escritora Christina Fuscaldo, autora
do livro Discobiografia legionária, avalia que as ações da operação
de ontem podem ser consideradas uma espécie de censura. “Se o herdeiro do
Renato Russo avançar com isso e sair vitorioso (e a gente sabe que a imprensa
tem papel fundamental na crítica ao ocorrido), abre um precedente que será
péssimo para nós, jornalistas, escritores, documentaristas, produtores etc. Mal
comparando, isso é tipo a proibição do livro do Roberto Carlos”, escreveu
também nas redes sociais.
“Amanhã, podem bater na minha (casa) alegando que,
porque eu fiz um livro, 'pode ser' que eu tenha material inédito. Ou de outros
fãs que compram, vendem, colecionam material inédito (tem muitos por aí)”,
registrou. “Caso eu seja uma das acusadas pelo herdeiro, já digo logo: nunca
tive material inédito, meus livros falam só de discos oficialmente lançados..”
Violência
O produtor e pesquisador Marcelo Froes
afirmou, em entrevista ao Correio na noite de segunda-feira, Froes que foi
surpreendido pelas buscas e apreensões da Polícia Civil. Froes, que
trabalhou por anos com a família do líder da Legião Urbana e teve contato
próximo com o músico, tornou-se alvo após a Polícia começar a investigar
denúncias do filho de Renato, Giuliano Manfredini, a um perfil fake. Em
entrevista ao jornal O Globo, o fã responsável pelo perfil fake afirmou que
apenas divulgou materiais que já estavam disponíveis na rede.
"Sempre fui muito assediado por fãs para saber
se ia sair alguma coisa do Renato, por esse trabalho que fiz. Casualmente,
conversei com uma menina que tinha interesse muito grande pelos bastidores. Fãs
eram muitos ávidos por informações e não tinha nada demais em conversar com eles.
Mas, uma dessas pessoas era um fake (essa menina) que tinha um site para falar
mal de gravadoras e cobrar lançamentos da Legião. Vim saber isso quando a
polícia bateu na minha porta. Essa pessoa reclamava de uma forma bem agressiva,
o que deve ter feito o Giuliano tomar providências”, disse Froes.“Essa situação
me prejudica porque preciso do meu celular, do meu computador para fazer o meu
trabalho. É uma violência.”
A assessoria de imprensa de Giuliano informou que,
por ora, ela não se pronunciará sobre o assunto.
Blog do Paixão