O filme chega aos cinemas nesta
quinta (17/12) e traz uma ressalva na forte mensagem, passível de
questionamentos: em massa, cidadãos globalizados são encorajados a renunciar
seus desejos.
Ricardo Daehn
(crédito: Warner Bros/Divulgação)
Acrobacias sob ângulos que evocam o
cinema perfeccionista da polêmica diretora alemã Leni Riefenstahl invadem o
embasbacante início do filme mais aguardado do ano: Mulher-Maravilha
1984, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (17/12), sob
o comando de Patty Jenkins.
Ainda sob o manto ditatorial suscitado por Riefenstahl, fundamental ao nazismo,
o filme traz uma ressalva na forte mensagem, passível de questionamentos: em
massa, cidadãos globalizados são encorajados a renunciar seus desejos.
Anos antes de uma empresa petrolífera
se afirmar na trama como organismo “pelo povo, e para o povo” — tudo para
permitir a ascensão do vilão Max Lord — uma Mulher-Maravilha ainda criança
(espoleta à la Elizabeth Taylor dos filmes de Lassie) ganha uma lição de vida,
ao ser apresentada para o incalculável valor da promoção irrestrita da verdade.
É o aspecto decisivo na formação da menina que, futuramente, será escalada para
combater os personagens vilanescos dos ótimos atores Pedro Pascal (o magnata
Max) e Kristen Wiig (a complexada Mulher-Leopardo).
Instrumentalizadas pelos inconfundíveis
acordes do compositor Hans Zimmer, as cenas de ação, quase imediatamente se
descolam do imaginário inicial avizinhado de Beto Carrero, Cirque du Soleil e
companhia. A gótica lenda da pata do macaco, que trata do custo das realizações
de sonhos pessoais, norteará grande parcela da trama do filme. Com viés que
bebe da caricatura típica das HQs, o roteiro abraça elementos da instabilidade
das armas nucleares, salientando ambição e bastidores presidenciais, tudo junto
com o relato de decaída da Mulher-Maravilha (Gal Gadot,
simplesmente resplandecente).
Sofrimento e colapso cercam os
personagens centrais do filme de Patty Jenkins, e, nisso, nem a protagonista
escapa. Entre as peripécias com bumerangues, o Laço da Verdade (será
inesquecível vê-la enlaçar uma bala disparada) e o jato indefectível, a
vitalidade de Diana Prince será ameaçada pelo destino do ressurgente namorado
interpretado por Chris Pine.
Uma das coisas que mais impressionam no
filme é a capacidade de a protagonista fazer frente ao consolidado retrato de
Super-Homem na telona. Na luta contra uma cooperativa chamada Ouro Negro, ela
se prova “descolada, especial, forte e sexy”, como confirma a colega Barbara,
que acaba por se tornar a Mulher-Leopardo. Derrubadas as potentes questões referentes
a assédio na trama, o espectador poderá optar pela torcida entre a loura e a
morena. Numa alegoria empolgante, com a armadura carnavalesca de uma ave, em
última instância, a Mulher-Maravilha duela contra a felina predadora alfa
composta pela atriz Kristen Wiig.
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