Secretário-geral tem casas e carro de luxo, coleção de relógios. Segundo delegado, lideranças da categoria pegavam dinheiro de empresários para agir contra os interesses dos trabalhadores.
Por Bruno Tavares, TV Globo — São Paulo
Dirigente de grande sindicato é investigado por desviar milhões de reais de trabalhadores
A Polícia Civil de São
Paulo investiga um esquema de recebimento de propina no
Sindicato dos Motoristas de São Paulo (Sindmotoristas). Segundo o delegado,
lideranças da categoria pegavam dinheiro de empresários para agir contra os
interesses dos trabalhadores.
Sede do Sindicato. Foto: Reprodução
Francisco Xavier da Silva Filho, o
Chiquinho, é suspeito de usar o cargo de secretário-geral do sindicato dos motoristas
de ônibus da capital para comandar um esquema de arrecadação de propina.
Ele é motorista de ônibus na capital
e tem uma casa em Atibaia ainda em construção. O projeto é ostensivo: tem
jardim com projeto paisagístico, espaço gourmet e piscina cinematográfica, com
borda infinita.
A casa tem valor avaliado em R$ 2
milhões. Mas, segundo a polícia, não foi trabalhando que o motorista conseguiu
juntar tanto dinheiro.
O presidente dos Sindmotoristas,
Valmir Santana da Paz, o Sorriso, e outros 14 diretores também são citados na
investigação, de acordo com o delegado de polícia Fernando José Góes Santiago.
“Alguns diretores desse sindicato desviavam dinheiro do sindicato, realizavam contratos fraudulentos e contratos com o objetivo de receber em troca valores a título de mesada. E além disso tudo, o que julgamos mais grave é que eles recebiam de alguns empresários uma espécie de propina mensal, para que eles deixassem de atuar na defesa dos sindicalizados.”
A polícia começou a investigar a
direção do sindicato dos motoristas no começo do ano, depois que policiais
encontraram R$ 94 mil de dinheiro no carro de Chiquinho durante uma blitz de
rotina. No celular dele, os investigadores encontraram planilhas que indicavam
como funcionava todo o esquema de arrecadação de propina.
A Operação Fim da Linha cumpriu 31
mandados de busca e apreensão na capital, em Guarulhos, Taboão da Serra,
Atibaia, Praia Grande e Bertioga.
Na casa de Chiquinho, os
investigadores apreenderam uma coleção de relógios de luxo e uma grande quantia
em dinheiro vivo. E a lista patrimonial não para por aí, de acordo com o
delegado Santiago.
“Um imóvel faraônico na cidade de
Atibaia, um apartamento de praia em Bertioga e outro em Praia Grande, e o
apartamento onde ele fazia dele sua moradia, se trata de um apartamento de alto
padrão no Tatuapé, avaliado em cerca de R$ 1 milhão. Lembrando que o
secretário-geral tinha um salário de cerca de R$ 3 mil por mês, da empresa de
ônibus mais uma ajuda de custo de R$ 3 mil”, afirma.
A polícia também apura a ligação de
políticos de Taboão da Serra e de Sergipe com o esquema. Os investigadores já
têm indícios de que parte do dinheiro desviado do sindicato teria financiado
campanhas políticas.
Não é primeira vez que esse tipo de
denúncias vem à tona. Em 2003, uma operação da Polícia Federal prendeu o então
presidente do sindicato e outros 16 diretores, entre eles, o Chiquinho que já
tinha uma boa situação financeira.
Chiquinho rico, como ficou conhecido,
juntou patrimônio com renda de R$ 2 mil. Segundo a promotoria, é dele essa casa
de 250 metros quadrados. Ele também é dono de um carro de luxo, como mostra o documento
do Detran.
Na época, um ex-dirigente do
sindicato, Marcos Coutinho, revelou ao Ministério Público quanto a entidade
cobrava dos empresários para organizar greves e pressionar a Prefeitura por
reajustes.
''Depende do tipo da greve, se for
uma greve de reivindicação de salário vai de R$ 1 milhão a R$ 800 mil.''
Na tarde desta quinta-feira, a
reportagem esteve na porta do sindicato dos motoristas para tentar uma
entrevista com os diretores. Ninguém aceitou falar.
Ninguém foi preso na operação desta quinta-feira
(3). Tanto o secretário-geral Chiquinho como os outros diretores continuam na
condição de investigados.
Em nota, o Sindmotoristas reforçou o
compromisso com os trabalhadores da categoria e informou que está à disposição
das autoridades. A nota diz ainda que a diretoria, juntamente com o
departamento jurídico, apura as denúncias.
Blog do Paixão