Autoridades científicas do Reino Unido já afirmam
que nova linhagem não deve afetar a eficácia das atuais vacinas
Por Folhapress
Nova cepa do coronavírus tem preocupado - Foto: Douglas Magno/AFP
A nova
variante do Sars-CoV-2, potencialmente mais transmissível que a versão atual,
detectada na Inglaterra e em diversos países da Europa e da Ásia, acaba de ser
identificada no Brasil.
A informação foi divulgada nesta quinta (31) pela Dasa, líder brasileira em
medicina diagnóstica, que fez a identificação. A empresa diz que já comunicou a
descoberta ao Instituto Adolfo Lutz e à Vigilância Sanitária.
Segundo o ECDC (European Centre for Disease Prevention and Control), estima-se
que nova linhagem tenha uma transmissibilidade até 70% superior ao que se tem
como parâmetros atualmente. Mas não há indícios de que ela seja mais letal.
As agências de saúde, especialistas e autoridades científicas do Reino Unido
afirmam, porém, que tal linhagem não deve afetar a eficácia das vacinas que
foram desenvolvidas contra a Covid-19.
Segundo a Dasa, o estudo que levou à detecção da variante no Brasil começou
logo após o Reino Unido ter anunciado a detecção da nova linhagem em 13 de
dezembro último.
A variante se caracteriza por apresentar grande número de mutações, oito delas
ocorrendo na proteína da espícula viral (spike).
Foram analisadas 400 amostras de RT-PCR de saliva, método que identifica três
alvos distintos e não apenas o gene S, da proteína spike, e dentre elas, duas
amostras apresentaram a linhagem B.1.1.7.
"A spike é a proteína que o vírus usa para se ligar à célula humana e,
portanto, alterações nela podem tornar o vírus mais infeccioso. Os cientistas
ingleses acreditam que seja essa a base de sua maior transmissibilidade",
explica o virologista da Dasa, José Eduardo Levi.
A confirmação da cepa em dois pacientes foi feita por meio de sequenciamento
genético realizado em parceria com o Instituto de Medicina Tropical da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IMT-FMUSP).
"O sequenciamento confirmou que a nova cepa do vírus chegou ao Brasil,
como estamos observando em outros países. Dado seu alto poder de transmissão
esse resultado reforça a importância da quarentena, e de manter o isolamento de
10 dias, especialmente para quem estiver vindo ou acabado de chegar da
Europa", diz Ester Sabino, pesquisadora do IMT-FMUSP.
Mutações em vírus são normais. Por isso, já eram esperadas alterações no RNA
(material genético) do Sars-CoV-2. Hoje, no Reino Unido, a nova linhagem
B.1.1.7 já representa mais de 50% dos novos casos diagnosticados, de acordo com
a OMS (Organização Mundial da Saúde).
"A prevenção ainda é o método mais eficaz para barrar a propagação do vírus: lavar as mãos, intensificar o distanciamento físico, usar máscaras e deixar os ambientes sempre ventilados. Apesar das festas de fim de ano e das férias que se aproximam, é imperativo reforçar os cuidados", diz o diretor médico da Dasa, Gustavo Campana.
Além do sequenciamento, a Dasa está com outra pesquisa em andamento em parceria
com o Instituto de Medicina Tropical da USP. Trata-se do isolamento e cultivo
dessa nova linhagem do vírus em meio de cultura, no laboratório, para gerar
material que permita testar a eficiência dos testes de diagnósticos que só se
baseiam em proteína S com esta variante.
"Alguns testes de imunologia e de sorologia que só identificam a proteína
S podem apresentar resultados falso negativos nos diagnósticos dessa nova
variante. Estamos antecipando a avaliação para definir os exames que sofram
menos interferência em seu desempenho de diagnóstico, numa eventual expansão dessa
variante no Brasil", explica Campana.
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